Há alguns anos estamos vendo muitas greves operárias acontecerem no Brasil. Vimos Belo Monte, Jirau, Comperj, metalúrgicos do ABC, os operários nos estaleiros, na fábrica de armas da Imbel, e outras “categorias da ferramenta” enfrentarem os patrões. À frente dessas lutas estavam operários e operárias que se organizavam e dirigiam seus colegas rumo à vitória. Em sua maioria, esses líderes são bastante religiosos, das mais diversas congregações. Lideranças forjadas no combate, armadas com a espada da racionalidade e municiados pela fé na classe operária, e em Deus. Será então que a luta por igualdade e justiça, presente nas greves, tem algo relacionado com o cristianismo? Será que as igrejas podem apoiar esses pais e mães de família em sua luta ou essas mesmas igrejas irão preferir uma “Vigília dos Empresários”?

Os cortes de direitos trabalhistas, o desemprego e a bancada evangélica
Agora estamos num momento crítico para os trabalhadores no país. A presidenta Dilma inaugurou uma série de ataques aos direitos trabalhistas, demissões em todo canto, aumento no preço da gasolina, da energia e até da água que está em falta. Tudo isso por um único motivo. Dilma, assim como a maioria dos picaretas de Brasília, tem rabo preso com aqueles que financiam suas campanhas. Eles estão do lado dos grandes empresários.

A peãozada vai se levantar para enfrentar os patrões. Poderemos ter ainda mais greves e combates duríssimos com muitas famílias penalizadas, lutando por emprego, direitos e comida. Fica então a pergunta: será que a bancada evangélica irá enfrentar esses ataques aos trabalhadores? Achamos que não! Essa bancada é formada pelos mesmos partidos que fazem esses ataques e possuem estreitas relações com nossos patrões. São do PMDB, PP, PR e principalmente o PSC que, inclusive, lançou candidato a presidente.

A bancada evangélica tem bastante força no governo. Se fosse um partido seria o terceiro maior no Congresso e poderia, por dentro das instituições, barrar esses projetos. Mas para isso teriam que enfrentar os patrões que financiam suas campanhas. O atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um dos principais líderes dessa bancada e sua campanha recebeu R$ 6,8 milhões da Vale, Bradesco, Shoping Iguatemi e até, quem diria, da AmBev.

Ou então, poderíamos esperar que grandes líderes religiosos usassem de sua oratória para chamar os trabalhadores às ruas lutar. Silas Malafaia, o dito “homem de coragem”, poderia fazer de sua grande “Marcha da Família com Jesus” uma manifestação pacífica em defesa dos direitos trabalhistas. Ao invés disso, Malafaia é um grande entusiasta dos parlamentares evangélicos sem qualquer crítica dessa relação promíscua com empreiteiras e bancos. Aliás, deu várias declarações de apoio a Eduardo Cunha. Não acreditamos que sua “coragem” está à altura dos líderes operários que estarão de peito aberto nas futuras lutas.

As igrejas e as lutas sociais
Mas algum irmão poderia dizer: A Igreja não tem obrigações com greves e protestos! Não é responsabilidade dela!

O irmão pode estar certo, mas, as igrejas realizam trabalho político sim. E existem duas maneiras de fazer política. Não se faz política apenas no parlamento. Não é só por dentro das instituições que se luta. É nas ruas, nos canteiros de obras, nas fábricas. Aliás, é nesse terreno que políticos e patrões tem medo de nós, operários. Então quer dizer que em matéria de política as igrejas podem atuar no parlamento, que mais parece um balcão de negócios dos empresários, mas a política das ruas, das greves e dos protestos ela deve ignorar? Grandes líderes religiosos não pensavam dessa maneira.

Martin Luther King foi um deles.  Pastor da Igreja Batista e líder negro, desafiou a superpotência americana com o seu discurso contra o racismo, a guerra do Vietnã e a pobreza. Organizou dezenas de marchas pacíficas, foi perseguido e teve sua casa atacada. Foi assassinado, mas seu legado se perpetuou. Também na luta contra o racismo, surgiu no Estados Unidos, em Bogalusa, os Diáconos da Defesa. O grupo foi formado por peões de uma fábrica e se congregavam numa igreja da cidade. Os negros eram muito perseguidos por um grupo radical da igreja católica chamado de KuKluxKlan que espalhava terror “em nome de Deus”. Os policiais da cidade, junto com o governo, mantinham boas relações com esses extremistas. Os diáconos se organizaram e tiveram que se armar pra defender suas famílias. Seu quartel general era a Igreja.

Esses movimentos se inspiravam nos mandamentos mais essenciais do Evangelho. O amor ao próximo, a igualdade e a justiça. Mas também, eram alimentados por uma outra ideia que emanava da classe operária e contagiava o espírito revolucionário de todos os explorados e oprimidos do mundo: o socialismo. Essa ideia trazia a paz entre os trabalhadores e o fogo aos patrões.

Não achamos que as igrejas devam se tornar o espaço das lutas operárias. Isso quem determina são os próprios fiéis. Achamos que as igrejas devam ser um corpo de correligionários, independentes politicamente e economicamente de qualquer governo, onde os trabalhadores tenham a liberdade de professar qualquer religião.

Mas os trabalhadores devem saber separar o joio do trigo. O que nos une é nossa condição de trabalhador independente da religião, cor e sexualidade. Do outro lado estão os patrões que já possuem tudo e querem muito mais. Não pode haver igualdade se existe explorador e explorado pois, “é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus”.