À crise do imperialismo se junta o ascenso das lutas das massas trabalhadoras e estudantis da América Latina. Grandes greves, mobilizações de rua e mesmo insurreições sacudiram o continente neste início de século. O processo se estende, atingindo governos antes estáveis, como os do Chile e do México.

É claro que existem grandes desigualdades entre cada país, como o Brasil que segue na retaguarda da luta de classes no continente. É importante observar também que essa nova realidade permanece ainda nos marcos da democracia burguesa, que segue sendo uma arma importante para a burguesia. Mas nunca tivemos, ao mesmo tempo, tantos governos de frente popular (com dirigentes e organizações do movimento operário e representantes da burguesia) e nacionalistas burgueses. Estão envolvidos os mais ricos países do continente, como Brasil, Argentina e Venezuela (o México ficou de fora por uma fraude eleitoral), e países de tradição revolucionária como a Bolívia.

Essa nova realidade joga por terra o tradicional argumento dos reformistas, que sempre negavam qualquer ruptura com o imperialismo porque “ficaríamos isolados”. Hoje a realidade é oposta: existiria um amplo apoio de massas a uma proposta radical de rompimento.

Imprensados pela crise do imperialismo e a radicalização das massas, recentemente começou uma onda de nacionalizações, impensáveis desde a década de 80. O projeto da Alca, tal como foi proposto pelo governo dos EUA, vive profunda crise e pode ser detonado. Os tratados bilaterais de livre comércio (TLCs) são uma alternativa para o imperialismo, mas falta a eles a importância continental da Alca.

Mas estes novos governos “de esquerda” não apontam para qualquer ruptura real, mas para negociações de seus interesses em melhores condições com o imperialismo. E o governo Bush já está se rearmando estas negociações. Em agosto do ano passado, Thomas Shannon foi nomeado sub-secretário de Estado para as Américas. Segundo Jorge Domínguez, professor de Harvard, a nova política de Bush para a América Latina busca “evitar erros”, como o apoio ao golpe na Venezuela de 2002, e busca “deixar que seus parceiros na América Latina, principalmente o Brasil, lidem com potenciais desafetos dos EUA na região, entre eles Chávez e o boliviano Evo Morales”. O novo secretário Shannon disse que os “Estados Unidos não desejam uma política de confrontação com o governo do presidente Hugo Chávez”, e teve uma postura de clara aceitação e negociação perante as nacionalizações do governo venezuelano.
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