General Stanley McChrystal, demitido por Obama

Demissão de general expressa a crise da política dos EUA no AfeganistãoA guerra do Afeganistão cobra o seu preço ao governo e às FFAA dos EUA. Há duas semanas o comandante das tropas americanas no Afeganistão, o general Stanley McChrystal, deu entrevista com declarações bombásticas à revista Rolling Stone atacando vários funcionários da administração Obama, inclusive o próprio presidente.

Entre outras coisas, McChrystal chamou o general Jim Jones, assessor de Segurança Nacional, de “palhaço”, disse que Richard Holbrooke, enviado da Casa Branca para o Afeganistão e o Paquistão é como um “animal ferido” por temer a demissão, riu quando chamaram o vice-presidente Joe Biden de “Bite Me” (algo como “não enche”) e disse que Obama estava “desconfortável e incomodado” na primeira vez que se encontraram.

Obama não teve outra saída a não ser demitir McChrystal, que foi substituído por David Petraeus, ex-comandante das tropas americanas no Iraque. Petraeus assegurou que a estratégia norte-americana de contrainsurgência será mantida no Afeganistão.

Não se trata de uma crise, uma mera disputa de cargos ou um choque de vaidades. O que está por trás das declarações de McChrystal é o fracasso da aplicação da política de contrainsurgência (“coin” na sigla em inglês). Esta tática busca ganhar a confiança da população civil do país invadido com ações “populistas”, ao mesmo tempo em que ataca militarmente o Talibã, movimento que encabeça a resistência.

Não tem dado certo. A população continua se opondo à ocupação militar americana e as tropas americanas continuam incapazes de derrotar ou enfraquecer o Talibã. Tanto é assim que os americanos foram obrigados a suspender a ofensiva sobre a província de Kandahar, principal reduto do Talibã.

Os EUA pretendiam enfraquecer militarmente o Talibã para negociar a “paz” em melhores condições, mas se não conseguem obter avanços militares, as negociações tornam-se mais difíceis.

As declarações do general são a expressão da crise da intervenção militar dos EUA no Afeganistão, ou seja, suas tropas estão metidas em um “atoleiro” que fica cada vez pior à medida que mais se metem nele. É uma guerra perdida.

McChrystal, consciente desta situação, resolveu questionar publicamente a estratégia de Obama para a guerra e atacar os principais funcionários encarregados de levá-la a prática. Com isso, assumiu conscientemente o risco de provocar sua saída, já que ninguém pode pensar que um general tão experiente dê semelhantes declarações sem prever que quase certamente seria demitido.

Por outro lado, a entrevista teve claramente o objetivo de desgastar a administração Obama. McChrystal, juntamente com o Partido Republicano, defende uma maior intervenção militar no Afeganistão e uma política militar mais agressiva, coisa que Obama evidentemente já não julga possível. Também não é casual que a única funcionária de alto escalão não citada pelo general, a secretária de Estado Hillary Clinton, também é partidária de uma política mais dura.

No entanto, estas crises palacianas estão sendo resolvidas na dura realidade do campo de batalha. E aí as coisas não estão indo nada bem para o imperialismo.