A lição mais importante da Revolução Russa é que, sem um partido como o que os Bolcheviques construí­ram, não teria existido o primeiro Estado operário da humanidade. O Partido Bolchevique foi o único que passou de fato na prova da história. Todos os outros processos revolucionários, derrotados em distintas fases, vão também comprovar essa lição, só que pela negativa.

O partido idealizado por Lênin nada mais era do que a conseqüência prática, no terreno da organização política, de seu programa revolucionário. Para lutar pelo poder, era necessário ter uma ferramenta que correspondesse a tarefa de tamanha envergadura.

É como um operário que vai montar um carro. Para isso, não serve uma britadeira. É preciso uma maquinaria especializada de acordo com o trabalho que se precisa fazer. Além disso, é necessário também ter formação profissional para saber operar essas máquinas. Assim é o partido do tipo bolchevique: uma ferramenta para aplicar um programa, que necessita de verdadeiros profissionais especializados no ofício da revolução. Essa foi a grande genialidade de Lênin e dos Bolcheviques. Viram que não podiam contar com um tipo de partido qualquer, que precisavam de um instrumento sólido, conspirativo e disciplinado, com nitidez de seus objetivos e profundamente ligado às massas.

Era um partido com um programa operário, de composição majoritariamente operária e para as lutas operárias. Os bolcheviques só decidiram tomar o poder quando conseguiram a maioria nos sovietes das duas mais importantes cidades operárias: São Petersburgo e Moscou.

Era um partido que se utilizava do método científico do materialismo histórico para estudar e fundamentar sua política e programa. Que elaborava sua política a partir do estudo da realidade, das experiências do movimento operário; que conhecia as leis da economia e as manobras e artimanhas do inimigo. Um partido conspirador, que soube se utilizar da legalidade, eleger deputados operários, atuar nos sindicatos sem perder sua estrutura clandestina e sua estratégia de destruição do Estado burguês.

Um partido de profissionais da revolução, com fronteiras claras: só entrava no partido e tinha direito a votar e ser votado quem cumpria os critérios militantes. Um partido que dependia única e exclusivamente das contribuições de seus militantes e apoiadores. Um partido internacionalista que sabia que era impossível destruir o capitalismo na arena nacional. Para isso, estiveram na origem da fundação da III Internacional Comunista em 1919.

O centralismo Democrático
O Partido Bolchevique tem uma história cheia de ricas polêmicas, lutas políticas entre seus membros, votações divididas, em que inclusive Lênin ficou várias vezes em minoria. Um partido profundamente vivo, temperado na luta de classes e que funcionava com a mais ampla democracia interna e a mais alta disciplina de ação para fora, no combate aos inimigos. Uma vez feitos os debates internos, leva-se para o movimento a posição da maioria, e o partido vai forte, unido, como um corpo só, para aplicar o que a maioria decidiu, como numa assembléia que vota uma greve e se aplica o que decide a maioria. Uma vez aplicada a política, faz-se balanço de quem estava certo. Para isso, existem os organismos regulares do partido e uma hierarquia dirigente, que vai do Comitê Central ao núcleo de base. Todos os mandatos são revogáveis e os profissionais pagos, inclusive os parlamentares, ganham o mesmo que um operário médio especializado. Isso nada tem a ver com os partidos comunistas burocráticos, em que a direção manda e a base obedece.
Mas para a propaganda imperialista, stalinismo é igual a bolchevismo e centralismo democrático é igual a centralismo burocrático.

Abandono
Nos anos 1990, parte significativa da esquerda se bandeou de malas e bagagens para o outro lado da trincheira, abandonando a estratégia de tomada do poder pelos trabalhadores, adotando o discurso da cidadania, da radicalização da democracia burguesa. Abandonaram a luta pelo poder, reduzindo sua estratégia política a uma tática eleitoral. Passam a almejar mais e mais cargos no parlamento e no Estado e se propõem a administrar o Estado burguês.

A expressão mais acabada desse processo é o PT. A esse tipo de estratégia corresponde outro tipo de partido que não é bolchevique. Para as eleições, basta um tipo de partido-frente, legal, frouxo, dirigido por parlamentares.
Os partidos-frentes de diversas tendências e sem centralização, sem fronteiras definidas e sem organismos regulares, em que para ser membro basta se filiar, se apresentam como um exemplo de democracia e uma alternativa ao “ultrapassado” centralismo democrático de Lênin. O PT e também o PSOL, embora um seja governo e o outro seja oposição de esquerda, se organizam sob esse modelo de partido.
Diferentemente da aparente democracia, o que ocorre na prática é o oposto. Quem, afinal, decide a posição do partido são os parlamentares. Eles têm acesso aos meios de comunicação e apresentam suas posições individuais, que são “as do partido”, sem que a base tenha podido debater e decidir. Os dirigentes não têm obrigação de se submeter a uma maioria na base e, desta forma, também não há nenhum controle da base sobre a direção. Os parlamentares não têm obrigação de aplicar as resoluções dos congressos. O congresso do PT, antes da eleição de Lula, decidiu pela ruptura com o FMI. Lula, no governo, manteve o acordo.

O sentimento antipartido, presente em tantos ativistas honestos, é uma negação aos partidos stalinistas burocráticos e é, também, a desconfiança em partidos como o PT. No entanto, caso não se consiga diferenciar as estratégias dos distintos partidos, essa negação se transforma em negação da revolução.

O que não pode faltar
É preciso organizar um partido revolucionário do tipo bolchevique. Foi o que faltou na Bolívia, na Argentina, no Equador e em tantas outras revoluções nas quais as massas fizeram tudo que podiam sozinhas, mas faltou o determinante, o decisivo, que nos ensinou a revolução Russa: o partido. Essa ferramenta não se improvisa. Não poderemos esperar chegar um processo revolucionário para construí-la, é preciso anos e anos de dedicação, formação, abnegação e de luta ligada às massas para estarmos prontos. É para isso que o PSTU se prepara. É para isso que existimos.

Mas quem é o partido?
(Bertold Brecht)

Mas quem é
o partido?
Ele fica sentado
em uma casa com telefones?
Seus pensamentos
são secretos,
suas decisões
desconhecidas?
Quem é ele?

Nós somos ele.
Você, eu, vocês —
nós todos.
Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça
Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta.

Post author Cilene Gadelha, da direção nacional do PSTU
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