As primas Rebeca e Emily, vítimas das balas da polícia

Rodrigo da Silva e Samantha Guedes

O ato do brincar para a criança é uma necessidade para o pleno desenvolvimento. Mas sequer este direito foi dado às primas Rebeca Beatriz, de 7 anos, e Emily Victoria, de 4, quando brincavam na calçada de casa. As balas encontradas em seus corpos negros são sim, de responsabilidade do Estado.

A avó de uma das crianças afirma que os tiros vieram da PM que, além de matar, não teriam prestado socorro. Mas, independente do resultado da apuração, o tiro é a demonstração de que a política do Estado só gera mais violência. Maria Eduarda, Marcus Vinícius, Ana Caroĺina de Souza,Jenifer Gomes, Kauan Peixoto, Kauã Rozário, Kauê dos Santos, Ágatha Félix, Ketellen Gomes, Bianca Regina de Oliveira, João Pedro, Leônidas, Rebeca Beatriz e Emily Victoria… quantas crianças terão seus futuros interrompidos? Quantas famílias terão a marca da violência entranhada nas suas histórias? Quantas lágrimas serão derramadas?

Os corpos alvejados pelo Estado tem cor e classe social! São pretos e pobres! Em onze anos, a taxa de homicídios de pessoas negras cresceu em 11,5%. Uma criança negra tem três vezes mais chance de morrer antes de completar quinze anos em comparação a criança branca. Os jovens negros, então, vivem com um alvo em seus corpos. Segundo a Rede de Observatório de Segurança no país, o Estado do Rio de Janeiro é o que tem o maior número de ações policiais. Em Duque de Caxias, onde as primas foram atingidas, 73,5% das pessoas que foram assassinadas pela polícia, são negras. Segundo a plataforma Fogo Cruzado em novembro de 2020, Duque de Caxias ficou em terceiro lugar com 24 casos de tiroteios/disparos de arma de fogo. Em outubro, de 20 crianças baleadas no RJ em 2020, 13 foram vítimas das balas perdidas. Estamos fartos com o descaso e as estatísticas. Não podemos permitir que estas mortes sejam naturalizadas.

É genocídio e barbárie! Do período da escravidão pouco mudou! O mesmo sistema capitalista que escravizou e não fez nenhuma reparação, faz contenção social da miséria através de mais violência. A tática de guerra às drogas nas comunidades não só não acaba com o narcotráfico como gera ainda mais violência e morte de inocentes nas comunidades.

É necessário não só suspensão total das operações policiais nas comunidades, mas a desmilitarização da polícia, a organização da autodefesa pelas próprias comunidades e política de reparações ao povo negro. Somente com muita organização da classe trabalhadora é que vamos ocupar e destruir a Casa Grande.

Aquilombar para reparar!
Parem de nos matar!
Investigação e punição de todos os envolvidos na morte de Rebeca e Emily