Existiu um espaço de oposição de esquerda importante nessas eleições. Mesmo com a pressão do voto útil, houve uma expressiva votação da esquerda em boa parte do país, em particular com o PSOL no primeiro turno: Edmilson (PSOL, Belém) com 32%; Freixo (PSOL, Rio) 28%; Clécio (PSOL, Macapá) 27, 8%; Elson (PSOL, Florianópolis) 14%; Renato Roseno (PSOL, Fortaleza) 11,8%; Vera (PSTU, Aracaju) 6,6%; Belo Horizonte (PSOL, com 4,2% e Vanessa do PSTU com 1,5%). Outra coisa, muito diferente, é a utilização, em geral, equivocada dada pelo PSOL a esse voto de esquerda.

Esse espaço à esquerda é um elemento novo na realidade nacional, que pôde ser sentido em todo o país, mesmo nos locais em que a pressão pelo voto útil reduziu significativamente a votação efetiva. Por exemplo, em São Paulo, em que os votos na oposição de esquerda foram poucos, pela pressão do voto “útil para derrotar Serra”, Haddad teve de girar sua campanha à esquerda para ocupar este espaço. Uma campanha que começou com o apoio de Maluf, terminou “contra a candidatura dos ricos” (Serra).
Esse é um dos temas mais interessantes que surgem do balanço dessas eleições. Qual é a origem desse espaço eleitoral maior à esquerda? Como as eleições são reflexos distorcidos da realidade política, qual é a explicação para esse resultado? Será expressão do desgaste acumulado pelos dez anos de governo de frente popular? Um certo desencanto com os partidos majoritários, que também se expressou no aumento dos votos nulos e brancos? Um reflexo em uma fatia minoritária com a desaceleração econômica? Ou do ascenso sindical, com as lutas importantes que tem ocorrido? Ou ainda das denúncias do mensalão, que repercutem em um setor minoritário das massas? Outro elemento importante, que surge a partir daí é indicar sua dinâmica. Vai tender a se ampliar ou é mais conjuntural?

Se combinamos os dois elementos mais importantes desse balanço (a vitória petista e o aumento do espaço da oposição de esquerda), vemos uma votação mais à esquerda que a eleição passada, indicando mudanças na realidade política do país.
É importante localizar que essas mudanças se dão no marco da situação de estabilidade econômica e política. Ou seja, não houve uma mudança qualitativa da relação de forças entre as classes. Lembremos que o maior avanço na reorganização até o momento – a formação da CSP Conlutas – veio no marco da mesma situação de estabilidade combinada com um ascenso sindical.

Existe certo desgaste do governo petista em alguns setores do movimento de massas depois de 10 anos de experiência. Nessas eleições se expressou também certo desgaste do regime (desgaste, não crise), com uma ampliação da abstenção e dos votos nulos e brancos. Mesmo com a polarização eleitoral, 25% deixou de votar em algum partido. Não se trata de um elemento de qualidade, mas de um crescimento quantitativo nesse sentido.
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