A reunião da coordenação nacional da Conlutas, realizada nos dias 5 e 6 de junho, aprovou uma resolução chamando todos os setores da esquerda à construção de uma organização unificada, abrindo inclusive a possibilidade de que essa organização seja fruto da fusão da Conlutas e dos demais setores da esquerda, como a Intersindical. O congresso do PSOL, realizado uma semana depois, adotou uma resolução com sentido parecido. Agora temos que avançar na discussão para ver se é possível concretizar esta proposta.

O desafio provoca dúvidas de vários tipos. Não se estaria sub-valorizando o patrimônio político e organizativo representado pela Conlutas? Para chegar à unificação, vamos abrir mão do programa e das nossas concepções? São dúvidas legítimas que vou tentar esclarecer, dialogando com cada uma delas.

Desafio
Em primeiro lugar é preciso dizer que a Conlutas é efetivamente o principal pólo de aglutinação de forças da esquerda socialista que atuam no movimento sindical e popular, e que estão na oposição ao governo Lula. Principal não só pela força social que aglutinou durante os últimos três anos e pela estrutura organizativa que construiu neste período, mas também pelo acúmulo de elaboração política e capacidade de iniciativa para fazer unir e avançar a luta dos trabalhadores.
Foi isso que permitiu à Conlutas jogar um papel determinante no encontro do dia 25 de março e, depois, ao lado do MST, na construção da unidade que desencadeou o 23 de maio. Vamos continuar cumprindo esse papel, para seguir o processo de mobilização nacional. Estamos construindo uma organização que já reúne uma parcela minoritária, mas significativa, da classe trabalhadora, e que busca atuar em base a um critério amplo de unidade de ação com todos os que queiram lutar.

No entanto, a unidade de ação é apenas parte do desafio para fazer avançar a luta dos trabalhadores. Precisamos de uma direção, uma alternativa às direções reformistas da CUT e da UNE, para dar um rumo político estratégico a essas lutas. Este é o papel mais importante para o qual estamos construindo a Conlutas. E não podemos ignorar que ela ainda é uma organização minoritária, ou seja, não representa a maioria dos trabalhadores. Precisamos fazer com que ela reúna mais e mais trabalhadores, até que tenha força para conduzir a luta do conjunto da classe.

Um passo adiante
Ao fazermos o chamado à unidade, dirigido aos demais setores da esquerda socialista, não estamos subestimando o peso ou o valor político da Conlutas. Ao contrário, estamos justamente nos apoiando nesse peso e na autoridade política que a Conlutas acumulou até agora para apresentar uma proposta ousada, que possibilite um salto de crescimento dessa direção estratégica que estamos construindo.
Queremos unificar esse esforço com os dirigentes e as dezenas ou centenas de milhares de trabalhadores dos sindicatos que se organizam na Intersindical. Por que fazemos essa proposta para a Intersindical? Porque temos uma proximidade natural com os companheiros, que são de esquerda, socialistas, estão na luta conosco e romperam com o governo Lula.

Há diferenças políticas importantes entre a Conlutas e eles? Há sim. Temos críticas a fazer aos companheiros? Com certeza. Isto impediria nossa unidade? Não. Lembremos que dentre os próprios setores que compõem a Conlutas também existem diferenças e críticas. E é natural que seja assim numa organização de massas como a que estamos construindo. Na verdade, a diferença mais importante que temos com os companheiros hoje é o fato de eles (ou uma parte deles, pelo menos) ainda não terem entendido a necessidade de romper com a CUT para construir uma alternativa unitária, junto com a Conlutas.

Como eles têm negado, reiteradas vezes, a possibilidade de se somarem à construção da Conlutas, apresentamos a possibilidade de fusão que dê origem a uma nova organização nacional, unificada. Obviamente, ao levantarmos a possibilidade da fusão para gerar uma organização unificada, não estamos abrindo mão do programa que acumulamos e foi aprovado no CONAT, em maio de 2006, nem de nossas concepções, como a defesa de que estejam nessa oganização os sindicatos e os movimentos populares, ou seja, todos os segmentos da classe trabalhadora e da juventude.
Quem tomará a decisão final sobre essas questões? O congresso da Conlutas. Caso haja acordo com a Intersindical, será aberta a discussão no congresso, que tomará a decisão final.

Queremos com essa proposta ajudar no avanço do processo de unidade, removendo os obstáculos antes apontados pelos companheiros. Para nós o fundamental é o conteúdo (programa, concepção, método de ação, estratégia), não o nome ou a forma de uma estrutura organizativa. Se o preço a pagar pela unidade for o de termos uma organização com outro nome, ele terá sido pequeno. Queremos também, por outro lado, cobrar responsabilidade dos companheiros que dirigem a Intersindical. A unidade da esquerda para construir uma nova direção para as lutas dos trabalhadores brasileiros não pode ser comprometida por caprichos de qualquer natureza ou posturas sectárias. Por isso estamos fazendo publicamente essa discussão, e por isso a levaremos para todas as entidades.

Esse chamado é apenas para a Intersindical? Não, ele é dirigido a todos os setores que atuam nos sindicatos e movimentos populares, que estejam nesse campo da luta, do socialismo e da oposição ao governo Lula. Não se dirige à CUT por razões óbvias, porque os dirigentes desta central estão no campo oposto, e a tarefa colocada é a de tirá-los da direção das entidades, fortalecendo as oposições sindicais.

Vamos paralisar o processo de construção da Conlutas até que haja uma decisão sobre essa discussão, ou uma resposta da Intersindical? De forma alguma. Todas as iniciativas podem e devem continuar no sentido do fortalecimento da estrutura orgânica da Conlutas. Vamos trazer mais e mais entidades e movimentos para fortalecer a Conlutas. Também é fundamental seguir com o processo de mobilização unitário que viemos construindo até agora, independentemente de avançar ou não a unificação que estamos propondo.

Caso os companheiros da Intersindical insistam em manter a divisão existente hoje, seguiremos fortalecendo a Conlutas, com todas as entidades e movimentos que realmente queiram unir os trabalhadores para sua luta imediata e também para os enfrentamentos mais estratégicos com o capitalismo.

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