Saiba quem realmente ganha com a auto-suficiência do petróleo brasileiroA auto-suficiência do país na produção de petróleo vai ser um dos temas em debate em 2006. O governo Lula vai tentar capitalizar o feito eleitoralmente, como mais uma demonstração da “soberania” do país. No entanto, a gestão privatizante do governo limita e condena a auto-suficiência

Em 2006, o Brasil deverá atingir a auto-suficiência na produção de petróleo. A Petrobras tem como meta alcançar uma produção média diária de 1,910 milhão de barris de petróleo no país, um volume superior ao consumo brasileiro.

É inegável, por um lado, que a auto-suficiência de petróleo seja um grande avanço, conquistado, sobretudo, pelo massivo investimento estatal em tecnologia de prospecção marítima, realizada nas últimas décadas.

A auto-suficiência coloca por terra o velho discurso do neoliberalismo que repetiu à exaustão o mito da “ineficiência” das empresas estatais. Hoje a Petrobras lidera a exploração de petróleo em águas profundas. Desde dos anos 80, a Companhia vem realizando estudos para viabilizar a produção de petróleo em profundidades. Entre mil e 2 mil metros estão 23% das reservas brasileiras, e se prevê que 50% delas se localizem em águas ultraprofundas. Graças ao investimento estatal em tecnologia, a produção de petróleo cresceu 140% na última década, saltando de 700 mil barris ao dia para a auto-suficiência.

No entanto, o caráter estatal da empresa está sendo claramente questionado por um acelerado processo de privatização em curso. Embora não tenha sido privatizada como muitas estatais latino-americanas, ao longo dos anos 90 abriu seu capital para acionistas estrangeiros e atua conforme os interesses das multinacionais.

Isso tem sérias conseqüências sobre a própria vitória da auto-suficiência. As reservas de petróleo brasileiras, estimadas em 20 bilhões de barris, poderiam durar cerca de 18 anos. Com a auto-suficiência, o país estaria livre por anos das importações de petróleo e ainda poderia vender combustível mais barato à população.
Contudo, essas não são as intenções do governo do PT. Pelo critério privatizante da direção da Petrobras, no figurino neoliberal seguido por Lula, nada disso vai ocorrer.

Em vez de priorizar as necessidades do país, produzindo para o consumo interno e preservando as reservas, o governo cede às pressões do imperialismo, priorizando as exportações para os países ricos, o que significa, em médio prazo, o fim da auto-suficiência com o esgotamento das reservas.

Por outro lado, a auto-suficiência não vai ser sentida no bolso pelos trabalhadores, como poderia ocorrer, com a redução do preço dos combustíveis, que será mantido nos mesmos níveis do mercado mundial. Ou seja, a maneira como Lula atua em relação ao petróleo atenta diretamente contra os interesses e a soberania nacional.

O pior de tudo isso é que tal política entreguista é adotada às portas de uma crise energética internacional.

O ouro negro está se acabando?
Como se sabe, o petróleo é um recurso não renovável. Quer dizer, algum dia vai se esgotar. Geólogos e especialista debatem sobre quanto tempo o petróleo ainda vai durar e quantas reservas ainda restam no planeta. Há uma corrente de técnicos, comandada pela Agência Internacional de Energia, que tenta convencer o mundo de que o petróleo existe em abundância e que a sua duração é superior a cem anos. Uma outra corrente, formada por especialistas isentos e mais realistas, diz que a produção mundial de petróleo atingirá seu pico por volta de 2015, a partir daí a produção cairia inevitavelmente, o preço do barril dispararia e o petróleo poderia se esgotar por volta de 2040.

Enquanto o mundo bate em marcha acelerada para o esgotamento, o consumo mundial do petróleo vem crescendo em média 2% ao ano. Hoje a produção mundial de petróleo gira em torno de 80 milhões de barris por dia enquanto a sua demanda já atinge cerca de 79 milhões diários. Os maiores consumidores são os países imperialistas, que no seu conjunto consomem 54% do petróleo, embora produzam apenas 5,7% do total.

EUA:sangue por petróleo
Em um pronunciamento ao Congresso norte-americano, Bush deu uma de suas declarações mais inusitadas, dizendo que os EUA são “viciados em petróleo”. Em meio a tantas mentiras, a declaração do ex-empresário petrolífero não deixa de ser uma verdade.
Os EUA são o maior consumidor de petróleo do mundo. Consomem 25% do ouro negro.

Hoje o país está prestes a enfrentar uma crise energética. Suas reservas já atingiram o pico máximo de produtividade nos anos 70. Especialistas afirmam que o esgotamento das reservas norte-americanas está num horizonte muito próximo, por isso o imperialismo promove mundo afora uma política de pilhagem combinando guerras, privatizações em livre comércio. O desespero dos EUA pela busca por petróleo expressa-se de maneira dramática na brutalidade da guerra colonial no Iraque (país com a segunda maior reserva de petróleo do mundo) e na sustentação das ditaduras pró-imperialistas no Oriente Médio.

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