Até a invasão, o movimento contra a guerra, mesmo de forma genérica e pacifista, era progressivo, sobretudo nos países imperialistas. Esse sentimento majoritário provocou a derrota de Aznar na Espanha. Mas mostrou seu limite no momento em que começa a guerra de liberação nacional.

Nesta guerra, é preciso tomar partido. No caso dos revolucionários, defendemos sem hesitar a justa aspiração dos iraquianos à sua liberdade. Mas, na Europa, especialmente depois das eleições fraudulentas de janeiro e do apoio da ONU a esse plano, a social-democracia e os reformistas de todo tipo aproveitaram para colocar obstáculos à mobilização contra a ocupação imperialista e contra o apoio à luta de libertação dos iraquianos. Diziam que era preciso tomar cuidado e não aderir a ninguém, levantando bandeiras do tipo “nem guerra, nem terrorismo”.

Volta da democracia?
Já a esquerda neo-reformista vem girando para uma posição de apoio a uma suposta “volta da democracia” no Iraque, com as eleições de janeiro, o que, para eles, representaria um passo na reconquista da soberania nacional. Além disso, afastam-se da resistência, argumentando que há aí fundamentalistas. Parte dessa argumentação é apresentada inclusive por setores que se reivindicam da “esquerda radical”, como Gilbert Achcar, do Secretariado Unificado da IV Internacional (SU), que chamou o apoio crítico às fraudulentas eleições no Iraque, em nome das “aspirações das massas xiitas em realizar eleições”, acusando de sectários os “setores sunitas” que as repudiavam. Na verdade, foi a ampla maioria da resistência que repudiou as eleições e, corretamente, chamou o boicote.

Deserções
Posições desse tipo fazem com que, realmente, um setor do movimento pacifista e da esquerda esteja, na prática, desertando da luta contra a ocupação, atraída pelo giro dos governos social-democratas e a participação da ONU na farsa eleitoral e na formação de um novo governo fantoche. Ou seja, apesar de falar de “paz” e “autodeterminação iraquiana”, esses setores não defendem, de fato, esse direito do povo iraquiano: eles estão sob a ocupação militar de uma potência imperialista e, portanto, a única forma de obter essa autodeterminação é a luta armada para derrotar e expulsar o invasor.

Fantoches
As eleições feitas em condições de ocupação militar (como foi no Vietnã, em 1967), só servem para legitimar a ocupação. Garantido por tropas armadas até os dentes, nenhum governo fantoche ou Parlamento eleito pode ter qualquer ilusão de autonomia real. Um dos principais representantes da aliança xiita vencedora, Mahdi, tranqüilizou os “inversores” dizendo que não será exigida a retirada das tropas invasoras e ainda assegurou que irão privatizar o petróleo.

Por outro lado, condicionar o apoio ou não à resistência a uma crítica aos métodos que alguns grupos empregam significa não entender que os grandes responsáveis pela violência diária (que já custou a vida de mais de 100 mil iraquianos) são os imperialismos norte-americano e inglês, seus cúmplices europeus e seus agentes iraquianos capachos. Se o apoio depende do caráter dos setores políticos que influem os grupos (se são religiosos fundamentalistas, ligados ao partido de Saddam etc.), isso é como dizer aos iraquianos que, para apoiar seu direito à soberania, exigimos que tenham uma direção que seja de nosso gosto.

Em resumo, ter como eixo a paz em abstrato, colocar-se no “meio” entre os assassinos imperialistas e a resistência que os combate para expulsá-los só serve para dar uma justificativa “de esquerda” à política do imperialismo, especialmente a sua ala “democrática”, os governos da “velha” Europa.

Todo apoio à resistência iraquiana
Apesar da redução do tamanho das marchas e da impossibilidade de uma grande jornada mundial a curto prazo, vemos que, mais do que nunca, o Iraque deve estar no centro da intervenção de todos os que se reivindicam antiimperialistas, anticapitalistas ou simplemente democráticos.

Os meios de comunicação estão começando a colocar as ações militares no Iraque nas páginas secundárias. Os abusos e torturas comprovados são esquecidos. Mas o imperialismo segue cometendo graves crimes no Iraque. É preciso denunciar Bush e sua política bonapartista e como seus capachos nesse país atuam contra o povo iraquiano de forma muito pior do que a ditadura de Saddam. É preciso exigir a liberdade dos mais de 10 mil presos políticos, o fim da ação dos mercenários pagos pelas multinacionais, castigar os crimes de guerra, como as torturas aos presos de Abu Ghraib e Guantánamo, em Cuba (onde estão os presos da guerra do Afeganistão).
Essa denúncia ajuda a desmascarar a farsa imperialista da “democracia” no Oriente Médio e a combater os reformistas que apoiaram as “iniciativas democráticas” do imperialismo, como as eleições iraquianas.

Na época do Vietnã, foi muito importante, na campanha de denúncias contra o imperialismo, a atividade do Tribunal Bertrand Russel sobre os crimes de guerra cometidos nesse país, com a participação de vários intelectuais e artistas. Podemos e devemos utilizar esse eixo, sobretudo nos países não diretamente envolvidos com tropas (onde a campanha atrai mais a vanguarda) e também para atrair aqueles que querem denunciar os abusos imperialistas, mesmo que tenham uma posição pacifista.
Junto com essas atividades unitárias, para a LIT-QI, apoiar incondicionalmente a resistência significa estar a seu lado na guerra de libertação nacional. Não condicionamos nosso apoio à orientação política de seus grupos. Ao mesmo tempo que manifestamos nosso apoio incondicional à resistência, podemos e devemos deixar claras nossas divergências com os grupos satélites da Al Qaeda, que fazem o jogo do imperialismo ao tentar dividir sunitas e xiitas sobre uma linha religiosa.

Há um espaço favorável para manter uma campanha mais radicalizada contra a ocupação. Apesar dos atos serem menores, há um setor de ativistas mais decididamente antiimperialista, não só “pacifista”, e compreende que é preciso apoiar a resistência contra o imperialismo para continuar a luta. É preciso dar clareza a esses ativistas sobre o caráter da guerra, sobre o sentido do apoio à resistência, assim como a denúncia das eleições fraudulentas e do governo fantoche que surgiu delas.

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (www.litci.org)
Publication Date