A revolta teve início de maneira desordenada e foi se ampliando noite após noite. A maior parte dos manifestantes tem entre 14 e 20 anos, são descendentes de imigrantes sem acesso aos estudos e ao mercado de trabalho. Como num rastilho de pólvora, jovens, da Alemanha e da Bélgica, adotaram os mesmos métodos e também começaram a se manifestar.

A morte de dois adolescentes – filhos de imigrantes – eletrocutados ao entrar numa subestação de energia, ao fugir da polícia, foi apenas o estopim de uma latente revolta social contra a exclusão e descriminação vivida pelos imigrantes.

Para tentar conter a rebelião, o governo Chirac/Villepin/Sarkozy anunciou uma série de medidas de exceção. Utilizando uma lei de 50 anos atrás (adotada durante a guerra anticolonial da Argélia), decretaram o estado de emergência, que permite deter em prisão domiciliar, restringir a circulação de pessoas ou veículos, confiscar armas, fechar espaços públicos e decretar toque de recolher. Também proibiram reuniões e manifestações públicas que possam “resultar em desordens” na capital francesa.

Como se isso não bastasse, a França – dos direitos humanos e “referência mundial da cidadania” – resolveu deportar “estrangeiros envolvidos em distúrbios”. Sarkozy, o mesmo que chamou os imigrantes de “gentalha”, pediu que eles “sejam expulsos imediatamente do território nacional, incluindo aqueles que têm permissão de residência”.

A revolta dos descendentes dos imigrantes joga por terra o mito do “imperialismo civilizado”. Já é bem conhecido o repúdio contra Bush, a cara mais visível do imperialismo, por representar a hegemonia dos EUA e sua política de guerra. Mas muitos seguiam acreditando que o imperialismo europeu é diferente, humano e civilizado. A miséria dos subúrbios de Paris e a repressão policial apoiada em uma lei colonial acabaram com o mito: imperialismo é imperialismo, seja com a estupidez de Bush, seja com a educação francesa.

Post author Eduardo Almeida Neto e Jeferson Choma, da redação
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