Dezenas de milhares de pessoas de todo o mundo, presentes no Fórum Social Mundial em Belém, tem de encarar os reflexos da crise econômica no mundo. Nenhuma das discussões realizadas pode deixar de levar em conta a recessão internacional que se alastra e pode se transformar em uma depressão, semelhante à de 1929.

A gravidade da crise joga por terra as ideologias da superioridade do livre mercado que se difundiram com o neoliberalismo. O capitalismo mostra sua face: US$ 8 trilhões dos governos de todo o mundo para salvar os bancos e grandes empresas, dinheiro suficiente para acabar com a fome no planeta. Para os trabalhadores, nada. Só desemprego e miséria.

A arrogância dos que defendiam o pensamento único neoliberal, que o capitalismo tinha vencido definitivamente e que não existia alternativa por fora da globalização, agora vem abaixo.

Mas é hora também de ajustar contas com a ideologia que segue sendo o carro-chefe do Fórum: “um outro mundo é possível”, por dentro do capitalismo. “É verdade que o neoliberalismo é ruim, mas por que se arriscar em revoluções se é possível chegar a um outro mundo por dentro do capitalismo?”

A primeira edição do Fórum Social coincidiu com a posse de Lula. Na verdade, os dois fenômenos estavam associados. Existia a esperança de que estes governos de “centro-esquerda” pudessem mudar o mundo. Hoje a experiência está feita. Lula é mais um governo neoliberal, a serviço das multinacionais e grandes bancos. Não existe um novo Brasil com o governo Lula. É o mesmo país com trabalhadores vivendo na miséria, sob controle do grande capital, com governos corruptos e burgueses.

Para deixar isso muito claro, o governo estadual petista do Pará está promovendo uma repressão violentíssima aos bairros pobres de Belém com o objetivo de “limpar” a cidade para o Fórum. Comunidades como Terra Firme e Guariba estão ocupadas pela polícia, com partidas de futebol proibidas e bares tendo de fechar às 22 horas. Os bairros ricos não têm nada disso. Os moradores pobres de Belém olham para o “outro mundo” do Fórum como aquele dos turistas estrangeiros defendidos pela polícia.

A crise econômica não pode levar mais uma vez à conclusão de que “é preciso encontrar uma alternativa ao neoliberalismo”. Pode ser que as grandes multinacionais, como produto final desta crise, para reerguer o capitalismo encontrem uma alternativa ao neoliberalismo que signifique um ataque ainda pior aos trabalhadores e povos do mundo.

Não é preciso mudar o neoliberalismo. É preciso acabar com o domínio das grandes empresas, acabar com o capitalismo. A crise econômica brutal que agora estamos começando a viver torna isso muito mais presente.

O mundo está mudando. Sob o impacto crescente da crise, começam a surgir novas e graves crises políticas. Vamos a rupturas, mudanças bruscas, saltos para frente ou para trás na situação política de cada país.

A clareza dos ativistas de vanguarda pode ajudar a dar uma perspectiva para as grandes lutas que vão se abrir. A rotina e a continuidade dos velhos chavões reformistas são travas a serem deixadas de lado.

A única alternativa realista é apostar na luta direta dos trabalhadores e retomar a estratégia do socialismo revolucionário. Um debate rico deve ser retomado sobre o programa socialista, o balanço do Leste Europeu e do stalinismo e a necessidade da afirmação de um novo estado com democracia operária.

A crise demonstra que um outro mundo socialista é possível… e necessário.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 365
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