Enquanto se recordava o 11º aniversário dos ataques terroristas de 11 de setembro, uma série de protestos radicalizados explodiram no Oriente Médio e no Norte da África, enfrentando o poder imperialista.

O que detonou os protestos foi a exibição de um filme produzido nos EUA chamado “Inocência dos Muçulmanos”. O filme ridiculariza grotescamente a vida de Maomé – máximo profeta da religião muçulmana –, apresentando-o como um ser de escassa inteligência, pedófilo e ladrão. A intenção do vídeo é mostrar os muçulmanos como “imorais” e gratuitamente violentos. O filme, de péssima qualidade, foi produzido por Nakoula B. Nakoula, que, segundo a imprensa internacional, seria um cristão copta que reside na Califórnia.

Para além do aspecto religioso, existe nos povos árabes e muçulmanos, uma raiva acumulada contra toda a opressão imperialista, em particular, contra a ofensiva ideológica do imperialismo, reforçada após o 11 de setembro de 2001, que alardeia a ideia de que todos os árabes são terroristas.

Um barril de pólvora
Os protestos mais radicalizadas começaram no Egito, onde milhares de pessoas saíram na mítica Praça Tahrir e cercaram a embaixada norte-americana. A principal exigência foi a expulsão da embaixadora por parte do presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana.

Por outro lado, na península do Sinaí, onde o exército de Morsi leva a cabo um operativo repressivo contra o suposto terrorismo, bloqueando novamente a fronteira com Gaza, um grupo armado atacou o quartel da Força de Paz da ONU.
Na Líbia, em meio a uma grande manifestação, uma milícia armada atacou o consulado norte-americano na cidade de Bengazi. O ataque matou Christopher Stevens, embaixador norte-americano na Líbia, além de outros quatro funcionários do Consulado.
Protestos similares ocorreram em Teerã, capital do Irã, onde milhares de pessoas gritaram “Morte à América e a Israel!” em frente à embaixada suíça, que representa os EUA no país.

Em Bagdá e Básora, capital e segunda maior cidade do Iraque, respectivamente, também ocorreram mobilizações importantes. Na Tunísia, ao menos quatro pessoas morreram na capital e outras 49 ficaram feridas em meio a tentativas de invadir a embaixada dos EUA.

No Sudão, os manifestantes entraram na sede diplomática norte-americana e hastearam uma bandeira islâmica. Nesse mesmo país, milhares de pessoas também se manifestaram em frente às embaixadas do Reino Unido e Alemanha.

No Iêmen, grandes manifestações cercaram o edifício que responde por Washington na capital, Saná. Segundo informação, pelo menos quatro pessoas morreram e outras 15 ficaram feridas. No Afeganistão, também se realizou uma série de mobilizações com queima de bandeiras dos EUA. Ocorreram também fortes manifestações em Gaza, Paquistão, Indonésia e no Marrocos.

O governo Obama tomou distância do polêmico vídeo, mas advertiu que “nenhum ato terrorista ficará impune”.

Causas dos protestos
É evidente que essa impressionante onda de manifestações radicalizadas e simultâneas, todas direcionadas a um objetivo comum – as embaixadas e símbolos dos EUA – não se explica somente pela compreensível indignação que o repugnante filme provoca. Mas apontamos algumas questões que explicam a profundidade e o significado destes fatos.

O primeiro deles é que as mobilizações e protestos radicalizados não têm base apenas no elemento religioso como determinante. Isso pode ter sido o detonador das manifestações, mas a explicação fundamental da explosão de raiva popular só pode ser encontrada na exploração e na opressão que o imperialismo impõe historicamente à região.

O saque dos recursos da região é parte de uma histórica política colonialista das principais potências econômicas que, nos últimos anos se aprofundou com as ocupações militares no Afeganistão e Iraque, com o fim de rapinar as reservas de petróleo. Somam-se a isso, os efeitos catastróficos provocados pela crise mundial nas economias da região.

Tal sentimento de repúdio estende-se ao Estado nazi-sionista de Israel, um enclave militar-político do imperialismo em toda a região; um Estado genocida com uma história de décadas de agressões militares e de usurpação de territórios, especialmente do povo palestino.

Por outro lado, a onda de explosões anti-imperialistas ocorre no marco do processo revolucionário aberto na África do Norte e no Oriente Médio. Na Tunísia ou no Iêmen, onde o imperialismo e as direções burguesas do processo revolucionário deram passos importantes na estabilização política, a realidade, agora, mostra-se bem diferente desse objetivo.

Outra demonstração de que nem o imperialismo nem as burguesias árabes podem dormir tranquilas é o caso da Líbia. Neste país, que há um ano destruiu o regime de Kadafi, tanto o antigo CNT (Conselho Nacional de Transição) como o imperialismo conseguiram incorporar setores das milícias populares em seus planos de reconstruir o exército e o Estado burguês. Mas é um fato que existam ainda centenas de milícias populares armadas no país. Foi uma delas que protagonizou o ataque à embaixada norte-americana e matou o embaixador Stevens.

A onda expansiva de ataques às embaixadas norte-americanas tem deixado evidente o caráter intrinsecamente contrarrevolucionário das direções burguesas e pró-imperialistas que, devido à crise de direção do proletariado, dirigiram até agora os processos revolucionários contra as ditaduras na região. Todas essas direções, começando pela Irmandade Muçulmana, passando pelos governos de Líbia, Iêmen e Tunísia, se apressaram em pedir desculpas a seus amos imperialistas pelos ataques e manifestações.

As explosões populares são altamente progressivas, pois questionam instituições e símbolos da opressão e exploração colonialistas, capitaneadas pelos EUA. São produtos e, ao mesmo tempo, estimulam o processo revolucionário em toda região, ao contrariar a política do imperialismo ianque e de seu enclave militar, Israel. Toda a política atual de pacto do imperialismo com as direções políticas burguesas do mundo árabe tem como objetivo manter o essencial do saque infligido aos povos da região.
Nesse sentido, é necessário, no calor destas, construir uma direção política revolucionária e internacionalista que conduza a um programa consequentemente anti-imperialista e anticapitalista, isto é, socialista.

Desde o início, o processo revolucionário colocou o desafio central: aprofundar a luta das massas até a tomada do poder pela classe trabalhadora, conformando governos apoiados nas organizações operárias e populares, sem patrões, sem o imperialismo e seus agentes.

Post author Ronald León Núñez, do Portal da LIT-QI
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