Superlotação, horas perdidas em filas e deslocamentos, tarifas caras, trânsito. Estes são alguns dos problemas enfrentados cotidianamente por milhões trabalhadores que dependem de transporte público no país.Além de precário, o transporte público no país é caro. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que, entre 1995 e 2008, as tarifas de ônibus urbanos tiveram um aumento de cerca de 60% acima da inflação.

Ocorre que o setor de transporte é controlado por verdadeiras máfias que financiam as campanhas eleitorais dos grandes partidos e, depois que os políticos são eleitos, obtêm contratos de serviços com as prefeituras. As companhias estatais de transporte público (tanto as de ônibus como as ferrovias) foram privatizadas e entregues a essas máfias, que conseguem lucros fabulosos.

Há poucos dias, a prefeitura de Florianópolis, ao lado dos empresários de transporte da região, impôs um novo reajuste da tarifa dos ônibus, que passou a custar R$ 2,38 no cartão e R$ 2,95 em dinheiro. Foi o maior aumento desde 2005, quando houve uma revolta contra o preço da tarifa. Se um trabalhador que recebe o salário mínimo de R$ 510 tiver que pagar duas passagens para ir e duas para voltar, vai gastar por mês mais de R$ 270 em condução, ou seja, mais de 50% de seu salário.

Por isso, em pleno século 21, muitos trabalhadores não têm condições de pagar as tarifas e se locomovem a pé. Segundo o IPEA, cerca de 37 milhões de brasileiros estavam nesta situação em 2006. Outra pesquisa realizada em 2007 mostrava que 640 mil viagens por mês são realizadas a pé devido ao custo da condução.

Transporte público ou particular?
O caos no transporte é fruto de vários fatores. O problema começa com a falta de prioridade por parte dos governos para investir em transporte público. Como consequência, cresce de forma desordenada o uso de veículo individual, fruto da ampliação de crédito para a compra de automóveis.

Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), há dez anos circulavam no país 18,8 milhões de carros, três milhões de motocicletas e 243 mil ônibus. Hoje a situação é bem diferente. São 33 milhões de carros, 11 milhões de motocicletas e apenas 407 mil ônibus. Enquanto houve um aumento de 74% para automóveis e de 280% para motos, o número de ônibus cresceu apenas 67%.

Isso se agrava mais devido ao crescimento acelerado e desordenado das grandes cidades. Os setores mais pobres da população são empurrados cada vez mais para as grandes periferias, o que dificulta a mobilidade urbana.

Enquanto pouco se investe na melhoria do transporte coletivo, são gastos bilhões em dinheiro público para favorecer as montadoras. Durante a crise econômica, os bancos operados pelas montadoras receberam pelo menos R$ 4 bilhões com o objetivo de garantir crédito para o financiamento de veículos. Como se não bastasse, os governos Lula e José Serra (SP) concederam generosas isenções fiscais às montadoras.
Repete-se assim uma velha opção da burguesia brasileira. Desde a “Era JK”, nos anos 1950, a política de transporte prioriza os interesses das multinacionais automobilísticas. Em vez de ferrovias e hidrovias, soluções mais baratas e eficientes para o transporte de pessoas e cargas entre os estados, a burguesia privilegiou um modelo de fabricação de carros, ônibus e caminhões. No lugar de investir em transporte coletivo de qualidade, os governos continuam fomentando o transporte individual com a realização de grandes obras viárias.

Essa solução não apenas gera benefícios para a indústria automobilística, mas também para os grandes partidos políticos, como PT e PSDB, e seus candidatos, cujas campanhas eleitorais são sustentadas pelo dinheiro de empreiteiras e montadoras.

Falta de investimentos e privatização
São Paulo é retrato do caos do transporte no país. Com 11 milhões de habitantes e uma área metropolitana que reúne quase 20 milhões de pessoas, a frota de veículos da cidade é de mais de 6 milhões.

Nos trens, ônibus e metrô, é preciso ter paciência para enfrentar a superlotação e a demora nas viagens. Segundo um levantamento da Comunidade de Metrôs (CoMET, sigla em inglês), organização que reúne os 11 principais sistemas de transporte sobre trilhos no mundo, o metrô da capital paulista é o mais lotado do mundo. Para “amenizar” a situação, o Metrô e a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) lançaram o programa “Embarque Melhor”. Trata-se de uma piada de mau gosto, que busca inutilmente controlar o acesso de passageiros nas plataformas nos horários de pico em estações de grande movimento.

Desde a década de 1970, quando o metrô foi inaugurado, os governos construíram pouco mais de 60 km de extensão das linhas, absolutamente insuficiente para atender a demanda diária de 3,3 milhões de passageiros. A capital paulista perde até de cidades menores, como Santiago do Chile, que tem à disposição mais de 83 km de linhas. Como se não bastasse, o transporte em São Paulo é um dos mais caros da América Latina. Enquanto a tarifa do metrô na Cidade do México é de R$ 0,28, e em Santiago de R$ 1,58, em São Paulo se cobra R$ 2,65.

Recentemente, o governo do PSDB inaugurou uma nova linha construída através da chamada parceria público-privada. Pelo contrato, o consórcio de empresas privadas poderá explorar a linha por 30 anos, o que vai encarecer ainda mais o transporte.
Já no Rio de Janeiro, o caos do transporte mostra o resultado da entrega do serviço público à iniciativa privada. A privatização dos serviços prometia uma suposta melhoria, mas o resultado é bem diferente das promessas feitas pelos governos.

Na manhã do dia 16 de abril, um trem da Supervia lotado de trabalhadores, que seguia de Santa Cruz, na Zona Oeste, para a Central do Brasil, descarrilou. Mais de 60 pessoas ficaram feridas. Poucos meses antes, imagens na TV mostravam trabalhadores sendo chicoteados por seguranças da mesma Supervia, empresa concessionária dos serviços de trens urbanos do Rio.

Em abril do ano passado, os passageiros que dependem das barcas para fazer a travessia entre Rio e Niterói se revoltaram com o sufoco das longas filas e o serviço precário. As barcas que ligam o Rio a Niterói e à Ilha de Paquetá são administradas pela concessionária privada Barcas S/A.

Apesar das barbaridades cometidas pelas empresas privadas, todas continuam operando normalmente. Pelas chicotadas, a Supervia foi condenada a pagar uma multa ridícula, correspondente a 0,05% do faturamento de 2008.

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