Henrique Carneiro, professor da USP e militante do PSTU

O Portal do PSTU conversou com Henrique Carneiro, professor da USP, estudioso do tema das drogas e militante do PSTUQual é sua avaliação da Marcha realizada ontem em S. Paulo e das demais que estão ocorrendo Brasil afora?
Henrique Carneiro A marcha de São Paulo e em cerca de outras 40 cidades no Brasil é a culminação de um processo de lutas de muitas décadas. A marcha de São Paulo, com mais de cinco mil pessoas, e a do Rio de Janeiro, com um número semelhante, foram as maiores manifestações públicas pela legalização da maconha já ocorridas no Brasil e em cidades, grandes, médias e pequenas se repete essa saída às ruas de uma parcela oprimida da população, de milhões de pessoas, que consomem maconha e querem seus direitos civis garantidos.

Um dos temas que tem cruzado todas as lutas atuais é o combate à higienização étnico-social, à criminalização da pobreza e dos movimentos sociais (a exemplo do Pinheirinho, dos atingidos pelas “grandes obras”, etc). Como você avalia a luta pela legalização das drogas dentro deste contexto?
A campanha pelo aproveitamento maior de certas áreas urbanas pela especulação imobiliária usa o pretexto do crack para desalojar pobres e reprimir usuários. Ao invés de condições estruturais de assistência à população, como emprego, moradia e atendimento de saúde e educação, o Estado Penal hoje vigente só aumenta o orçamento da repressão e do encarceramento.

Quais são os próximos passos do movimento e quais as reivindicações diante do governo Dilma?
Os próximos passos do movimento antiproibicionista se darão em vários “fronts”. No judiciário, há a discussão no STF da inconstitucionalidade do crime de uso de drogas ilícitas. No âmbito acadêmico, cientistas e professores organizam congressos este ano em Brasília e São Paulo para o debate de políticas alternativas. No mundo do ativismo, se busca ampliar a divulgação para marchas ainda maiores e para uma campanha permanente de esclarecimento sobre a realidade da Cannabis e do seu uso potencial positivo, para fins terapêuticos e recreativos. Um desafio que permanece é a formulação de uma ruptura com os tratados internacionais da ONU e a proposta de uma regulamentação nova descriminalizante da Cannabis em âmbito mundial.