Com poucos debates, encontro apenas serviu para lançar candidatura de Heloisa HelenaO P-SOL realizou seu Encontro Nacional durante o Fórum Social Mundial. Existia uma expectativa por parte de diversos setores de vanguarda de que esse encontro pudesse avançar nas definições desse partido. Nada, no entanto, foi resolvido e o Encontro empurrou todas as deliberações mais para adiante, a não ser o lançamento da candidatura de Heloísa Helena.

Para ampliar o sentimento de frustração, o Encontro teve uma presença pequena, cerca de 600 pessoas, considerando que se tratava de um evento aberto, com a presença de grande delegação internacional. Para piorar, Heloísa Helena não esteve presente, alegando um problema de saúde.

A carta aberta
Antes da realização do Encontro, o PSTU lançou a Carta Aberta aos Militantes do P-SOL, na qual caracterizava o desgaste do governo Lula e apontava para a necessidade de construir uma alternativa unitária ao PT e ao governo, apesar das diferenças programáticas.

A Carta dizia que: “Ainda com essas diferenças podemos e devemos ter pontos de unidade e saber valorizá-los. É tão importante identificar as diferenças com outras correntes como os possíveis acordos”.

Por esses motivos, a Carta apresentou duas propostas ao P-SOL. A primeira é que o Encontro definisse uma posição a favor da ruptura com a CUT e a UNE, e a favor da Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas.

É sabido que existem duas posições sobre o tema nesse partido. Um setor se mantém na CUT, desenvolvendo um ataque contra a Conlutas, caracterizando-a como “sectária e divisionista”. Outro quer a ruptura com a CUT e está a favor da Conlutas. Mas o P-SOL não tem nenhuma definição sobre o tema. Trata-se de um assunto da maior gravidade, na medida em que a CUT apóia a reforma Sindical, impulsionada pelo governo e pelo FMI.

A segunda proposta é a unidade também no terreno eleitoral. Todos sabem que o PSTU privilegia as lutas diretas dos trabalhadores e não as eleições, ao contrário do P-SOL. No entanto, podemos ter condições de avançar nesse terreno para uma postura unitária.

Na Carta, afirmamos: “Acreditamos que também em nível eleitoral deve se expressar a unidade da esquerda que luta contra o governo, dos ativistas das greves, mobilizações estudantis e populares, dos que levam adiante as lutas contra as reformas do governo. Para isso é necessário aliar a expressão destes movimentos sociais com os partidos de esquerda socialistas, como o P-SOL e o PSTU. A candidatura de Heloísa Helena pode ser muito importante, desde que se tenha clara a necessidade da paciência para a discussão do programa, suas relações com os movimentos sociais, das alianças. É necessária uma frente de esquerda, socialista e classista, que tenha um programa que aglutine as bandeiras tradicionais do movimento de massas”.

Além disso, a Carta propôs que, nessa frente, não houvesse nenhuma aliança com partidos burgueses, como o PDT: “O PDT é um partido burguês, tradicional representante do populismo, ligado a setores distintos da patronal em cada estado. Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, tem a participação de setores latifundiários. Hoje, está dividido em uma ala que busca uma aliança com o PSDB (em São Paulo participa do governo Serra) e outra que se alia com o PPS, sempre para fazer uma oposição burguesa ao governo. Uma aliança com o PDT seria uma ruptura de um campo de classe, socialista e de esquerda, que poderia viabilizar uma alternativa eleitoral unitária”.

A Carta ainda citava declarações de Heloísa Helena no Encontro Nacional do PDT para demonstrar a importância das negociações em curso com o P-SOL: “Aqui no PDT, assim como em outras poucas organizações que sobrevivem, estão os que não se dobram, os que não se curvam, os que não se ajoelham covardemente”. (…) “Espero que a gente consiga caminhar juntos! Mas, independente de qualquer futuro político, estaremos trabalhando muito para estarmos juntos, a certeza que tenho é que posso olhar no olho das companheiras e companheiros do PDT, querido Lupi, e dizer: Me orgulho como brasileira de que vocês estão aí. Firmes, para o triunfo que mais cedo ou tarde virá”.

Os poucos debates
No Encontro, houve pouco debate político real. O evento foi praticamente um ato em que se aprovou uma resolução política apresentada pela direção. Houve uma polêmica curta sobre o tema CUT/Conlutas, mas não se definiu nada. Júnia Gouveia, da executiva do P-SOL, defendeu que era certo estar tanto na Conlutas como na CUT, e propôs que não se resolvesse nada ali, transferindo a decisão para um encontro sindical, ainda em 2005.

Sobre a questão do PDT, houve uma discussão maior, que teve de ser levada à votação. Surgiram muitas críticas às negociações com o PDT, refletindo o desconforto de sua base sobre esse tema. Um pequeno grupo do ABC paulista propôs que o Encontro votasse que não haveria acordo com o PDT.

É interessante lembrar que no debate nacional da Conlutas, dois dias antes, Roberto Robaina, representante do P-SOL, afirmou: “Todos podem ficar tranqüilos porque esse acordo com o PDT não sairá”.

No entanto, perante a proposta concreta de um setor de sua base de romper as negociações com o PDT, se levantaram todos os membros da executiva nacional e Roberto Robaina propôs que o Encontro não votasse nada sobre a aliança porque isso prejudicaria as negociações em curso com o PDT. Foi votado, então, que a decisão seria transferida para o Congresso do partido, que não se sabe bem quando será realizado.

Enquanto isso, as negociações seguirão, sem nenhuma consulta à base. Mais uma vez, o funcionamento do P-SOL demonstrou ser idêntico ao do PT. Os encontros são formais, nada se decide. No fundo são os parlamentares que decidem a política do partido.

A resolução votada
Foi aprovada uma resolução, proposta pela executiva, que tem como tema central o lançamento de Heloísa Helena como candidata a presidente, como parte de um “bloco político e social”. O objetivo explícito é evitar a “polarização eleitoral PT x PSDB” que ocorreu em 2004. O texto não fala nada sobre a questão CUT/Conlutas.
A nosso ver, o objetivo central da esquerda é de construir uma grande mobilização dos trabalhadores, dos estudantes e do movimento popular que coloque em xeque a política econômica do governo e suas reformas Sindical, Trabalhista e Universitária. Assim poderemos ganhar politicamente as massas contra o governo, a burguesia e o PSDB. Ou seja, o objetivo deve estar no terreno das lutas e não só eleitoral. Para isso é central a construção da Conlutas, para que possamos construir essa mobilização.

Mas, no terreno eleitoral, onde também é necessário dar uma resposta política, o objetivo de “evitar a polarização PT x PSDB”, legaliza a idéia de que este “bloco político e social” inclua o PDT e outros partidos burgueses.

Chamamos os companheiros a rever essas posições, a chamarem a ruptura com a UNE e a CUT e virem conosco conformar a Conlutas. Chamamos também a que rompam as negociações com o PDT e venham discutir uma proposta de uma frente eleitoral de esquerda, classista e socialista.

  • Faça o download da Carta Aberta aos Militantes do P-SOL, na seção Downloads

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