“O governo deve continuar priorizando o pagamento dos juros da dívida externa e interna, em vez de investir na melhoria das condições de vida e trabalho do povo brasileiro?”. Esta é uma das quatro perguntas que estarão nas cédulas do plebiscito da Vale, a ser realizado em setembro. Neste artigo, vamos mostrar como o país ainda continua preso às amarras das dívidas. Ao contrário do que diz Lula, a relação entre Brasil e FMI segue sendo de total submissão.

Dívidas e caos social
No ano passado, o Brasil sofreu uma sangria nunca vista. O governo gastou com juros e amortizações das dívidas interna e externa nada menos que R$ 275 bilhões, ou seja, 36,7% do orçamento de 2006 (dados da Auditoria Cidadã). Isso significa que, em um ano, pagou mais que os R$ 197,4 bilhões do primeiro mandato de FHC, e também mais que os R$ 268,3 bilhões do segundo mandato tucano.

Isso demonstra a continuidade e o aprofundamento dos planos econômicos dos governos do PT e do PSDB-PFL. Essa montanha de dinheiro paga aos banqueiros é retirada dos orçamentos da saúde, educação e reforma agrária. Quando vemos os hospitais públicos sucateados por falta de investimentos, estamos falando da dívida. Quando vemos escolas públicas em frangalhos, estamos vendo uma das conseqüências da dívida.

Esse valor foi muito superior a todos os gastos do ano da Previdência Social (R$ 193 bilhões), saúde (R$ 36 bilhões), reforma agrária (R$ 3 bilhões) e educação (R$ 17 bilhões). Nos primeiros seis meses de 2007, o setor público pagou R$ 78,854 bilhões de juros de suas dívidas, uma média de R$ 435 milhões por dia. Os números são espantosos. Em meio à crise aérea, os gastos em uma semana em pagamento de juros superam o valor dos investimentos previstos para o sistema de aeroportos do país em quatro anos (estimado em R$ 3 bilhões).

Desemprego e arrocho
O direcionamento da economia para pagar as dívidas também impõe o arrocho salarial e o desemprego à população.

São cortados os investimentos que poderiam gerar empregos e ajudar a resolver os graves problemas sociais do país. Qualquer maior investimento que possa ser uma alavanca para o crescimento do emprego é impossibilitado pelo pagamento das dívidas. Anunciado pelo governo como a grande alavanca para o crescimento do país, o PAC vai significar um investimento real de R$ 55 bilhões, sendo apenas um remendo muito aquém do necessário para o país.

Para garantir o pagamento das dívidas, o governo impõe um plano econômico neoliberal que agravou o desemprego no país. Depois da aplicação desses planos, o desemprego saltou de uma taxa de 9,6% em 1986 para os atuais 20%.

Já os trabalhadores têm seus salários rebaixados em função da dívida e, por isso, continuam amargando um salário mínimo de fome. Cumprindo outra determinação do FMI, o governo acertou com centrais sindicais (CUT e Força Sindical) que o índice anual de reajuste nos próximos quatro anos do salário mínimo será baseado na inflação mais a variação do PIB de dois anos atrás. Ou seja, dadas as projeções para o crescimento econômico brasileiro nos próximos anos, o mínimo será reajustado em apenas 3% ao ano. Com esse reajuste, serão necessários 50 anos para que o mínimo atinja R$ 1.510 – o “salário mínimo necessário” calculado pelo Dieese capaz de atender às necessidades vitais básicas dos trabalhadores. Repetindo a velha desculpa dos governos anteriores, Lula diz que não pode aumentar o mínimo porque o governo não tem dinheiro para pagar os aposentados. Para isso, repete a velha mentira de que as despesas da Previdência são maiores que as receitas.

O funcionalismo federal, por sua vez, também é arrochado para cortar os gastos do governo e ampliar os superávits primários – economia realizada para pagar esses juros da dívida. Agora, com o PAC, os servidores vão amargar um congelamento salarial por dez anos.

Quem ganha com essa política? Os banqueiros. Sob o governo Lula, eles bateram recordes de lucros. Em 2005, faturaram R$ 33,8 bilhões e, em 2006, R$ 42 bilhões, mais que todos os recursos gastos no mesmo período com saúde e reforma agrária pelo governo federal.

Uma lógica infernal
Em 1964, a dívida externa somava US$ 3 bilhões de dólares. Hoje ela ultrapassa os US$ 200 bilhões e a dívida interna soma pouco mais de R$ 1,2 trilhão. É como se cada brasileiro estivesse devendo cerca de R$ 7.800 do total. Uma dívida que não é dos trabalhadores. Segundo levantamento da campanha Auditoria Cidadã da Dívida, nas últimas décadas o país pagou seis vezes o valor da dívida, e mesmo assim ela se multiplicou por mais de 20 vezes.

O extraordinário crescimento das dívidas comprova que o país foi saqueado neste período e como os trabalhadores brasileiros foram roubados pelos banqueiros e governos corruptos das últimas décadas.

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