Entre os dias 27 a 30 de abril, será realizado em Sumaré (SP), o I Congresso Nacional da CSP-Conlutas. Para falar sobre os desafios do congresso e como o evento está sendo preparado, o Opinião Socialista entrevistou dois membros da Secretaria Executiva NaQual é a importância desse congresso?
Sebastião Cacau – Além de consolidar a CSP-Conlutas, este congresso é ainda mais importante por causa do momento em que acontece. O ano passado, primeiro ano com Dilma, foi marcado pela retomada do ascenso sindical no país. De norte a sul ocorreram muitas greves e mobilizações dos trabalhadores, e com um grande destaque: a volta das mobilizações operárias, na construção civil, nas obras do PAC e nas montadoras de automóveis.

Nos canteiros das obras do PAC, foram verdadeiras rebeliões contra as condições de trabalho, enfrentando as empresas, os governos, a violência da polícia e as traições da burocracia sindical.

Todas essas mobilizações levaram a CSP-Conlutas a um plano de destaque nacional, pelo papel que a central cumpriu, levando apoio e solidariedade à mobilização.

A luta nos canteiros continua. Na semana passada, inclusive um operário morreu em Belo Monte…
Atnágoras Lopes – Sim. As condições de trabalho são revoltantes. Para se ter uma ideia, em 2009 foram libertadas 38 pessoas em condições de trabalho semi-escravo na obra de Jirau.

Nesta semana, pela primeira vez, eu tive a oportunidade de visitar Belo Monte. A situação é explosiva. Levei nossa solidariedade aos cerca de 43 mil operários que estão em uma forte greve nos canteiros das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, duas das principais obras do país. Além do aumento salarial e direitos, os trabalhadores denunciam abusos das forças policiais. Para garantir a obra, as tropas ocupam o local desde março de 2011, exibindo armamento pesado.

Agora, vamos denunciar essa situação e levar as reivindicações deles para a mesa nacional de negociação, onde também estão representantes do governo e dos consórcios.

Como isso vai se refletir no congresso?
Cacau – . O congresso será o espaço onde as lutas se encontram. Nós queremos que esses processos de luta se reflitam lá em Sumaré, inclusive com a presença de muitos dirigentes dessas mobilizações, lideranças das greves etc. E, obviamente, o congresso precisa aprovar campanhas políticas para o próximo período, que será, sem dúvida, de muitos enfrentamentos.

Uma dessas campanhas deve ser contra os crimes que estão sendo cometidos em nome da realização da Copa do Mundo. Além das greves nos estádios, hoje há uma jornada nacional de luta, contra os despejos e remoções que estão ocorrendo em larga escala nas obras dos estádios. Nessa mobilização tem destaque os setores do movimento popular que compõem a Resistência Urbana – Frente Nacional de Movimentos.

Qual é a expectativa para o congresso, em termos de delegações?
Cacau – Devemos reunir cerca de 2.500 participantes, entre delegados e observadores. Além dos sindicatos e movimentos populares urbanos e rurais, estarão presentes os movimentos de luta contra as opressões e o movimento estudantil, representado pela Assembleia Nacional de Estudantes-Livre (ANEL).

Na véspera do Congresso teremos ainda um encontro das mulheres trabalhadoras que se organizam na CSP-Conlutas, junto com o Movimento Mulheres em Luta (MML), para tratar da luta da mulher trabalhadora contra a opressão e a atuação com os sindicatos (leia na página seguinte).

Há aproximações de entidades, como a Fenasps, e também a adesão de novos sindicatos. Como você avalia esse processo?
Cacau – A CSP-Conlutas, embora seja uma central minoritária, se fortaleceu no último período e temos a possibilidade de trazer ao Congresso não só as representações das entidades filiadas, mas uma vanguarda mais ampla, organizada em seus locais de trabalho, de moradia e nas escolas. E também das entidades que ainda não se decidiram pela filiação à nossa Central, mas nos vêem com simpatia.

Nós continuamos perseguindo o objetivo da unidade dos setores combativos numa mesma central sindical e popular classista. O CONCLAT, em 2010, apesar da ruptura de um setor minoritário, deu passos nesse sentido. Temos agora a possibilidade de seguir avançando.

Nesse sentido, valorizamos muito a posição assumida pela diretoria da FENASPS [federação que representa os trabalhadores da Seguridade Social], que decidiu participar do Congresso com observadores e convidados. É um passo significativo e que fortalece a construção de um pólo classista e socialista, em uma mesma organização nacional.

Além da Fenasps, no Congresso devem se refletir outros processos de aproximação e de organização da nossa classe, dentre eles de sindicatos do setor metro-ferroviário, dos correios, petroleiros, do judiciário estadual, de diversos movimentos populares do campo e da cidade, movimentos quilombolas, além de processos regionais como o que ocorre em Goiás, com a filiação de vários sindicatos oriundos da UGT [União Geral dos Trabalhadores] à nossa Central.

O congresso vai ocorrer às vésperas do 1º de Maio. O que estão programando para a data?
Atnágoras –
Vamos fazer um grande ato nacional para comemorar o dia internacional dos trabalhadores. Na prática, o ato vai fechar a programação do I Congresso da CSP-Conlutas. Será um ato classista, organizado pelos sindicatos e demais entidades de classe, sem financiamento das empresas, governos e ONGs, na cidade de São Paulo.

Reunirá os milhares de trabalhadores e trabalhadoras presentes ao Congresso e delegações de diversos estados, levantando bem alto as bandeiras de luta dos movimentos sindicais, estudantis e populares brasileiros, abandonadas pela maioria das direções, hoje alinhadas com as políticas dos governos.

Cacau – E vai ser um ato em muitas línguas. Vamos ter a presença da delegação internacional, dos representantes das dezenas de países que virão ao Congresso. Trabalhadores da Espanha, Portugal, Itália, França; Japão, Argentina; Costa Rica, Moçambique, enfim, do mundo todo. Isso vai enriquecer muito o ato, e confirma a vocação internacionalista da CSP-Conlutas e nosso compromisso com a luta dos trabalhadores em todo o mundo, contra o capital e por uma sociedade sem exploração.

Em seguida, nos dias 2 e 3 de maio, teremos uma reunião internacional, aqui em São Paulo, com representantes destas diversas organizações e movimentos. Essa reuinão foi chamada por nós e pelo Solidaires. Vamos ter, por exemplo, representantes de países africanos, que lutam contra a exploração da Vale e que poderão contar com nosso apoio contra a multinacional… O pessoal do Solidaires, da França, tem uma experiência de sindicalismo parecida com a nossa, que busca a independência e o classismo. Esse encontro internacional é muito importante, para aprofundar os laços de solidariedade, trocar experiências e apontar para campanhas e lutas comuns da CSP-Conlutas e organizações parceiras.


Cacau, bancário e da Executiva da CSP-Conlutas

Porque a escolha do tema do congresso, sobre a organização de base?
Cacau – A organização de base, nos locais de trabalho, é fundamental. É requisito para que haja democracia em nossas entidades e movimentos. E mais: funciona como uma vacina para combater a burocratização, um mal que afeta tantos e tantos sindicatos e centrais.

Esse debate é muito grande e não há fórmula pronta. Não pode ser tratada como uma formalidade… do tipo, “ah tem comissão de base? Pronto. Tá resolvido”. Não é assim, simples…

Por isso estamos dedicando grande parte de nossos esforços a esse tema. Em novembro passado, fizemos um Seminário Nacional, com 240 ativistas, gente que atua em comissões de base, comissões de fábrica, comandos, delegados e representantes sindicais, Cipas, oposições etc.

Foi uma ótima atividade. Principalmente pela variedade de setores presentes: construção civil, químicos, metalúrgicos, petroleiros, gráficos, costureiras, servidores públicos, bancários, comerciários etc… Foi uma troca, com relatos de experiências e, claro, muitas propostas sobre o que temos de fazer para revolucionar a atuação dos sindicatos, permitir que a base participe, decida, seja parte da vida política dos sindicatos. Em especial em relação às mulheres, que, diante da opressão a que são submetidas e da dupla jornada, têm mais dificuldade em participar da vida do sindicato, de ir numa assembleia à noite.

O Seminário construiu propostas que orientam a nossa intervenção nas entidades e as campanhas de nossa Central sobre o tema. Essas propostas serão agora discutidas no Congresso e transformadas em resoluções.

Atnágoras – Estamos avançando na compreensão deste tema, mas ele tem ainda um aspecto estratégico. Quando organizamos os trabalhadores na base, criando condições para que discutam, atuem sobre aquela realidade, discutam o assédio do encarregado, entre outras coisas e, principalmente, decidam, estamos plantando uma semente. Estamos diante de situações onde trabalhadores e trabalhadoras acumulam experiência no exercício do poder. Não esperam a diretoria do sindicato dizer o que tem de ser feito. Isso é fundamental para o futuro, para a sociedade que queremos construir, que será gerida pela maioria, pela nossa classe.

Nós não queremos que os trabalhadores se organizem pela base apenas para as lutas específicas. Queremos que exerçam o poder, de olho no futuro. Esse é o nosso sonho, como está no lema do Congresso, do poema de Carlos Drummond de Andrade, conterrâneo do meu amigo Cacau… (risos)… “O futuro é tão grande… Vamos juntos, de mãos dadas”.

Fique atento ao calendário

15 a 20 de abril –Eleição dos(as) delegados(as) das organizações estudantis e movimentos de luta contra a opressão

27 a 30 de abril – I Congresso da Central Sindical e Popular – Conlutas

1º de Maio – ato em São Paulo com as delegações presentes ao Congresso

2 e 3 de maio – Reunião Internacional em São Paulo

Mais informações no site do congresso

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