A questão do poder dos trabalhadores está colocada na ordem do dia.

Os trabalhadores de todo o mundo e da América Latina em particular têm um grande motivo para comemorar: caiu Goni o governo fantoche do imperialismo norte-americano na Bolívia: um símbolo da entrega do país e da repressão selvagem aos trabalhadores e camponeses bolivianos. Era tão evidente a posição de agente imperialista de Sanchez de Lozada, que ele sequer sabia falar corretamente o espanhol e o fazia com o sotaque inglês adquirido em sua larga estadia nos EUA, daí ser chamado de “gringo”. Seu papel de lacaio do imperialismo ficou ainda mais explícito, quando em sua fuga de última hora voou diretamente para Miami e em seguida foi a Washington prestar contas a seus senhores do Norte sobre o ocorrido e segundo suas próprias palavras “alertá-los do perigo que correm na Bolívia”.

A insurreição boliviana ressaltou um momento no processo de ascenso latino-americano, em que as massas já não se contentam em votar ou em esperar passivamente que as coisas melhorem na próxima eleição. Elas rebelam-se contra o imperialismo e os governos que são agentes dele.

Na Bolívia, a gota d’água ou o que detonou o levante foi o roubo do gás pelas multinacionais, afinal se trata da 2ª reserva mundial. Mas o que está por trás do grau de radicalização da luta em defesa do gás, chegando a uma insurreição nacional contra o governo Goni, é a exaustão de todo o povo com a entrega do país, com a política de erradicação da coca a mando dos EUA, com a tentativa de privatização da água e a miséria cada vez maior a que vem sendo submetida a população.
A disposição de luta das massas bolivianas enfrentou a repressão selvagem do governo, mais de 80 mortos e acabou por expulsá-lo.

A classe operária no centro e a volta do duplo poder

Uma das características centrais da revolução boliviana foi o papel de vanguarda, protagonista, da classe operária. Ela se colocou à cabeça da nação, sendo porta voz e líder dos indígenas, do campesinato pobre e outras camadas exploradas.
Os meios de comunicação da burguesia em todo o mundo, martelaram na tecla de que a insurreição havia sido um movimento indígena. Essa, porém, é só uma parte da verdade. Sem dúvida, a questão nacional tem um peso enorme na Bolívia, já que as diferentes nacionalidades indígenas somam quase 80% da população e a maioria esmagadora dos operários e camponeses são indígenas e a opressão sobre elas é brutal e remonta séculos. Porém, quando os meios de comunicação falam apenas do movimento indígena, tentam ocultar o caráter profundamente proletário da insurreição e a própria tradição que a classe operária e seus métodos de luta têm no país.

A classe operária voltou ao centro da cena e voltaram também com toda força os organismos que expressam o duplo poder na Bolívia, começando pela COB. A organização barrial, em particular na cidade de El Alto, vizinha a La Paz, também jogou um papel importantíssimo para o triunfo da insurreição, com comitês de autodefesa e com a marcha sobre La Paz.

Mas se essa foi uma primeira e grande vitória, a dinâmica da revolução boliviana exige que se siga avançando até o poder dos trabalhadores. A contradição reside em que se não se prossegue, a revolução pode se atolar e permitir a recomposição da burguesia e do imperialismo. Estes podem, usando as armas da democracia burguesa, recompor seu Estado e o regime. A disjuntiva Revolução ou Colônia está colocada como perspectiva para os ativistas latino-americanos, mas de forma imediata para a vanguarda e as organizações de massas na Bolívia.

Post author José Weilmovick,
da revista Marxismo Vivo
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