Em ma reportagem do jornal “O Globo” dessa sexta-feira, 22 de julho, foram reveladas várias gravações que dão fortíssimos indícios (senão provas) da relação entre membros do governo, particularmente José Dirceu, do Congresso (Roberto Jefferson) e do PT (Delúbio Soares) com o argentino César de La Cruz Arrieta, chefão da organização criminosa especializada em fraudar a Previdência e a Receita Federal, que se encontra preso, em Porto Alegre, desde abril deste ano.

Nas fitas, gravadas entre janeiro e fevereiro de 2005, integrantes da gangue de Arrieta conversam sobre a formação de uma “caixinha” para a compra de apoio político na Câmara e citam, além dos nomes mencionados acima, o Banco Rural, o mesmo por onde circulou a dinheirama do “empréstimo” feito por Marcos Valério.

As menções aparecem em várias conversas, entre o braço-direito de Arrieta, Marcio Pavan, com dois interlocutores identificados como Marcelo, contato da organização em Brasília, e Denis.

Intimidade entre gangue José Dirceu e Delúbio
Em uma conversa com Denis, em 26 de janeiro, Pavan menciona os R$ 10 milhões que o PT estaria arrecadando para pagar o PTB, de Roberto Jefferson, utilizando-se de alguns “códigos”: “É da Câmara dos Deputados, do 001 que tem que levantar 10 (milhões) para fechar com o trabalhista e os outros lá, que é encomenda do 001, só que está faltando R$ 70 mil e que já mandou R$ 50 mil de um outro negócio que estão conduzindo com a gente”. Questionado se o pedido do dinheiro está sendo feito pelo “Zé”, Denis responde que não, mas sim “pelo próprio tesoureiro”.

Em outra conversa, no dia 27 de janeiro, o nome do tal “tesoureiro”, que também é tratado nas conversas como “o barbudinho“, aparece com todas as letras, desta vez numa negociata envolvendo a prefeitura de Goiânia, na tentativa de abrir uma vaga para o irmão do ex-tesoureiro do PT, que era suplente de vereador: “ele pediu ajuda para acertar o negócio com o Delúbio, que no miolo é Tarcísio e Aucelis. O Delúbio precisa fazer uma caixinha perto dos rolos que ele fez, quer 70 mil reais”.

Nesta mesma conversa, Marcelo Pavan faz referência direta ao “mensalão”, afirmando que o “homem forte está precisando de troco, está fazendo caixa par o PTB para ganhar a eleição na Câmara”. E, no mesmo dia, em outra gravação, Pavan refere-se diretamente a José Dirceu: “Estou no aguardo de uma conversa com o próprio José Dirceu, assunto do Goiabeira. Ficou de marcar até o final de semana. Hoje teve uma explicação com o assessor. Ele designou uma pessoa, o primo dele”.

O tema do mensalão também vem à tona no dia 9 de fevereiro: “Esse Delúbio juntou R$ 10 milhões para o PTB. Esse dinheiro é para o Ricardo (evidentemente, queria dizer Roberto) Jefferson para acomodar a gurizada dele na Câmara”.

As revelações que, evidentemente, são explosivas não só ampliam a dimensão da crise como também, se forem comprovadas, jogam o PT e o governo para um outro patamar no que se refere aos esquemas de corrupção.