Aumento recorde está relacionado ao esgotamento das reservas e à especulação financeiraNos últimos dias, o preço do petróleo disparou, chegando a atingir cifras recordes de quase US$ 55 o barril na bolsa Mercantil de Nova York (Nymex) e na Bolsa Internacional do Petróleo (IPE) em Londres.

A maioria dos economistas liberais omite as verdadeiras causas do aumento dos preços do petróleo, argumentando que a alta seria conjuntural, o motivo seria a greve dos petroleiros na Nigéria e as tempestades que atingiram a região do Caribe e o México reduzindo sua capacidade de exploração.

No entanto, estas explicações ficam na superfície do problema. A alta do preço do petróleo beneficiará fundamentalmente a quatro empresas que controlam os preços mundiais, aumentando desta forma os seus já estrondosos lucros.

Petróleo está chegando ao fim

De acordo com um certo número de respeitáveis geólogos, a disparada dos preços do petróleo pode ter relação com o fato de a exploração ter atingido seu pico máximo, chamado pelos cientistas de pico Hubbert.

Como se sabe o petróleo é um recurso não-renovável. De acordo com os cientistas, o pico Hubbert seria o momento em que a produção de petróleo atingiria o seu ponto máximo, ou seja, é o ponto em que a metade do petróleo existente no mundo já teria sido extraída. Após o pico, a produção de petróleo cairia inexoravelmente até o esgotamento do recurso e o preço do petróleo dispararia.

Muitos geólogos afirmam que até 2010 se atingirá o auge da produção mundial. Mas isso se dá de forma desigual pelo mundo. Em algumas regiões petrolíferas o pico já pode estar acontecendo, em outros ele ainda está por vir.

Ao mesmo tempo, o consumo de petróleo vem aumentando. Entre 2002 e 2004 o consumo diário aumentou em 3,6 milhões de barris diários, impulsionado principalmente pelos EUA e pela China. A Agencia Internacional de Petróleo estima que o consumo continuará crescendo 1,9% ao ano, passando dos 82 milhões de barris diários atuais a 120 milhões em 2025. O que significa 50% a mais. Some-se a isso o fato de que há anos não se registram maiores descobertas de reservas petrolíferas e que muitas empresas petrolíferas jogaram para cima os números sobre suas reservas para faturarem no cassino da especulação financeira.

Quando os EUA ocuparam o Iraque (segunda maior reserva do mundo) planejavam promover uma verdadeira rapina do país. No entanto, a fantástica resistência do povo iraquiano contra as tropas norte-americanas impede o saque das multinacionais.

Quem manda são os monopólios

No setor petrolífero, as formações dos preços mundiais também são determinadas pela ação dos grandes monopólios, que controlam a produção o transporte e o consumo nos grandes centros, que são os países imperialistas. Das antigas sete irmãs, restaram hoje apenas quatro empresas que comandam o negócio do petróleo em nível mundial. Todas falam inglês. A britânica British Petroleum, as norte-americanas Exxon-Mobil, Chevron Texaco e a anglo-holandesa, Shell, que mantêm acordos para fixar os preços.

Nos anos 1970, os países produtores organizados na Opep suspenderam o fornecimento do petróleo durante a guerra entre Israel e os governos do Egito e da Síria (guerra do Yom Kippur) causando a elevação dos preços.

Mas com o controle da produção e dos centros consumidores na mão de quatros empresas, todo o poder de barganha da Opep foi retirado. O preço final do petróleo é determinado pela especulação financeira perpetrada pelas multinacionais petrolíferas que obtêm lucros exorbitantes com a valorização de suas ações no mercado financeiro.

Assim, qualquer fato político, ainda que não afete a produção mundial, serve como desculpa para a elevação dos preços, pois o estoque e o refino do petróleo e o seu transporte dependem da decisão das quatro gigantes.

O desenvolvimento tecnológico adquirido na prospecção, extração e transporte resultou em um boom na produtividade mundial e levou o preço do petróleo para baixo em meados dos anos 1990. Dessa forma, esses monopólios adquiriram importantes estoques de reservas estratégicas.

Assim, as empresas petrolíferas não somente lucram com o aumento do preço do barril, senão que o preço de suas ações nas bolsas tendem a crescer de forma vertiginosa.

Aumento só beneficia EUA

Não é à toa que este aumento vem nas vésperas das eleições nos Estados Unidos em meio a uma indefinição do seu resultado. Já são por demais conhecidas as relações da família Bush e do governo norte-americano com as empresas do setor. Para que não haja dúvidas, o vice-presidente Dick Cheney é executivo da petroleira Halliburton, e a secretaria de segurança nacional, Condoleezza Rice (ex-executiva da Chevron Texaco), tem até um petroleiro com seu nome.

O aumento do preço atua como uma alavanca nos lucros dessas empresas, pois quanto mais subirem os preços, mais alto será o preço dos contratos futuros de petróleo, ou seja, o preço do petróleo daqui a dois ou três anos. É a farra do boi do setor financeiro, que empresta o dinheiro para a pura especulação, às custas dos países que dependem da importação.

Reajuste no Brasil

Uma prova da especulação do preço do petróleo é o aumento no Brasil. O Brasil produz 90% do petróleo que consome, assim nada explica por que o furacão no Caribe elevaria os preços no Brasil.

Acontece que como a Petrobras cotiza agora na Bolsa de Nova York, os preços no Brasil devem seguir os preços mundiais, na medida em que o lucro da Petrobras deve seguir o aumento dos lucros das empresas americanas, ou, então, as ações da Petrobras sofreriam desvalorização no mercado mundial.

Por isso, o aumento da gasolina anunciado pela Petrobras de 4% é apenas o primeiro de muitos que virão depois do segundo turno das eleições. O próprio ministro da fazenda, Antonio Palocci, já admitiu isso, dizendo que haverá um novo reajuste. De acordo com alguns analistas, o reajuste pode alcançar até 15%. O aumento dos combustíveis é mais uma das medidas do pacote contra os trabalhadores que o governo Lula prepara para depois das eleições. Pois, como já denunciamos neste jornal, para este governo não interessa que aumente o preço do gás de cozinha, ele está preocupado em aumentar o lucro dos acionistas da Petrobras.
Post author Jeferson Choma, da redação
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