Atuação como relator da Comissão Especial que discute o novo Código Florestal traz à tona a política do governo Lula para assuntos que envolvem recursos naturais vitaisA humanidade segue acelerada sem seu movimento a caminho de um holocausto e os governos dos países nada fazem para mudar esse rumo. O do Brasil menos ainda. O quadro do consumo dos elementos da matriz energética atual caracteriza o nível do descaso desses governantes com esse problema global dos mais avisados por organizações envolvidas e comprometidas com a preservação da espécie humana no planeta Terra.

Os Estados Unidos da América consumiram em energia 107 quatrilhões de Btu em 2008. Deste total, o petróleo bruto participou com 37%, o equivalente a 40 quatrilhões de Btu. A parcela de participação do gás natural foi de 24%, 26 quatrilhões de Btu. E a parte do carvão foi de 23%, 25 quatrilhões de Btu. A contribuição total das fontes fósseis foi de 85%, 91 quatrilhões de Btu. O poder nuclear contribuiu com 9%, o que equivale a 9,0 quatrilhões de Btu. E as chamadas energias renováveis forneceram 7%, 7,0 quatrilhões de Btu.

Dos 7% das denominadas energias renováveis, a biomassa representa 3,71% e a hidroeletricidade, 2,38%. A energia eólica, geotermal e solar correspondem 0,49%, 0,35% e 0,07%, respectivamente.

O Brasil consumiu em energia o correspondente a 9,64 quatrilhões de Btu em 2006, apenas 9% do que gastaram os Estados Unidos da América. O petróleo bruto participou com 49%, o equivalente a 4,73 quatrilhões de Btu. A parcela de participação do gás natural foi de 7%, 0,67 quatrilhões de Btu. E a parte do carvão 5%, 0,48 quatrilhões de Btu. A contribuição total das fontes fósseis foi de 61%, 5,88 quatrilhões de Btu. O poder nuclear contribuiu com 2%, o que equivale a 0,19 quatrilhões de Btu. E as chamadas energias renováveis forneceram 37%, 3,57 quatrilhões de Btu. Dos 37% das ditas energias renováveis, a hidroeletricidade representa 36%, 3.47 quatrilhões de Btu. No Brasil, as usinas hidroelétricas poluíram e mataram o Rio São Francisco. Partem agora para fazer o mesmo com o Rio Amazonas.

As quatro menores regiões consumidoras de energia – Eurásia (10%), América Central e do Sul (5%), Oriente Médio (5%) e África (3%) -, que complementavam o total de 469 quatrilhões de BTU da matriz energética consumida no mundo em 2006 com 108 quatrilhões de BTU (23%), são não membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Elas detêm as maiores reservas do mundo de fontes de energia e nelas estão os quatro países – Brasil, Rússia, Índia e China – que devem cumprir papéis estratégicos relevantes no desenvolvimento do projeto de colonização imperialista.

E o governo Lula, do qual o PCdoB é aliado, está completamente subordinado aos interesses financeiros do capital internacional.

Leia o depoimento do diretor de uma das maiores Big Oil do mundo: “É um testemunho de relacionamentos fortes e valores compartilhados – uma verdadeira parceria entre o povo e o governo do Brasil e da Shell.” – disse Marvin Odum, diretor da Royal Dutch Shell.

Infelizmente, a luta em defesa do futuro do planeta e da preservação da espécie humana nele não conta hoje com a totalidade das lideranças dos movimentos sociais e sindicais do Brasil, porque a imensa maioria deles defende os mesmos objetivos do governo Lula e do PCdoB.

Além de mais esse descaso, a intensa propaganda midiática mentirosa, paga com dinheiro público, facilita a entrega dos recursos naturais do Brasil às multinacionais petroleiras dos países imperialistas.

Por conta dessa conjuntura, é através do governo Lula que chega agora ao Brasil a forma mais assaltante de privatização do capitalismo imperialista que é a que abrange a entrega dos recursos naturais dos povos de um dos países dos mais oprimidos: petróleo e gás natural, água doce e extensas terras para plantio do agronegócio em todos os recantos do território nacional.

Água doce e de qualidade é vital à existência humana. Por isso, a crise da água doce será pior do que a crise do petróleo e do gás natural para a imensa maioria da humanidade.

No entanto, o governo de Lula e do PCdoB facilita a privatização da água doce do Pós-Jurássico da bacia hidrográfica da floresta amazônica. Da mesma forma que a Agência Nacional de Águas (ANA), do governo de Lula e do PCdoB, vai fazer com a água doce do Aquífero Pós-Jurássico do Amazonas, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já fez com o Pré-Sal do litoral do Brasil, entrega quase que completa.

Vejamos, então, o que está em jogo e o porquê do desespero do deputado Aldo Rebelo, do PCdoB:

  • A formação geológica chamada de Alter do Chão – sequência continental eo e neocretácica (Paulo Roberto da Cruz Cunha et al), depositada num ambiente fluvial lacustre durante as idades aptiana até a maastrichtiana, situada no Grupo litoestratigráfico denominado de Javari – tem espessura máxima de 1.250 metros.
  • Logo abaixo do pacote sedimentar Alter do Chão é encontrada a formação geológica de nome Andirá que é também uma camada sedimentar pré-cretácea (Paulo Roberto da Cruz Cunha et al) de espessura máxima de 700 metros pertencente ao Grupo Tapajós, depositada em mesmo ambiente da formação Alter do Chão, durante o permiano.
  • A formação geológica designada de Botucatu – sequência gondwana III que foi depositada acima da discordância neojurássica é constituída de arenitos eólicos e são selados por rochas magmáticas vulcânicas eocretácicas (Edson José Milani et al) com espessura máxima de 1.700 metros – tem espessura máxima de 450 metros. O Botucatu (Pós-Neojurássico) é o reservatório do Aquífero Guarani.
  • É, de fato, um Aquífero maior do que o Aquífero Guarani cuja espessura é quase três vezes menor do que o Aquífero Alter do Chão. Significa que o Aquífero Alter do Chão contém água doce suficiente para abastecer, no mínimo, mais de 1,0 bilhão de pessoas em uma base sustentável; ou seja, sem o desmatamento da floresta, sem a degradação do reservatório e sem a poluição dos rios conectados hidrogeologicamente com o Aquífero.

    O aquífero Alter do Chão mantém conexão hidrogeológica com enormes rios amazônicos de grande potencial hidroelétrico. A construção de usinas hidroelétricas nesses rios irá poluir, além dos rios, o Aquífero Alter do Chão como, por exemplo, ocorre ao longo do Rio São Francisco.

    Dalton Francisco dos Santos, de Piranhas (AL), é geólogo da Petrobras e do ILAESE (Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos)

    Publicado originalmente no blog do Ação Eco Socialista