Para Lula, os reflexos da crise sobre o Brasil serão “quase que imperceptíveis”. O governo se esforça em fazer parecer que a crise se resume à economia dos EUA e que o país estaria blindado.

Essa propaganda tem o objetivo, hoje, de capitalizar eleitoralmente o atual crescimento econômico. Entretanto, a propaganda está apoiada numa realidade sensível para os trabalhadores: o ciclo de crescimento possibilitou a implantação de fábricas em várias regiões do país.

Isso significou um crescimento no emprego que, ao lado de pequenas migalhas, como o Bolsa Família, sustentam a atual popularidade do governo. Mas o país estará mesmo protegido da crise?

Mais frágil
Lula e seus ministros dizem que as reservas internacionais do país – cerca de US$200 bilhões – colocam o Brasil numa situação confortável. No entanto, tais reservas podem se reduzir a pó num piscar de olhos.

Os capitais especulativos – aqueles de curto prazo que podem sair a qualquer momento do país – representavam 46% dos investimentos estrangeiros em 2005. Em 2007, já eram 54%.

Segundo a Folha de S. Paulo, “os estoques de investimentos estrangeiros especulativos no Brasil equivalem hoje a cerca de três vezes o tamanho das reservas em dólares no BC, segundo os últimos dados (…) existem quase US$3 em capitais especulativos que podem sair a qualquer momento para cada US$1 em reservas. No momento em que esses investidores decidem tirar grandes volumes de dinheiro do país, como na semana passada, há forte pressão sobre o real, que tende a perder valor”.

O mercado financeiro aqui, assim como no resto do mundo, está totalmente integrado e dependente dos EUA.

Sob o controle das multinacionais
Não é apenas o mercado financeiro, porém, que está mais exposto. Grande parte da produção é voltada aos produtos primários para a exportação (commodities). O setor representava 45% da indústria em 2006. As exportações eram a parte mais importante no balanço comercial do país, ou seja, na conta de tudo o que o país compra e vende.

Um dos reflexos da crise é a redução do preço das commodities. Seja pelo estouro da bolha, que inflacionou os preços nos últimos anos, seja pela inevitável redução da demanda com o agravamento da crise. Um dos maiores compradores do aço e demais minérios produzidos no Brasil, por exemplo, é a China, que produz e exporta para os EUA. Com a recessão que se abate sobre o império, a produção diminuirá drasticamente.

O superávit comercial brasileiro já está caindo rapidamente. No primeiro semestre de 2008, caiu 45%. Já se fala na possibilidade de um déficit comercial em 2009.

Isso contribui para o aumento do chamado déficit nas contas correntes, ou seja, a soma de todos os valores que entram e saem do país (veja o gráfico). Estima-se que, em 2008, o Brasil feche as contas com um saldo negativo de US$30 bilhões. Tal prejuízo ocorre pelo aumento das remessas de lucros das multinacionais aqui instaladas, diminuição do superávit comercial e fuga de capitais.

Conseqüências graves para os trabalhadores
A economia do país ainda cresce. Isso provoca a sensação de que a crise não vai passar por aqui. Mas a dependência da nossa economia vai fazer com que a crise afete diretamente a vida da grande maioria da população.

Em algum momento, a indústria automobilística brasileira vai entrar em crise. Isso depois de tantas fábricas montadas no país. A produção e a venda de agosto já podem sinalizar isso. Por um lado, os propagandistas do governo podem dizer que foi o melhor agosto da história da indústria, em comparação com o ano de 2007. Mas, por outro, em relação a julho, houve queda na produção de 1% e queda nas vendas de 15,1%. Será apenas uma acomodação do mercado como dizem as montadoras? Ou o início de uma desaceleração?

A burguesia e os políticos sabem que a crise virá. Em todas as negociações salariais deste ano, os empresários dizem que não podem conceder um reajuste maior devido à crise que se avizinha. Já os políticos, em plena campanha eleitoral, fazem promessas que não cumprirão.

Mas quais as conseqüências para o Brasil de uma crise que só aparece agora nos jornais? Para tentar atrair investimentos estrangeiros, o governo vai impor juros exorbitantes, aumentar a dívida pública e um arrocho ainda maior no orçamento.

Este é o plano do governo para a crise. Afeta diretamente serviços públicos essenciais, como saúde e educação. O crédito para as empresas vai ficar mais caro, significando menos empregos. Já o crédito ao consumidor vai ficar mais escasso e os juros vão subir.

Hoje, grande parte das famílias já está endividada, em particular com o crédito consignado. Com a inflação no último período, atingindo principalmente os mais pobres, a inadimplência já subiu mais de 6%. Com a alta dos juros, isso tende a aumentar ainda mais.

Para os trabalhadores, a recessão vai significar inflação, desemprego, achatamento dos salários e deterioração dos serviços públicos. O governo Lula, como os outros que o antecederam, vai jogar a crise nas costas dos trabalhadores.

Post author Diego Cruz e Eduardo Almeida, da redação
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