O governo Lula está parecendo com a cidade de São Paulo nesta manhã de quarta-feira, que após intensas chuvas na madrugada, acordou em meio ao caos e de pernas para o ar. Contudo, na capital paulista, o temporal, ao que tudo indica, já passou e a cidade começa a se recompor. Já com relação ao governo, as previsões são bem menos otimistas. As nuvens negras, tempestades e a lama provocada pela enxurrada de denúncias de corrupção, envolvendo ministros e aliados do governo, inundam os noticiários e provoca a maior crise política desde a posse de Lula.

A publicação pela revista Veja de um vídeo mostrando Maurício Marinho, chefe do departamento de contratação dos Correios e indicado pelo PTB, cobrando propina de um grupo de empresários, e revelando que Roberto Jefferson, líder do PTB, chefiava um poderoso esquema de propina na empresa, abriu uma farta sucessão de denúncias que se abateram contra o Planalto. A lista é enorme e põe na alça de mira um empresário amigo de Lula e dois altos dirigentes do PT.

Nas gravações, Marinho não teve o menor pudor em explicar como funcionava o esquema de corrupção nos Correios e ainda relata a existência de esquemas semelhantes em outras estatais, cuja base encontra-se, sobretudo, na distribuição de cargos aos partidos aliados do governo (PMDB, PP e PTB).

Preocupado com a possibilidade de que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) possa revelar como foi feita essa festa, perdão, a distribuição dos cargos, no qual o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral do partido, Silvio Pereira, teriam participação direta, os líderes governistas iniciaram uma cruzada anti-CPI. José Dirceu teria dito, de acordo com a “Veja”, que “é impossível que uma CPI minimamente bem-feita não pegue o Delúbio e o Silvinho”. Em nota, Dirceu negou que tenha dado tal declaração.

Pérolas aos porcos
Em uma tentativa desesperada para tentar impedir a instalação da CPI dos Correios, o governo do PT joga pesado e lança pérolas aos porcos. Nesta terça-feira, dia 24, liberou R$ 773 milhões em emendas e subvenções para comprar o apoio de parlamentares da base aliada. Ao mesmo tempo em que os líderes governistas, Aldo Rebelo e José Dirceu, após muito esforço, convenceram Roberto Jefferson a retirar seu nome e também de outros parlamentares do PTB no requerimento que pede a instauração da Comissão. No encontro os governistas argumentavam que objetivo da CPI seria a de atingir o PT e que Jefferson seria um “degrau” para isso. O petebista, por sua vez, concordou e disse: “na mesma cadeira em que eu sentar (na CPI) vão sentar você, o Silvio Pereira e o Delúbio Soares”. Os líderes também conseguiram o compromisso do PTB em recuar da decisão de abandonar os cargo que dispõe dentro do governo.

A atuação do governo vem até agora logrando resultados também em outros setores da base aliada. O governo tem até a meia noite de hoje para fazer os deputados a retirarem seus nomes do requerimento para a criação da CPI. Até o momento, dos 19 deputados da esquerda do PT que assinaram o requerimento, apenas 6 ainda mantém suas assinaturas. O PP de Severino Cavalcanti, a exemplo do PTB, divulgou nota recomendando que seus parlamentares também retirem suas assinaturas. De acordo com líderes do partido, 17 dos 53 deputados assinaram o requerimento. Aparentemente o cargo “que fura poço e acha petróleo”, prometido por Lula a Severino na Petrobras foi garantido.

O prazo está se esgotando
A fragilidade governista no Congresso Nacional, porém, pode impedir que a operação abafa logre algum resultado efetivo. Não é tarefa fácil reverter o atual quadro de assinaturas para a instalação da CPI. Vale lembrar que essa fragilidade permitiu que os partidos da oposição burguesa (PSDB e PFL) conseguissem em tempo recorde assinaturas mais do que suficientes para emplacar a CPI.

Todavia, se operação abava não obtiver resultados, o governo prepara um plano B para limitar as investigações. A estratégia consiste em indicar nomes de confiança do governo para compor a Comissão. Ao mesmo tempo o governo desengavetou a CPI do setor elétrico. Aquela mesma que ameaçava investigar empréstimos do BNDES para a compra da Eletropaulo pela AES, denunciado por um “alto companheiro” ao presidente Lula que o pediu para “fechar a boca” sobre as supostas irregularidades das privatizações no governo FHC. Dessa maneira tenta buscar munição para contra-atacar o PFL e PSDB. Munição, aliás, que poderia armar um exército inteiro, uma vez que esses partidos protagonizaram o governo mais corrupto da história.

A crise política do governo do PT pode se ampliar ainda mais com reabertura das investigações do assassinato de Celso Daniel, prefeito do PT em Santo André (SP), anunciada pela Justiça. Há denúncias sobre uma suposta cobrança de propinas de empresários do transporte público, onde parte do dinheiro seria dada às campanhas do PT.

Somando-se a tudo isso ainda tem os inquéritos contra os ministro Jucá e Meirelles correndo no Ministério Público. Há muitas tempestades e trovoadas no horizonte do governo petista.