Irmão do prefeito assassinado envolve assessor de Lula no caso de corrupçãoTrês anos e meio depois do bárbaro assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, surgem novos indícios do crime que permanece obscuro e cuja investigação segue emperrada pelas autoridades. A reabertura do caso Celso Daniel veio na esteira de denúncias e revelações que devassam as relações espúrias entre PT, governo e empresários, nos últimos anos.

Se antes pesavam contra o PT “apenas” denúncias de desvio de recursos públicos e compra de deputados, agora, com o depoimento do irmão de Celso Daniel à CPI dos Bingos, o partido parece cada vez mais envolvido no acobertamento do assassinato do prefeito petista. O caso expõe também a cobrança sistemática de propina das prefeituras petistas para financiar o partido.

Para debaixo do tapete
Pouco antes de sua morte, Celso Daniel, então prefeito de Santo André, era o homem mais cotado para coordenar a campanha de Lula à presidência. Seu estranho assassinato, atraiu suspeitas de se tratar de um crime político. No entanto, pouco tempo depois, tanto a polícia como o próprio PT afirmaram que se tratava apenas de um crime comum. Na época, o deputado Eduardo Greenhalgh foi designado pela cúpula petista para acompanhar o caso e reafirmou a tese.

No entanto, o irmão do prefeito, João Francisco Daniel, revelou que Celso Daniel coordenava um esquema de propina que empresas prestadoras de serviços à prefeitura de Santo André pagavam ao PT. O assassinato teria sido provocado por um desentendimento entre empresários e o prefeito, tendo como mandante Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, que acompanhava Celso Daniel quando ocorreu o crime. Segundo Francisco, Celso Daniel teria tentado acabar com o “caixa três” (dinheiro desviado das propinas ao PT) que Sombra estaria coordenando. Depois da execução, o caso foi decretado como sendo crime comum e jogado para debaixo do tapete.

Crise desenterra caso
Três anos depois, o PT encontra-se afundando em sua maior crise política. A crise atingiu a cúpula petista e escancarou a corrupção sistemática praticada pelo partido. Nesses três meses de crise, os escândalos estão sendo revisitados e as entranhas pútridas do PT postas para fora. Agora, o partido se vê cara a cara com o fantasma de Celso Daniel.

Na interminável torrente de revelações, mais um capítulo dessa história ocorreu na última semana. João Francisco reafirmou em depoimento à CPI, no dia 10 de setembro, denúncias envolvendo o atual chefe do gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. O irmão do prefeito assassinado afirmou ter recebido a visita de Carvalho cinco dias após o crime. Na ocasião, o hoje assessor particular do presidente teria revelado o esquema de propina recolhida por Celso Daniel das empresas de Santo André. Os recursos teriam sido repassados a José Dirceu para o pagamento da campanha eleitoral de Lula e Marta Suplicy.

Tortura
Para piorar a situação do PT e enterrar de vez a tese de crime comum, na noite do dia 28 de agosto, o programa Fantástico da rede Globo divulgou uma denúncia do legista Carlos Delmant Printes de que Celso Daniel foi cruelmente torturado antes de ser morto. Segundo o legista, os seqüestradores do prefeito praticaram o chamado “esculacho” antes de matá-lo, ou seja, atiraram em Celso Daniel caído ao chão, próximo ao seu corpo para amedrontá-lo.

Além disso, o médico apontou vários hematomas no corpo do prefeito. Printes, que descartou completamente a tese de crime comum, tão logo expôs sua análise do crime, foi imediatamente censurado pelo Superintendente da Polícia Científica e pelo diretor do Instituto Médico Legal.

O “Sombra” e o PT
A denúncia de um preso acusado de ter sido um dos assassinos do prefeito revela que o empresário Sérgio Gomes, o “Sombra”, teria pago R$ 1 milhão pela morte de Celso Daniel. A denúncia confirmaria o envolvimento de “Sombra” no assassinato, suspeita desde o início do caso. O prefeito foi capturado quando estava no carro com Sombra. Em depoimento à polícia, o empresário afirmou que as travas das portas do automóvel haviam se quebrado, assim como o câmbio. A perícia, porém, desmentiu Sérgio Gomes.

O “Sombra”, que ganhou novamente os holofotes da mídia, tem origem semelhante à de Rogério Buratti, advogado de Ribeirão Preto (SP) envolvido no caso de cobranças de propina na gestão de Palocci. A famosa história de Buratti dá conta que o então quadro petista chegou à região de Ribeirão a bordo de um modesto fusca. Anos depois, após ter ocupado o cargo de Secretário de Governo do hoje ministro da Fazenda, Buratti assumia a diretoria da empresa de lixo Leão e Leão. Já Sérgio Gomes, também militante do PT, fez fortuna por meio de suas relações com as gestões petistas. À época do assassinato, o “Sombra” acumulava participações em nada menos que quatro empresas de ônibus.

“Sombra” e Buratti constituem, desta forma, mais do que a interminável fila da fauna corrupta que desfila nos noticiários atualmente. São exemplos da burocracia petista que alçaram a condição de burgueses graças às relações espúrias com os governos comandados pelo PT. O caso de Santo André é assim reflexo de um esquema generalizado de corrupção, revelado nas prefeituras petistas e no próprio governo federal.

Crise se aprofunda
A essas alturas, a crise aprofundou-se de tal forma que criou dinâmica própria. O desespero e a tentativa de jogar uma pá de cal no caso Celso Daniel mostram a dimensão que o escândalo pode tomar.

Caso do assassinato de modelo em Minas é reaberto

O promotor Francisco Santiago, de Minas Gerais, decidiu reabrir um caso que vai tirar o sono dos políticos mineiros. Ele vai dar seqüência às investigações sobre o assassinato da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, ocorrido em agosto de 2000. A modelo de 24 anos mantinha estreitas relações com a cúpula do governo Itamar Franco e com políticos em geral. Vários indícios dão conta que Cristiana foi usada em esquemas de corrupção. Seus pais afirmaram que a modelo transportava freqüentemente malas suspeitas de São Paulo a Brasília. Ela ainda freqüentava os mesmos hotéis, nos mesmos dias inclusive, que Marcos Valério e seus funcionários.

Com as denúncias do mensalão e o envolvimento do senador Eduardo Azeredo (PSDB), que teria recebido dinheiro de Marcos Valério para disputar o governo de Minas em 1998, a suspeita de utilização de garotas de programa no esquema de Valério, agenciadas pela cafetina Janne Córner, o caso ganha novo significado. Suspeita-se agora que o esquema do mensalão tenha existido no governo FHC e que a modelo tenha sido assassinada por saber demais.

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