Em 1993, a Organização das Nações Unidas (ONU), em assembleia geral decidiu marcar o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água. Os moradores do sertão nordestino não têm nada a comemorar nesse dia, ao contrário, os movimentos sociais fazem dessa data um dia de luta em defesa do Velho Chico.

O projeto de transposição das águas do rio São Francisco, orçado em R$ 5,53 bilhões, segue a todo vapor. A morte do rio continua no mesmo ritmo. Os projetos de revitalização apresentados pelo governo nunca saíram do papel. Em compensação as obras dos eixos Norte, em Cabrobó (PE), e Leste, entre Floresta (PE) e Petrolândia (PE), avançam.

O projeto destinará 80% das águas transportadas para irrigação, isto é, atenderá os interesses dos grandes latifundiários. A obra completa prevê a construção de 700 quilômetros de canais de concreto, nos quais a água, para chegar ao seu destino, terá de subir montanhas, inundará vários pontos para a construção das 23 barragens, desalojando quase 1 milhão de famílias.

Toda essa megaconstrução não resolverá o problema da falta de água na região, pois os locais que mais necessitam de recursos hídricos não serão contemplados, como a região do Seridó. Estima-se que somente 0,28% da população que realmente necessita dessa água será beneficiada. O projeto não levará água às casas das pessoas que sofrem com a seca no sertão.

O jornal baiano A Tarde, em sua edição 33.219 (21/3/2010), em reportagem especial, mostrou a falta de água para famílias de Cabrobó que moram a 50 metros do rio. Também noticiou a poluição, a falta de saneamento básico nas cidades ribeirinhas e os esgotos que são despejados no Velho Chico.

Com o dinheiro investido pelo governo federal na obra da transposição seria possível construir alternativas para solucionar o problema da seca em todo o Nordeste brasileiro, sem agredir o meio ambiente, respeitando o sertanejo e sem beneficiar grandes empreiteiras.

Transposição, um cabo eleitoral
Utilizando-se do discurso de que a transposição levará água para quem não tem, aproveitando-se da seca, da miséria e da fome do sertanejo, o governo Lula utilizará a obra como mote de campanha.

Mais uma vez a seca no Nordeste torna-se uma forte arma eleitoral. Na Bahia, o PT e o PMDB disputam, com ofensas mútuas na imprensa, para ver quem é o pai da transposição. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira (PMDB), afirma que é ele. Mas o então presidente estadual do PT, Jonas Paulo, reivindica para si a paternidade.

Enquanto isso, a seca continua, o Velho Chico agoniza e o sertanejo sofre há décadas.