Detalhe do pôster de divulgação
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Em cartaz nos cinemas de todo o planeta, 007 – Cassino Royale tem tudo para ser mais um sucesso encomendado. Encomendado no sentido de antecipado, previsto minuciosamente e executado com todos os cuidados para não perder essa grande chance. Chance sim, pois temos um novo ator para o papel do mais famoso agente secreto a serviço da Rainha: Daniel Craig (Munique).

Como não existem coincidências no mundo, o fato de Craig ser o primeiro agente de cabelos loiros não deve passar despercebido, assim como também não pode faltar uma menção ao corpanzil do ator. Ficamos com a certeza de que o atual 007 deve mais aos músculos que ao cérebro, bem ao estilo dos novos heróis recordes de bilheteria Jason Bourne (Matt Damon, em A Identidade Bourne) e dos filmes da série Triplo XXX. O modelo “antigo” de Bond astuto, em especial aquele celebrizado pelo ator Sean Connery, ao estilo Sherlock Holmes, caiu em desuso nessa era de mega-produções explosivas. Em outras palavras: esse é o primeiro Bond-Rambo.

Vale ressaltar que a marca 007 foi revitalizada para além da troca de ator principal. As grandes “novidades” são: 1) roteiro mais leve, com menos falas e, conseqüentemente, menos asneiras; 2) adição de um tema extra de fácil assimilação, o jogo de pôquer a que faz menção o título Cassino Royale e 3) uma pitada (forçada) de amor no coração de Bond, o incorrigível solteirão. Pronto! Basta mexer e misturar bem com cenas de virar a cabeça e está pronto para estourar as bilheterias.

Somadas a essas novidades, as marcas registradas estão todas lá: a abertura com Bond virando e atirando na tela; o tema musical da abertura interpretado por um(a) cantor(a) em grande evidência (Tina Turner, Sheryl Crow e, agora, Chris Cornell, da banda Audioslave); a famosa frase de introdução pessoal do agente “Bond, James Bond”; os arquiinimigos estereotipados, etc.

Assim, temos mais um exemplo claro de como funciona o processo de produção cultural de massa, unindo o “velho” James Bond aos novos enlatados de ação, em que o que vale são os efeitos especiais estonteantes. Muitos contestam a expressão “produção cultural”, alegando não ser característico do processo cultural produzir “muitas-unidades-à-venda”, uma vez que cultura representa a própria essência do saber-fazer de um grupo ou povo e, por isso, ela não poderia ser confinada – muito menos controlada – a (re)produzir em escalas comerciais.

O fato é que o processo existe – cultural ou não – e está aí para nos atormentar nas mais variadas “temporadas” regulares do calendário nacional de cinema dos EUA-Hollywood, tais como seus períodos de férias, o Natal e o Dia de Ação de Graças. Infelizmente, não se pode negar a força geradora de hábitos e ações sociais que filmes como esses trazem como apelo de massa. Mesmo que ele não seja cultura, no sentido de que não foi feito de maneira popular e livre, ele acaba por criar cultura na outra ponta, num procedimento em que a cobra vai, aos poucos, comendo o próprio rabo até, esgotado esse processo, ter de começar de outro ponto. Nós, brasileiros e telespectadores de novelas, conhecemos muito bem esse filme.

A questão que permanece está na viabilidade comercial de todo esse esquema, onde alguns (poucos) já falharam. Não parece ser o caso desse novo Bomb, James Bomb.