Os imperialismos norte-americano e europeu fracassaram em impor a abertura dos setores de serviços dos países subdesenvolvidos. O G-22, liderado pelo Brasil, poderia ter se constituído em uma grande frente dos países devedores para não pagar a dívida externa, mas limitou-se a defender os interesses de seus latifundiários

`AtivistasA Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada em 1995 para teoricamente administrar acordos comerciais multilaterais e solucionar possíveis controvérsias entre os países membros, mas na prática a OMC serve como mais um dos instrumentos dos países imperialistas, especialmente dos EUA, para impor o fim de quaisquer obstáculos que pudessem interferir no comércio das grandes multinacionais dos países ricos, impedindo ou dificultando assim o acesso a determinados segmentos dos mercados dos países mais pobres.

A cada dois anos a OMC organiza uma rodada de negociações. Sua quinta reunião, agora realizada em Cancún (México), deu prosseguimento a rodada de Doha (Catar), cujo principal objetivo era a redução das tarifas e subsídios agrícolas, nos países imperialistas (EUA, Europa e Japão) em troca da abertura de mercados de bens e serviços dos países subdesenvolvidos.

O bloco formado por EUA, União Européia e Japão, iniciou as negociações impondo todos os deveres aos países periféricos. O interesse pela abertura do chamado “setor de serviços” é nada mais do que ampliar a presença das multinacionais nos setores financeiros, dos países subdesenvolvidos, avançar na privatização da educação, saúde, controlar o comércio e os meios de transporte de longa distância etc.

Por outro lado, os países periféricos formaram um grande grupo, capitaneado pelo Brasil, reunindo 22 países, o G-22, que respondem conjuntamente por um terço da produção da agricultura mundial, para pressionar os países imperialistas a retirar os subsídios ao seus agricultores.

As “ajudas” dos países imperialistas aos seus agricultores chegam a 1 bilhão de dólares diários. Isso faz com que estes países possam exportar produtos agrícolas com um preço mais baixo, distorcendo os preços de produção e impedindo que os países subdesenvolvidos ocupem parte do mercado mundial.

Além dos subsídios, os países subdesenvolvidos queriam o fim das barreiras (tarifas) que impedem o acesso dos produtos agrícolas aos mercados dos EUA, da União Européia e do Japão.

Porém o G-22, como afirmou o representante brasileiro, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, “não estava unido por questões ideológicas e sim para ampliar os mercados”. E entrou, portanto, disposto a fazer as concessões necessárias para que o fim dos subsídios agrícolas fosse debatido.

Mesmo com as enormes concessões propostas pelo G-22, os EUA e a União Européia não aceitaram reduzir mesmo parcialmente o extraordinário valor dos subsídios. Atendendo assim ao fortíssimo lobby dos agricultores de seus países.

O colapso da reunião da OMC revelou mais uma vez que as chamadas rodadas de negociação não passam de instrumentos de pressão utilizados pelo imperialismo mundial para impor seus planos na área comercial.

Porém, mesmo com o fracasso da rodada de Cancún, o governo norte-americano, como afirmou o representante Zoellick um dia depois de terminada a reunião, pretende utilizar acordos bilaterais para pressionar a aprovação de medidas que abram os mercados para as empresas dos EUA.

O que deveria fazer o G-22?

Entretanto, do lado de cá, o grupo dos 22 países, que causou inclusive esperanças a todo um setor dos movimentos sociais, foi tão ousado que ofereceu quase a casa inteira em troca de um pedaço de “quintal soberano”.

Na verdade estavam dispostos a entregar às multinacionais setores como educação e saúde, em troca de aumentar a exportação dos grandes latifundiários. O chamado setor de agronegócios (agricultura para exportação) tinha voz ativa na negociação, sendo consultado pelo ministro de Relações Exteriores brasileiro, enquanto quase duas mil entidades que representavam trabalhadores, juventude e camponeses, proibidas de se aproximarem, aguardavam os resultados a dez quilômetros de distância do encontro.

Um bloco de países subdesenvolvidos que verdadeiramente quisesse virar o jogo deveria em primeiro lugar questionar a sangria de recursos que enviamos para o pagamento da dívida externa. O G-22 não somente representa a metade da produção agrícola mundial, detém também mais de 80% da dívida externa dos países pobres.

Com o grande respaldo obtido por liderar os chamados países periféricos, o governo brasileiro deveria fazer um chamado à constituição de um grande bloco de países devedores, que tenha como objetivo a ruptura com o FMI e o não pagamento da dívida externa, colocando assim em cheque os principais mecanismos de subordinação ao imperialismo. Mas a opção, como disse Amorim, é somente lutar por acesso aos mercados.

Post author Yuri Fujita, de São Paulo (SP)
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