Luiz, mandado embora após vinte e cinco anos de empresa
Diego Cruz

Eles fizeram o lucro da Vale e agora são mandados para a ruaDurante o período de crescimento econômico, eles sustentaram os lucros recordes da Vale. Agora, com a crise econômica internacional e a redução da produção, amargam o desemprego. É o drama dos demitidos. Após passar meses contestando a crise e anunciando novos investimentos, a mineradora simplesmente começou a demitir, jogando para a rua funcionários com mais de vinte anos de casa.

Trabalhadores como o itabirano Luiz Citty, que atuou por 33 anos na área de mineração, dos quais 25 na Vale. Técnico em mecânica, Luiz foi demitido no dia 2 de dezembro, tendo apenas como justificativa a crise internacional. “A Vale dizia que iria apenas fechar algumas minas e remanejar o pessoal, mas de repente começou a demitir em massa”, diz. O ex-funcionário da Vale trabalhava na mina de Cauê, berço da mineradora e que foi paralisada pela empresa depois de 63 anos de atividade ininterrupta.

Demissões ocultas
No final do ano a Vale anunciou 1300 demissões nos países em que atua, sendo 80% só em Minas. A mineradora afirma que a região de Itabira foi pouco afetada. O sindicato contabiliza pouco mais de 70 demitidos. Os terceirizados mandados para a rua, porém, superam os 1.500. Para um município que depende diretamente da mineração, os efeitos são catastróficos, aumentando ainda mais o drama dos demitidos.

Com um filho na faculdade, Luiz planejava fazer um curso superior. Mas o inesperado presente de natal o forçou a mudar os planos. “Eu achei isso aí um absurdo, ainda mais pelo fato de sermos demitidos em pleno final de ano, na época de natal e ano novo”, diz indignado. “Sinto também pelo colegas, o clima lá dentro é muito pesado, de muita pressão, tudo hoje dizem que vai ser demitido”. Ele agora vai tentar se aposentar. Coisa que nem todos podem fazer.

É o caso de outro demitido ouvido pelo Portal do PSTU, que não quis se identificar. Também técnico em mecânica, ele trabalhava há quase 22 anos na Vale. “Me demitiram no dia 3, disseram que eu não atendia mais às expectativas da empresa”, disse. Uma das justificativas dada pela Vale para as demissões dá conta que elas já estavam programadas e levavam em conta os funcionários que não atendiam às metas da companhia. Algo que o trabalhador demitido contesta. “Em todos esses anos, nunca tive qualquer tipo de advertência, nada“.

Com família e dois filhos pequenos, um de sete anos e outro bebê, de apenas oito meses, o funcionário é a imagem do descaso da mineradora privatizada. “O sentimento é de frustração, indignação mesmo,”, resume.