No dia 19 de junho, os metalúrgicos da General Motors de São José dos Campos (SP) tiveram uma grande vitória sobre a montadora norte-americana. Os metalúrgicos não aceitaram o banco de horas que a empresa queria impor e venceram uma batalha que dividiu por meses a cidade.

Alguém que tivesse estado fora do país nos últimos dez anos e chegasse agora ao Vale do Paraíba não entenderia muita coisa. Os trabalhadores tiveram que enfrentar a direção da empresa, a burguesia da cidade, a imprensa e a igreja. Mas enfrentaram também a CUT.

A central, ao lado da empresa, defendeu o banco de horas e acusou o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos de “radical” por não querer negociar direitos. Ao final, ficou provado que papel teve a CUT.

Na mesma cidade, os operários da construção civil de uma refinaria da Petrobras iniciaram uma forte luta por salários. Diante da falta de diálogo das empreiteiras, os operários declararam greve. A mobilização dos trabalhadores, porém, teve que enfrentar a direção do próprio sindicato, ligada à CUT. Desamparados, os operários pediram ajuda à Conlutas.

O que aconteceu em São José não é um fato isolado. É cada vez mais claro o papel da CUT hoje no movimento sindical. A central, que expressou a organização e a luta dos trabalhadores nos anos 80, passou a ser sinônimo de sindicalismo governista e chapa-branca.

Como surge a CUT
No final dos anos 70, depois de uma década sob a repressão da ditadura militar, o movimento operário voltou à política. Greves como a da Scania em 1978 iniciaram uma série de paralisações de metalúrgicos que agitou o ABC. Só naquele ano, 500 mil trabalhadores entraram em greve contra a inflação e o arrocho salarial. No ano seguinte, 3 milhões cruzaram os braços.

Com a onda de lutas e greves, os trabalhadores começaram a sentir a necessidade de uma organização política e sindical. Para isso o PT foi fundado, em 1980. No ano seguinte, ocorria a I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, primeira tentativa de avançar para uma organização unitária que reunisse os trabalhadores.
Houve, porém, uma ruptura nos meses seguintes. De um lado, PCB, PCdoB e os tradicionais pelegos. De outro, o movimento sindical combativo que surgia das greves e reunia setores da igreja, partidos de esquerda e grupos que vinham da clandestinidade. O que dividia esses dois lados era a concepção de sindicato. Enquanto um ainda defendia o sindicalismo getulista, dependente do Estado, o outro, que fundaria a CUT, queria um sindicalismo independente e classista.

A fundação da CUT ocorreu em 1983, em São Bernardo do Campo (SP). A principal contribuição da nova entidade foi o resgate do classismo, ou seja, do princípio da independência de classe dos trabalhadores.

Burocratização e morte
Durante anos, a CUT foi o pólo mais progressivo no movimento sindical brasileiro. Com o passar do tempo, porém, foi se burocratizando cada vez mais. O grupo que controla a central até hoje, a Articulação (PT), levou a entidade a abandonar qualquer independência. Os congressos tornaram-se cada vez mais antidemocráticos para impedir que a oposição conquistasse a direção da CUT e retomasse os princípios de sua fundação.

Foi isso o que permitiu que a CUT, nos anos 90, aceitasse as câmaras setoriais, o banco de horas e demais medidas que flexibilizam direitos. Com os recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), a central foi se adaptando à estrutura do Estado.
Esse processo deu um salto com a eleição de Lula em 2003. No mesmo ano em que o presidente tomou posse, a CUT apoiou a reforma da Previdência contra os servidores públicos. E encaminhou logo depois, no Fórum Nacional do Trabalho, uma reforma sindical e trabalhista ao lado do governo e do empresariado.

Era o fim da CUT como ferramenta de luta da classe trabalhadora. Era a consolidação da central como a conhecemos hoje.

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