O que existe de comum entre Lula e Nicolas Sarkozy? Aparentemente nada. Lula veio da “esquerda” e Sarkozy da direita. As aparências, no entanto, enganam. Ambos são governos a serviço das grandes empresas, como os bancos e as multinacionais, e não dos trabalhadores. Não é por acaso que nos programas de ambos estejam as reformas neoliberais: esta é a política do Banco Mundial e da grande burguesia internacional.

Sarkozy está tentando aplicar o plano de reformas ainda no início de seu governo, quando ainda goza de popularidade. Tenta impor mudanças nas aposentadorias e nas universidades. Enfrenta mobilizações importantes do funcionalismo, que agora se unificam com as estudantis, em greves que sacodem toda a França.

Se o governo Lula está tentando impor as reformas de forma combinada, o movimento de massas pode e deve também se unificar para lutar contra elas. A manifestação do dia 24 de outubro em Brasília apontou este caminho na maior mobilização unificada contra as reformas. Os estudantes, com as ocupações das reitorias contra o Reuni, demonstraram os primeiros movimentos de um processo que pode levar a uma greve geral das universidades ano que vem. A Conlutas está convocando uma grande mobilização com paralisações para abril de 2008. Esse dia unificado de lutas foi aprovado na plenária conjunta entre Conlutas, Intersindical, Pastorais e demais organizações que impulsionaram o ato na capital federal.

As mobilizações na França mostraram que este é o caminho correto. O funcionalismo está se unindo com os estudantes em greves contra as reformas de Sarkozy. Os trabalhadores e estudantes brasileiros podem tomar este exemplo como preparação para as lutas do ano que vem.

Isso é ainda mais importante porque Lula tem uma vantagem em relação a Sarkozy. Este último já chegou ao governo identificado pelos setores mais avançados dos trabalhadores e estudantes franceses como um inimigo. Apesar de ter ganhado as eleições, Sarkozy assumiu o governo tendo contra si boa parte do movimento sindical e estudantil francês. Lula, ao contrário, chegou ao governo em meio a uma expectativa enorme dos trabalhadores de que sua vida fosse mudar. A experiência do primeiro mandato serviu para diminuir em muito essas expectativas, mas ainda não para que os trabalhadores entendam que Lula é um inimigo de seus interesses.

Esta é a primeira tarefa de todos os ativistas do movimento sindical, estudantil e popular no próximo período: ir para as bases explicar pacientemente o que está se passando. Explicar como Lula está preparando essas reformas e que devemos fazer aqui como na França. A preparação das lutas do próximo ano já começou. Entre o Brasil e a França existe muito mais que uma rivalidade futebolística, existe um exemplo a ser seguido.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 322
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