Mobilizações no Egito são duramente reprimidas pelo governo provisório.Há poucos dias, no marco de uma massiva mobilização contra a Junta Militar que assumiu o poder após a derrubada do ditador Mubarak, milhares de trabalhadores e jovens egípcios se dirigiram até à embaixada de Israel nesse país. Estando lá, cercaram-na, derrubaram com martelos comuns um dos muros de 2,5 metros, chegando umas dezenas de manifestantes a entrar no prédio diplomático. Nesta ação, cujas imagens percorreram o mundo, morreram três pessoas, outras mil ficaram feridas e houve mais de 400 detidos.

A radicalidade do protesto foi tão grande que o embaixador israelense, Yitzak Lebanon, se viu obrigado a fugir do país com o resto do pessoal da embaixada e suas famílias. Esta luta é altamente progressiva e faz parte das massivas mobilizações que voltam à cena na emblemática Praça Tahrir, onde as massas questionam com cada vez mais força a Junta Militar, exigindo-lhe rapidez na realização das aspirações democráticas do povo que derrubou a ditadura de Hosni Mubarak e firmeza nos julgamentos contra o ex-ditador e demais representantes do governo deposto.

A revolução egípcia continua
Esta dinâmica de lutas demonstra de forma contundente que o processo revolucionário egípcio continua aberto, como parte da revolução árabe de conjunto, sendo impulsionada pela tremenda conquista democrática do povo líbio contra a ditadura de Kadafi. O povo egípcio expressa, além disso, seu legítimo ódio pelo Estado nazi-sionista de Israel que, desde 1948, efetua de forma criminosa uma usurpação e um genocídio contra o povo palestino, ao mesmo tempo em que ataca todos os povos árabes, incluindo o Egito, pela mão dos EUA. Este ódio se acentuou com o assassinato de polícias egípcios na fronteira com Israel, em represália a umas ações anteriores de grupos que partiram do Egito e atacaram patrulhas e ônibus israelenses.

As massas egípcias não esquecem que foi a ditadura de Mubarak que assinou, em 1979, os acordos de paz com Israel, pactos que o atual governo militar provisório, encabeçado pelo marechal Mohamed Husein Tantaui, se recusa a anular. Ademais, o governo provisório egípcio rapidamente se assegurou de que o acordo continuará intacto. A questão é simples: o governo pós-Mubarak é tão pró-imperialista e tão pró-sionista como o anterior. Uma ruptura com Israel implicaria, automaticamente, uma ruptura com os EUA, que anualmente subvencionam as forças armadas egípcias com mais de 1,5 bilhões de dólares, além de formar os militares e lhes fornecer material. Isto converte o exército egípcio na força estrangeira mais bem paga e equipada pelo principal amo imperialista, depois da israelense. Não é casual, então, a desconfiança para com este governo e que as massas, durante as manifestações, marchem gritando “o povo quer a queda do marechal”, em alusão a Tantaui.

Um governo servil ao imperialismo
Durante e depois da manifestação contra a embaixada sionista, os líderes das principais potências se apressaram a condenar os acontecimentos. O presidente dos EUA, Barack Obama, expressou sua “preocupação” e incitou o governo do Egito a garantir a segurança da embaixada israelense. Líderes da União Europeia se pronunciaram no mesmo sentido. O primeiro ministro israelense, Benjamín Netanyahu, qualificou os acontecimentos de “muito graves” e de “violação total das normas internacionais”, dizendo que foi um “incidente sério que poderia ter sido pior se os agitadores tivessem conseguido atravessar a última porta e ferir a nossa gente”. De fato, enquanto os manifestantes furiosos golpeavam seus martelos contra o muro da sede diplomática, o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, emitiu um comunicado anunciando que tinha pedido aos Estados Unidos ajuda para proteger a Embaixada.

No mesmo sentido destes líderes imperialistas, as Forças Armadas da Junta Militar egípcia, em atitude servil, reprimiram com tudo a manifestação antissionista. Com gás lacrimogêneo e balas de fogo enfrentaram as massas, tentando despejá-las, ação que lhes foi muito difícil, pois os manifestantes estavam envolvidos na demolição do muro, queimando carros e até ameaçando atacar uma delegacia próxima.

As massas colocam em crise o principal agente do imperialismo
A verdade é que, fundamentalmente por causa da revolução árabe, Israel não passa por seus melhores momentos. Os sionistas têm crises nas suas relações com a Turquia, onde as relações bilaterais foram reduzidas ao mínimo, por causa do bloqueio de Gaza e do ataque israelense à chamada Flotilha da Liberdade, composta majoritariamente por barcos de origem turca, que levavam ajudar humanitária para Gaza no ano passado. O Egito, histórico aliado sujo e um dos países árabes com que Israel mantêm um tratado de paz (juntamente com a Jordânia), passa por um processo revolucionário em que as massas não ocultam sua simpatia pela causa palestina e seu ódio pelos sionistas, com mais razão provavelmente pelo recente incidente fronteiriço no qual morreram cinco polícias egípcios. Inclusive até na ONU se discute se nas próximas semanas se reconhecerá o Estado palestino, o que, mesmo com o que de limitado e enganoso esse reconhecimento possa ter, seria um acontecimento que acentuaria o relativo isolamento de Israel.

As massas árabes estão dando uma lição a todos os povos do mundo, estão mostrando o caminho para a libertação dos explorados e oprimidos do jugo imperialista. A força do processo é tal que estão questionando não só o imperialismo, seus agentes diretos e as ditaduras monárquicas da região, como também o próprio agente dos EUA naquele ponto do planeta: o Estado nazi-sionista de Israel.

Tradução: Renata Cambra

FONTE: www.litci.org