Ato independente denuncia a impunidade do massacreNo dia 27 de fevereiro de 2008, na Praça Venezuela, centro de Caracas, aconteceu uma concentração para relembrar os 19 anos do Caracazo. O ato não teve nenhuma relação com o governo. Mais de 500 pessoas marcharam pelo centro de Caracas até a praça. A composição do ato era em sua maioria de ativistas do movimento popular e estudantil, com destaque para os moradores do “Bario 23 de Enero” e para um setor de vanguarda estudantil.

Em 27 de fevereiro de 1989, diante do aumento dos preços da gasolina e dos alimentos, do desabastecimento, da miséria e da fome, o povo pobre de Caracas desceu dos “barios”, as favelas que cercam a cidade, e saqueou supermercados, lojas e centros comerciais. Diante desta explosão espontânea de ódio das massas, o governo de Carlos André Perez desatou uma furiosa repressão através da Policia Metropolitana, da Guarda Nacional e do Exército que ocuparam os “barios”. Foi um dos maiores massacres da história da humanidade: em três dias foram mortas entre 9 e 11 mil pessoas e dezenas de milhares foram torturados.

Mesmo comparado com a carnificina das ditaduras de Pinochet, no Chile e de Videla, na Argentina, o Caracazo impressiona: Pinochet levou 17 anos para assassinar em torno de 5 mil pessoas; Videla precisou de horríveis oito anos para assassinar quase 30 mil, ou seja, em apenas três dias, a burguesia venezuelana exterminou o dobro que Pinochet em 17 anos e um terço das pessoas mortas em oito anos pela brutal ditadura de Videla.

A 19 anos do Caracazo, às vésperas de Chávez completar 10 anos à frente da presidência da república, segue reinando uma vergonhosa impunidade e silêncio. Jamais foram julgados e condenados os responsáveis políticos e materiais deste crime histórico contra a humanidade. Todos os procedimentos penais foram diluídos pela paralisia e seguidos por sentenças de absolvição, o que demonstra uma absurda cumplicidade entre a burocracia do Poder Judiciário e as Forças Armadas. Nem o atual governo, nem a Assembléia Nacional, nem a Defensoria do Povo, nem o Poder Judiciário se atreveram sequer a retomar, ainda que timidamente, as investigações do genocídio.

Por tudo isso, a realização de uma manifestação independente do governo Chávez para relembrar os 19 anos do Caracazo e exigir a reabertura das investigações com o objetivo de castigar os responsáveis políticos e materiais do massacre, ainda que tenha reunido apenas 500 pessoas, é de um valor político inestimável. Como disse uma das oradoras durante a passeata: “Querem nos fazer esquecer nossos mortos. Mas nós não os esqueceremos jamais!”.