Evento é marcado por superfaturamento e repressãoDe frente, grandes obras e uma mega-publicidade agitam a cidade do Rio de Janeiro para a abertura dos Jogos Pan-Americanos. Por trás dos holofotes, obras superfaturadas privilegiam empreiteiras e um grande esquema de repressão cuida para que a grande maioria da população carioca fique sob controle.

Do ponto de vista esportivo, os jogos do Pan podem ser um evento com belos e empolgantes momentos do esporte. O problema é que o evento não está sendo uma simples celebração da busca do aperfeiçoamento humano. Ele tem sido utilizado de forma inescrupulosa pelos governos federal, estadual e municipal, junto com as grandes multinacionais patrocinadoras, para inaugurar um novo modelo de repressão contra a população pobre da cidade, inspirado na ocupação militar do Haiti pelas tropas brasileiras. Além disso, todas as obras do Pan estão cercadas por uma odiosa corrupção.

Superfaturamento
Os custos para a organização do Pan superaram em 684% o orçamento original elaborado em 2002. Só o governo de Sérgio Cabral gasta nas obras nada menos que 1.513% do que foi inicialmente orçado. O governo federal, por sua vez, gasta nas obras 11 vezes mais do que estava previsto, cerca de R$ 1,5 bilhão. No total, serão gastos no Pan algo em torno de R$ 3,7 bilhões, incluindo gastos em obras realizadas sem licitação.

As obras estão sendo investigadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e por uma CPI aberta na Câmara Municipal do Rio. No entanto, não são apenas as inúmeras irregularidades que chamam a atenção. Destaca-se também o vultoso orçamento destinado ao Pan em detrimento de uma política pública ampla e permanente de esporte. Basta verificar que todo o gasto público do Pan consome mais de quatro vezes o orçamento destinado ao Ministério dos Esportes.

De acordo com levantamento da revista Istoé Dinheiro, com tudo o que foi gasto na construção do estádio João Havelange, o “Engenhão”, principal obra do Pan, que consumiu R$ 166 milhões, seria possível construir 8,3 mil quadras esportivas em escolas de todo o país. Além de beneficiar as empreiteiras, os Jogos Pan-Americanos objetivam somente a autopromoção dos governos e a publicidade das grandes multinacionais patrocinadoras do evento.

Repressão
Apesar de todos esses aspectos que envolvem a realização do Pan, a principal medida que emerge é o aumento da repressão, tomando o evento internacional como pretexto. Serão gastos em segurança nada menos que R$ 560 milhões. O aparato repressivo colocado nas ruas do Rio conta, inclusive, com 300 arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A missão da Abin é rastrear e monitorar estrangeiros ligados a ONGs e mobilizações como as manifestações contra a OMC. A agência atua junto com a CIA e o FBI e qualquer tipo de manifestação pública é alvo da repressão.
Mas o elemento mais estarrecedor do aumento da repressão no Rio é a ocupação pela polícia das favelas e comunidades pobres. A fim de estabelecer “ordem” na cidade, a polícia invadiu e promoveu um banho de sangue e ocupou comunidades carentes (ver matéria acima).

O pretexto de garantir a segurança no Pan serve para inaugurar uma nova modalidade de repressão contra o povo pobre e os trabalhadores da cidade.
Post author
Publication Date