Muitos ativistas acham que as propostas do governo de reformas Sindical, Trabalhista e Universitária serão certamente vitoriosas. Eles fazem uma comparação mecânica com a derrota das lutas contra reforma da Previdência em 2003. Mas não é assim. Estamos perante uma luta que pode ser vitoriosa ou derrotada, mas que está apenas se iniciando.

O governo Lula não vive seus melhores dias. Sua reforma ministerial, planejada durante meses, naufragou em uma guerra de interesses brutais entre os partidos “aliados”, como o PP, PMDB, PTB. Lula tentou transformar esse final melancólico em uma fuga para frente, como se fosse uma demonstração de força, reagindo à cobrança pública de um ministério por Severino Cavalcanti. Na realidade, o governo saiu mais fraco da reforma fracassada, e vai ter que voltar a negociar novamente com o PP, com Sarney, e demais “aliados”.

A economia, ainda que siga crescendo, dá sinais claros que apontam para uma nova crise. As pesquisas indicam uma queda de 3% na popularidade do governo, de novembro para cá. O desgaste do Congresso com as roubalheiras explícitas do dinheiro público comandadas por Severino Cavalcanti estão alcançando a consciência das massas em um nível muito profundo.

Já surgem algumas demonstrações de radicalização. São as mobilizações dos sem-tetos enfrentando a polícia em Goiânia, e que recentemente voltou a ocorrer com os perueiros em São Paulo. Agora vai começar uma nova campanha salarial do funcionalismo público federal.

Pode ser que uma combinação entre lutas radicalizadas e uma divisão da burguesia, termine obrigando o governo a adiar as reformas neoliberais para o ano que vem. Isso pode ocorrer novamente em 2006, por ser um ano eleitoral. Por tanto nada está definido.

Além disso, é importante levar em conta que uma unidade ampla contra a reforma Sindical e Trabalhista foi alcançada. A Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), desde o ano passado, estava desenvolvendo toda uma campanha contra estas reformas, chamando a unidades entre todos os setores para lutar contra elas. No entanto, existia um boicote explícito de parte da esquerda da CUT e de um setor do P-SOL, que se negavam sistematicamente a fazer qualquer unidade com a Conlutas.

Desde então ocorreram várias mudanças. O PCdoB, pressionado por crises em sua base, passou a defender uma posição contrária a reforma Sindical. Vários setores da burocracia, como as confederações e entidades sindicais (CGT, CNTI, CONTEC e a CGTB), também se manifestaram contra a reforma.

Já a esquerda da CUT e um setor do P-SOL, que durante mais de um ano atacaram a Conlutas por “aceitar unidade na luta com pelegos”, tentaram realizar um acordo com todos estes burocratas e o PCdoB, excluindo a Conlutas, em mais uma manobra divisionista.

Contudo não conseguiram, e a unidade conquistada entre todos estes setores tão diferentes prevaleceu. É importante destacar uma unidade na ação como essa não foi conquistada nas lutas contra a reforma da Previdência.

Quer dizer então que é possível uma luta unificada contra as reformas e o governo? A unidade na ação é saudada por nós como uma vitória, mas ao mesmo tempo reconhecemos seus limites. Já estão definidos um ato comum no dia 14 de abril em Brasília, diversas atividades nos estados e uma marcha conjunta para a capital federal no segundo semestre deste ano.

A maioria destes setores, entretanto, só entende esta campanha na sua dimensão parlamentar. Para nós a luta e a ação direta das massas será o elemento fundamental. Por isso é preciso ir para a base, garantir os atos contra a reforma no dia primeiro de maio e mobilizações de massas na primeira semana deste mês. Só assim se conseguirá também a pressão sobre o parlamento.

O PCdoB, por outro lado, está contra a reforma Sindical, mas a favor da reforma Universitária , e se recusa a criticar a CUT e o governo Lula. Amanhã, o PCdoB poderá, através de negociações com o governo, recuar de suas posições atuais. Mas nós vamos manter nossa postura de lutar contra todas as reformas, chamar a ruptura com a CUT e pela construção da Conlutas.

Estes alertas, contudo, não diminuem a importância da unidade para lutar contra a reforma. As mobilizações podem ganhar muito em termos de força e conteúdo se cada um setor mover sua base, e ao mesmo tempo, mantiver seu perfil político. Mais ainda, se os ativistas estiverem convencidos de que esta luta não é simplesmente formal, para marcar posição, mas que podemos efetivamente derrotar o governo Lula.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 212
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