O ano de 2008 será lembrado na história pela explosão de uma das maiores crises econômicas do sistema capitalista. O que antes parecia ser uma crise cíclica como tantas outras apareceu em suas verdadeiras proporções.

Desde 15 de setembro, com a falência do banco Lehman Brothers, instalou-se o pânico nos mercados capitalistas do mundo inteiro. Entraram em concordata, falência ou quebras encobertas alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos e da Europa. A oferta de crédito está congelada de forma generalizada. Nem as instituições financeiras nem os capitalistas individuais querem emprestar dinheiro.

A falta de crédito ameaça paralisar a economia americana a tal ponto que o Fed (Banco Central dos EUA) está emprestando dinheiro diretamente para que as empresas possam funcionar, o que está totalmente fora de suas atribuições.

Os governos dos principais países imperialistas intervieram, injetando mais de US$1 trilhão nos bancos e na economia. Isso não deteve a crise. Dia após dia, ocorrem as maiores quedas nas bolsas desde muitas décadas. Só na primeira semana de outubro, as bolsas de todo o mundo acusaram perdas globais de US$6,2 trilhões no valor das ações. Derretem-se ações das maiores empresas do mundo, como a General Motors e a Exxon, antes consideradas sólidas. Esta é, sem exageros, a situação atual da economia mundial.

A crise da economia capitalista é uma realidade que hoje está no centro de todos os acontecimentos mundiais. Por outro lado, é um processo que está apenas no começo e vai atingir, em maior ou menor medida, todos os países. E, sem dúvida, as mais graves repercussões recairão sobre os trabalhadores e os pobres de todo o mundo.

O recente “pacote” conjunto de oito países europeus – que destina mais de US$2 trilhões para socorrer os bancos – e pacotes similares dos governos dos Estados Unidos (US$250 bilhões), Austrália e países do Oriente Médio, apesar de constituírem a maior intervenção estatal no sistema financeiro mundial, não conseguirão reverter a crise nem impedir a recessão. É possível que acalmem os mercados por uns dias, mas os efeitos globais dessa gigantesca operação sobre os orçamentos, dívidas públicas e índices de inflação dos países envolvidos podem gerar repercussões ainda mais negativas no futuro.

O sistema financeiro dos EUA e da Europa está em plena quebra. O banco Lehman faliu, o Merril Lynch foi incorporado pelo Bank of America, o Bearn Stearns foi tomado pelo Morgan Stanley, o Wachovia passou para o Wells Fargo e o Goldman Sachs colocou à venda o seu pacote acionário. Fannie Mae e Freddie Mac, as duas maiores empresas do ramo de hipotecas dos EUA, faliram e foram incorporadas pelo governo americano. Também faliu a seguradora AIG (a maior dos EUA e do mundo). O mesmo aconteceu com o Washington Mutual, maior banco do setor imobiliário dos EUA.

Essa violenta centralização de capitais no sistema financeiro se estendeu em escala internacional: o HBOS da Inglaterra foi adquirido pelo Lloyds e o Santander espanhol absorveu as sucursais do Bradford and Bingley. Os governos europeus foram obrigados a intervir para salvar o Banco Fortis (o maior da Bélgica), o HBOS e o Bradford-Bingley (ambos da Inglaterra) e o Hypos Real Estate, principal banco de financiamento imobiliário da Alemanha.

O governo da Inglaterra estatizou parcialmente os bancos mais importantes do país, injetando 50 milhões de libras nessas instituições e tomando em troca uma parte de suas ações. É uma estatização para salvar os banqueiros, porque o Estado capitaliza suas empresas, mas permite que sigam como donos dos bancos. O governo dos EUA e outros governos de países imperialistas podem seguir o seu exemplo.

Houve uma enorme queima de capital fictício nesse curto período: títulos com lastro em créditos podres, hipotecas que não podiam ser pagas pelos devedores, ações supervalorizadas etc. Mas também houve perdas de capital real, principalmente dos fundos de pensão e dos pequenos investidores que apostaram suas economias em títulos ou ações.

Já existe uma recessão nos países capitalistas imperialistas, começando pelos EUA, e que está se estendendo para todo o mundo. A França já registrou dois trimestres seguidos de crescimento negativo. O Japão sofreu uma queda de 2% do PIB no segundo trimestre deste ano. Já existe recessão na Itália, Inglaterra e Espanha. Também há recessão em alguns países mais débeis da Europa, como Islândia e Irlanda. Houve uma queda na venda de automóveis nos EUA, com uma média de 30% em setembro. A General Eletric, uma das maiores empresas do mundo, teve queda de 12% em suas vendas e busca financiamento.

Não se pode prever ainda se esta recessão vai durar apenas dois ou três anos ou se vai inaugurar um longo período de depressão semelhante ao que se abriu depois da crise de 1929. Não é casual que a maioria dos economistas burgueses e dos líderes políticos mencione a crise de 1929, seja para negar que o mundo esteja a ponto de entrar num período semelhante, seja para advertir sobre as semelhanças entre os dois processos ou alertar para o risco de que a crise evolua para uma situação parecida ou ainda pior. A crise de 1929 é um fantasma que assombra a burguesia mundial porque ela sabe que isso significaria um prolongado período de declínio do próprio capitalismo com enormes conseqüências políticas.

De qualquer maneira, esta é, no mínimo, a maior crise da economia mundial desde 1929. Certamente haverá países mais ou menos atingidos, mas nenhum deixará de sofrer os efeitos da recessão instalada nos países imperialistas.

Além disso, esta crise econômica tem uma particularidade que a torna superior às anteriores, mais generalizada e devastadora que as da década de 90: seu epicentro está nos Estados Unidos, a maior economia do mundo e o coração do imperialismo. Isso potencializa ao máximo sua extensão e profundidade. Os países mais frágeis e dependentes não têm como escapar dos seus efeitos.

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)
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