As atividades do Fórum Social Mundial estiveram localizadas, centralmente, em dois bairros: na Terra Firme, próximo à Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e no Guamá, perto da Universidade Federal do Pará (UFPA), bairros periféricos com histórico de luta dos movimentos sociais de bairro pela moradia. Contudo, a organização do FSM em Belém reservou aos movimentos sociais que estão na luta, mas que não dispõem de recursos para comprar seu acesso para participar do grande aparato que se transformou o FSM, apenas a repressão e exclusão da população pobre.

Dias antes de começar o FSM, a Guarda Nacional resolveu fazer a limpeza nos bairros próximos à realização do evento com batidas policiais nas festas e com repressão aos moradores que ficavam em frente as suas casas após as 22h. Atribuiu-se à população pobre, negra e desempregada a responsabilidade pelo aumento do crime na cidade.

Entretanto, essa exclusão é um fato intencional. Diante da situação de crise econômica, retira a possibilidade da comunidade de debater as alternativas que são necessárias para a população enfrentar a crise que já chegou à sua porta com a falta de alimentos essenciais da cesta básica. Com o aumento do desemprego e do mercado informal precarizado.

O projeto Tucunduba de pavimentação e urbanização abrange os dois bairros e é financiado com o recurso do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que tem sido propagandeado pelos governos locais, Ana Júlia Carepa (PT) e Duciomar (PTB), como o grande esforço do governo em ajudar os moradores a melhorarem sua condição de moradia. Porém a obra parou no meio do caminho por conta da crise em que o governo priorizou o salvamento dos banqueiros ao invés de garantir as condições de moradia à população pobre.

Todavia, ainda assim é importante esclarecer que este projeto sempre teve como pano de fundo afastar os moradores pobres do bairro para outros bairros ainda mais periféricos e sem saneamento básico na forma de transferência direta ou com a cobrança de taxas altas de impostos (IPTU), possibilitando a especulação imobiliária dos grandes empresários do setor imobiliário.

Por outro lado, também serve como o curral eleitoral do governo de Ana Júlia, pois a pretensão é atingir cerca de 6 mil moradores direta ou indiretamente, fazendo-os acreditar que agora serão donos de suas casas. Assim, para acalmar os moradores um dia antes do Fórum, Ana Júlia teve a cara-de-pau de entregar 30 títulos para os moradores como prova de que o projeto está caminhando.

Em oposição a toda a encenação do FSM, os moradores do bairro contaram com a Conlutas e o PSTU, que promoveram debates sobre a crise econômica e a reorganização internacional dos trabalhadores, possibilitando que a comunidade da Terra Firme participasse. Foi o caso de Carmem, do movimento afro-religioso, que esteve no debate da crise econômica e gostou bastante da discussão. “Assim que gosto dos debates, tinha muita gente. Achei o pessoal bastante determinado para fazer algo de verdade pelos trabalhadores”, disse.

Diante de todos os acontecimentos fica cada vez mais claro para a população que no capitalismo não há espaço de negociação dos direitos ou de melhores condições econômicas para os trabalhadores e que somente com a tomada do poder para a classe trabalhadora através da revolução socialista que podermos ter um mundo melhor.