Cena um: um helicóptero da PM atingido por balas de traficantes faz um voo razante , já pegando fogo, e cai sobre um campo de futebol.

Cena dois: um corpo crivado de balas desce o morro em um carrinho de supermercado.

Cena três: o corpo do coordenador do Afro Reggae agoniza no chão, depois de ser assaltado no centro da cidade, enquanto PMs se preocupam em roubar sua jaqueta dos ladrões que o mataram.

Cada uma dessas cenas foi divulgada amplamente em todo o país. Se parecem a cenas iniciais de um filme aterrador, que está longe de acabar.

Os trabalhadores que moram nas favelas do Rio se encontram imprensados entre os tiros dos bandidos e da polícia. Ou entre os bandidos e os “marginais criminosos fardados”, como disse um dos coordenadores do AfroReggae.

Essa é a outra cara, que insiste em vir a tona, da “passagem ao primeiro mundo” que o governo Lula alardeia. O governo fala do pré sal, faz propaganda da Olimpíada, da Copa do Mundo. Mas o Brasil real não é uma novela do Globo, nem os vídeos clipes da propaganda eleitoral. O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, é também o horror desses dias.

Não existe o Brasil que Lula quer vender ao mundo. É uma ficção o “Brasil do futuro” que Lula tenta convencer os trabalhadores, para que aceitem o presente miserável.

O Brasil real é o paraíso das multinacionais e dos bandidos. Os salários baixos e o desemprego possibilitam uma exploração brutal a serviço das multinacionais, que têm lucros descomunais. Os mesmos salários baixos e o desemprego tornam a juventude das grandes cidades em presa fácil do narcotráfico. Esse é o capitalismo “moderno”, que inclui sinais de barbárie no cotidiano.

A face bonita do país não existe sem a outra, feia e brutal. O governo só fala de uma. Os trabalhadores vivem a outra.

A polícia e a justiça corruptas ajudam os ricaços a defender suas propriedades e manter sua impunidade. A mesma polícia fuzila os jovens negros nas favelas. Muitas vezes, nem os burgueses são julgados (seus advogados adiam eternamente os julgamentos, enquanto eles ficam livres) nem tampouco os jovens das favelas (são mortos antes).

“O Haiti é aqui”, diz uma música de Caetano Veloso e Gilberto Gil, hoje quase profética. Lula, para ficar de bem com Bush, enviou tropas brasileiras para ocupar o Haiti, a serviço das multinacionais. Essas tropas de ocupação matam o povo haitiano que protesta contra os salários ainda mais miseráveis que os daqui, pagos pelas mesmas multinacionais. Os generais dessas tropas dizem que elas estão treinando lá para atuar depois nos morros do Brasil.

Os trabalhadores do Rio de Janeiro, imprensados pela polícia e os traficantes têm que saber que a política econômica do governo é que está causando tudo isso.

Por trás de cada policial está o governo Lula que mandou “limpar essa sujeira”. A sujeir” a ser limpa é a da população das favelas, sempre confundida com os bandidos.

E por trás dos bandidos está a miséria causada pela política econômica do governo Lula, a mesma do governo FHC. Ou seja, a política econômica das multinacionais e banqueiros.

Mudar é possível? Claro que é, mas tem que mudar tudo. Não se pode resolver isso fazendo passeatas contra a violência, ou cobrando mais polícia. É preciso um programa radical dos trabalhadores, para enfrentar a violência dos patrões, da polícia e dos bandidos. Será preciso mudar a política econômica do governo, descriminalizar as drogas, acabar com essa polícia corrupta e criar outra.

Nada disso será feito por Lula, ou por Dilma, ou por Serra. Essas são apenas cenas iniciais desse filme.
Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 394
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