Governo do PT no Pará comanda expulsão em massa de sem-terra. MST afirma que vai resistir à reintegraçãoO PT no governo aumenta cada vez mais a violência contra os movimentos sociais. No final de junho, a governadora Ana Júlia (PT), do Pará, autorizou uma mega-operação da Polícia Militar que desencadeou uma onda de repressão contra os sem-terra na região, por meio da reintegração de posse de várias fazendas ocupadas.
A chamada Operação Tocantins foi articulada pelo Comando de Missões Especiais da Polícia Militar do Pará para cumprir uma série de mandados de reintegração de posse nas regiões sul, sudeste e parte da região nordeste do estado. A força policial é uma tropa especial composta inclusive por atiradores de elite. Ao todo são 49 liminares de reintegração de posse que se arrastam há três anos na Justiça.

As liminares ainda não haviam sido cumpridas porque o governo anterior do PSDB, desgastado pelo massacre de Eldorado dos Carajás, preferiu evitar novos conflitos.

Mas agora o governo de Ana Júlia, eleito com apoio de vários movimentos sociais, autorizou a utilização da força policial para cumprir os mandados de retomada da posse das fazendas, expedidos pelo juiz da Vara Agrária de Marabá, Líbio Moura.

Desta forma o governo petista segue sua política de endurecer a repressão aos movimentos sociais. “O governo de Ana Júlia criminaliza os movimentos sociais, inclusive resgatou a polícia ostensiva, a Rotam, que é também uma polícia política para reprimir trabalhadores”, afirma Atenágoras Lopes, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém e da direção do PSTU. A Rotam (Rondas Ostensivas Tático-Metropolitanas) comandou uma brutal repressão à manifestação dos trabalhadores da construção civil no dia 23 de maio em Belém, com bombas de gás, spray pimenta e cacetetes.

O governo petista nem ao menos ofereceu transporte aos desocupados. As famílias, com crianças, ficam jogadas nas ruas. Como se não bastasse o governo ser comandado por uma petista, o PCdoB compõe o gabinete de Ana Júlia através da ex-deputada Socorro Gomes, secretária estadual de Assuntos Jurídicos.

MST vai resistir
A preparação da ação policial de despejo foi marcada por uma ampla campanha de terror na mídia. Jornais e tevês acompanharam minuciosamente a movimentação das tropas. Mas quando a operação começou o assunto foi deixado de lado, abrindo margem para a violenta repressão da PM.

Fortemente armados com metralhadoras, os policiais acompanham os oficiais de Justiça nas ações de reintegração para expulsar as famílias das fazendas. Estão sendo cumpridas as primeiras 12 liminares de reintegração. A maioria das áreas reintegradas é dirigida pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Pará (Fetagri), alinhada à CUT, que não oferece resistência.

Mas na ocupação da fazenda São Marcos, dirigida pelo MST e na lista das próximas reintegrações, os trabalhadores anunciaram que irão resistir até o fim. A área é simbólica para os sem-terra, já que o proprietário da fazenda é o mandante do assassinato de dois dirigentes do movimento. Onalício Barros (Fusquinha) e Valentim Serra (Doutor) foram assassinados em 1998. O fazendeiro foi denunciado pelo Ministério Público, mas permanece impune.

“A orientação do MST é resistir à reintegração”, afirma ao Opinião Ulisses Manaças, da direção estadual e nacional do MST. “Grande parte das terras que estão sendo reintegradas são griladas”, denuncia. O dirigente do movimento critica o governo petista, que impõe no campo a mesma violência dos tucanos.

Segundo Ulisses, o governo de Ana Júlia se dobrou aos grandes fazendeiros da região, que se mobilizaram nos dias 10 e 11 de junho em favor das reintegrações. A região é marcada pela violência dos governos no campo e pela ação das milícias armadas por latifundiários contra os trabalhadores. “Essa ação demonstra a prática repressiva do governo no campo, criminalizando os movimentos sociais como se estes fossem a causa do problema agrário”, denuncia o dirigente.

Mobilização
A previsão é que a reintegração da São Marcos ocorra até 20 de julho, apesar da resistência. “Estamos articulando um processo de resistência com os trabalhadores urbanos, a Conlutas e a Fetraf”, anuncia Manaças. Ocorrendo o despejo, os trabalhadores prometem fechar estradas em protesto.

Enquanto a CUT se cala diante da absurda repressão, a Conlutas se reuniu com a Fetraf e o MST e protocolou um pedido de audiência com o governo do Pará, a fim de tratar da escalada de violência contra os movimentos sociais e os trabalhadores.

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