Com arrogância, mídia dos EUA faz campanha para impedir apuração das causas do acidente com Boeing da Gol e jato LegacyO trágico destino do vôo 1907 provocou muita comoção, mas também muitas controvérsias sobre as suas causas. Por ser uma investigação demorada e minuciosa, é preciso ter muita cautela para evitar conclusões precipitadas. Apenas uma detalhada reconstituição e o acesso às caixas pretas das aeronaves, combinadas com a análise dos destroços do avião poderão permitir descobrir as reais causas do maior acidente aéreo brasileiro, que vitimou 154 pessoas. Entretanto, alguns detalhes que podem ter causado a tragédia começam a ser sendo reveladas.

Um desses é relacionado ao plano de vôo do jatinho Legacy, que colidiu com o Boeing da Gol. O plano de vôo do Legacy previa que a aeronave voasse a 37 mil pés (cerca de 12 km de altura) de São José dos Campos (SP) a Brasília, baixasse a 36 mil pés, após passar por essa cidade, e subisse a 38 mil a partir de um ponto da carta de aviação chamado Teres. Esse ponto fica a menos de 15 minutos, na velocidade do avião, do local onde houve a colisão entre o Legacy e o avião da Gol. O documento mostra contradições com os depoimentos do piloto Joseph Lepore, 42, e do co-piloto Jan Paul Paladino, 34, prestados à Polícia Civil após o acidente. Os dois disseram que mantiveram uma altitude de 37 mil pés, seguindo o plano de vôo. Sabe-se agora que o plano não previa a manutenção da altitude. Essa revelação reforça a hipótese de que tenha ocorrido alguma falha dos pilotos do Legacy. Algo que somente o aprofundamento das investigações poderá confirmar.

Contudo, o que realmente chama atenção é a reação furiosa da imprensa norte-americana. A polêmica começou com as declarações do jornalista americano Joe Sharkey, que afirmou que o controle aéreo brasileiro é “péssimo“. O jornalista do “The New York Times“ viajava no Legacy. Em seguida, uma sucessão de reportagens foi publicada pela imprensa norte-americana, minimizando o envolvimento dos dois pilotos no acidente. A imprensa dos EUA defende a tese de que houve falhas no sistema de controle aéreo brasileiro, apoiando-se em depoimentos de controladores de tráfego e pilotos, que reclamam de carga de trabalho pesada e deficiência no monitoramento do espaço aéreo.

Os pilotos dos EUA tiveram seus passaportes retidos pela Justiça brasileira. A retenção dos pilotos é um procedimento normal. Ainda mais em uma situação onde há evidentes contradições entre o depoimento e os fatos. Mas não é assim que pensam os norte-americanos. O dono da ExcelAire, empresa aérea proprietária do jato, chegou a pedir “intervenção política“ para que os pilotos voltem aos Estados Unidos. Pilotos norte-americanos declararam que “estão evitando” sobrevoar o Brasil. Até mesmo a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, está sendo acionada indiretamente para ajudar a retirá-los do Brasil.

Algo que contrasta radicalmente com os procedimentos que seriam adotados nos EUA caso houvesse uma inversão dos papéis. O que aconteceria se um desastre aéreo como o do vôo 1907 ocorresse em solo norte-americano, envolvendo pilotos estrangeiros? Certamente seriam imediatamente detidos, colocados em isolamento absoluto e acusados de “terroristas”. Exagero? Certamente não, para um país cujo Senado vota uma lei legalizando a tortura dos milhares de prisioneiros acusados de “terrorismo”. Ou ainda, um país no qual um dos seriados com maior audiência é o “24 horas”, com a correria do “herói” Jack Bauer, perseguindo e torturando indiscriminadamente “suspeitos” de conspirarem contra o seu governo.

O caso do brasileiro Jean Charles, assassinado pela polícia de Tony Blair, aliado de Bush na ocupação do Iraque, mostra com toda crueza como são tratados os suspeitos de terrorismo pelos senhores da guerra. Mais do que uma demonstração da arrogância imperialista, a atitude da imprensa norte-americana é, sobretudo, um total desrespeito a dor das pessoas que perderam amigos e familiares neste desastre.