Cerca de 100 mil pessoas protestaram na praça Rabin na capital de Israel, Tel Aviv, no início de maio, pedindo a saída do primeiro-ministro Ehud Olmert. Mas após sobreviver com apenas três votos no parlamento a favor de sua renúncia, parece que Olmert persistirá.

Olmert sofre com índices de aprovação de apenas um dígito e pedidos de renúncia desde a divulgação de um texto sobre um relatório da Winograd Commission, que investigava as causas da humilhação sofrida por Israel na derrota pelo Hizbollah durante a invasão do Líbano em 2006. A comissão não dirigiu seu foco para os crimes de guerra que Israel cometeu ao provocar um conflito que forçou um quarto da população libanesa a deixar suas casas, mas sim para a embaraçosa situação de Israel ter falhado em atingir seu objetivo de eliminar o Hizbollah.

As críticas da equipe dirigiram-se a Olmert, ao ministro da defesa Amir Peretz e ao chefe do exército Dan Halutz. Peretz já anunciou que vai deixar o cargo depois que o Partido Trabalhista israelense, que ele atualmente lidera, realizar a eleição do novo líder em 28 de maio, a qual Peretz deve perder. Halutz já prestou atenção nos inúmeros pedidos para se demitir.

No entanto, Olmert parece determinado a prosseguir apesar das duras condenações da Winograd Commission. As conclusões preliminares da comissão foram que Olmert teria decidido apressadamente começar a guerra no Líbano, e que ele foi culpado de “uma falha séria no exercício do julgamento, da responsabilidade e da prudência”. O relatório completo será lançado em agosto.

A brutal guerra de Israel contra o Líbano matou mais de mil pessoas – a vasta maioria delas civis – destruindo grande parte da densamente povoada região sul de Beirute e atingindo severamente muitas pequenas cidades no sul do Líbano. Reagindo ao ataque de Israel, o Hizbollah matou 119 soldados israelenses e 40 civis.

Israel não apenas sofreu uma impressionante derrota, mas um golpe em sua imagem de invencibilidade porque possui o mais bem equipado exército da região. A razão primária da sobrevivência de Olmert é, de longe, a falta de acordo entre as muitas correntes que pedem sua saída. O protesto da praça Rabin, por exemplo, foi organizado por 11 diferentes partidos políticos, mas nenhum político foi convidado a falar à multidão por medo de que isso ofendesse os outros.

“Havia pessoas da esquerda e da direita, religiosos e seculares, judeus orientais e europeus, colonos e ativistas pacifistas, jovens (muitos jovens) e velhos”, comentou Uri Avnery, um importante pacifista de Israel. “Em um determinado momento, passei por Effi Eitam (membro do parlamento israelense), quem eu considero o fascista número um de Israel, e que deve me considerar o destruidor número um de Israel. Ignoramos um ao outro, mas estávamos ambos lá” .

No entanto, a vasta maioria das forças anti-Olmert não questiona que Israel tinha o direito de invadir o Líbano com todo o poder de seu exército. O que eles lamentam é que isso tenha falhado em produzir o resultado desejado – a liquidação do Hizbollah, que vem resistindo às tentativas de Israel de impor sua vontade no Líbano.

A grande imprensa proclama, especialmente nos EUA, o protesto como um sinal da “saúde da democracia de Israel”, nas palavras da revista Time – uma declaração particularmente inapropriada ao aparecer no mesmo momento em que Israel anunciou processos contra Azmi Bishara, o mais proeminente líder dos cidadãos palestinos de Israel, sob o pretexto de ele ter ajudado o inimigo durante o fiasco no Líbano.

Por anos o governo israelense perseguiu Bishara, embora ele seja membro do Knesset, o parlamento de Israel. Os processos, que são puníveis com prisão e até mesmo com a pena de morte, forçaram Bishara a exilar-se enquanto luta para provar sua inocência.

De acordo com o establishment israelense, porém, ele já é culpado por negar que Israel possa ser uma democracia enquanto não se tornar um Estado para todos os cidadãos. Israel define-se como um Estado judeu, relegando 20% da população que é palestina a uma condição de segunda classe.

Sem levar em consideração o resultado da atual crise de cúpula, uma coisa é certa – o apartheid de Israel irá continuar, não importa se Olmert fique ou saia.

*Jornal da International Socialist Organization, dos EUA