A crise política atingiu com força o Congresso Nacional. A revelação de que Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados, teria cobrado um “mensalinho” para renovar o contrato de funcionamento de um restaurante no Congresso parece indicar mais do que o fim da linha para o deputado picareta. Expõe com toda transparência qual a cara e a alma deste Congresso repleto de Severinos.

Covil de picaretas.
Todos sabem que o Congresso não passa de um antro de corruptos e bandidos. É lá que se realizam as grandes negociatas, por meio de lobbys entre parlamentares e grandes bancos, empreiteiras, latifundiários, donos de escolas privadas, donos de TVs, jornais e um longo etc. Esses senhores financiam as campanhas dos parlamentares e, depois das eleições, cobram sua fatura. Mas há ainda a compra direta de votos pelos governos e por grandes capitalistas para aprovar leis que os beneficiem. O “mensalinho” de Severino na verdade não passa de um pequeno trambique diante das tenebrosas transações dos parlamentares.

Sem retoques
Severino é o retrato sem retoques do típico parlamentar. Mais ainda: é a cara, sem disfarces, do Congresso. Ignorante, corrupto, fisiológico, homofóbico e defensor do trabalho escravo, Severino diz publicamente aquilo que se ouve apenas nos corredores do poder.

Depois que defendeu a não punição dos deputados envolvidos no escândalo do mensalão e do caixa dois em campanhas eleitorais, Severino ouviu uma saraivada de críticas, de Fernando Gabeira (PV-RJ) até ACM Neto (PFL-BA).

Com o dedo em riste, Gabeira, que, diga-se de passagem, compartilha da mesma legenda do filho de José Sarney e do ministro Gilberto Gil, está sendo apresentado como um herói depois que exigiu que Severino “ficasse quieto”. De certa maneira, o deputado do PV falou o que os grandes partidos queriam dizer e ouvir: roubar e articular a não punição de picaretas tudo bem, o que não pode é sair falando disso por aí.

Imprensa e oposição de direita tentam mostrar Severino como um político atrasado, utilizando-se do preconceito contra nordestinos, atitude que deve ser repudiada radicalmente, para dar a impressão de que ele representa uma minoria no Congresso. Uma grande farsa. O Congresso sempre foi composto por corruptos. A maior prova é que Severino não é o único presidente da Câmara, acusado de corrupção. Os ex-presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e Inocêncio de Oliveira (PFL-PE), também estão envolvidos em casos de corrupção (ver quadro). No Senado, presidido por Renan Calheiros (PMDB-AL), a situação não é diferente. Passaram pela Presidência da instituição nada mais nada menos do que ACM e Jader Barbalho.

Severino é igual à maioria dos picaretas que vivem de migalhas das grandes negociatas. Essas negociatas, por sua vez, são realizadas por um seleto clube, que envolve os grandes partidos (PT, PMDB, PSDB e PFL), que preferem tratar de seus “negócios” em ambientes muito mais sofisticados e refinados, como as ante-salas do Palácio do Planalto ou de grandes empresas, do que num bandejão por quilo.

Descartável
No início do ano, a oposição de direita aproveitou a divisão do governo na eleição para a presidência da Câmara e elegeu Severino. Como um picareta que se preze, Severino deixou a oposição pouco depois e passou a defender o governo, quando ganhou de Lula o Ministério das Cidades, e seu filho foi nomeado para um cargo no governo.

Antes de presidir a Câmara, em 2002, Severino, então primeiro-secretário, teria exigido R$ 60 mil do empresário Sebastião Buani, com o seguinte argumento: “Você sabe, eu sou um homem que não tenho empresas e, neste ano de eleição, a gente precisa de uma ajuda”.

As denúncias das propinas de Severino vieram à tona e agravaram a crise. Não sendo mais útil a oposição de direita, Severino agora é descartado pelo PSDB/PFL, que defendem o seu afastamento da presidência da Câmara. Caso contrário, irão pedir a cassação de seu mandato. Severino, contudo, resiste e promete que, se perder o mandato, vai arrastar para a lama outros deputados, revelando os trambiques que passam pelo Congresso. Por outro lado, o governo adota uma postura ambígua em relação a Severino, um de seus principais aliados no Congresso.

Líderes governistas, por ora, evitam declarar que são favoráveis ao afastamento, pois temem perdê-lo como aliado. Mas tampouco o defendem publicamente, porque não pretendem se desgastar. Limitam-se a dizer que ainda “não existem provas” contra ele.

O afastamento de Severino
As declarações de Severino contribuíram para piorar ainda mais o quadro da crise institucional. A última pesquisa do Ibope revelou que 90% da população não confia no Congresso, registrando o pior índice de credibilidade de toda a história da instituição. Preocupados, a oposição burguesa e o governo Lula começam a preparar um plano no caso de Severino sair do cargo. O objetivo seria apresentar um nome que simbolize uma ala “ética” do Congresso. Tarefa difícil, que pretende enganar a população colocando um novo picareta, mais habilidoso do que Severino. E que principalmente “fique calado” em relação aos trambiques.

Fora Todos!
É crescente o sentimento de indignação da população. Esse sentimento deve-se traduzir em uma alternativa dos trabalhadores diante da crise. A corrupção no Congresso não irá acabar com a substituição de Severino por outro picareta. É preciso chamar o Fora Todos! Fora Lula, Congresso, PSDB, PFL… Por isso, o PSTU está construindo a jornada de atos nos estados, convocada pela Conlutas. A cassação de Severino é urgente, mas, além de pôr para fora o picareta, é preciso ir às ruas, impedir o acordão entre PT e PSDB/PFL e acabar com a farra no Congresso e no governo.