Os próprios fatos vão desmentindo a tese do “descolamento” do Brasil da crise. A economia do país não é uma realidade independente do restante da economia mundial. Mais do que isso, seu caráter dependente e submisso ao imperialismo deixam o país muito mais frágil a qualquer solavanco dos mercados. Mesmo o contágio à chamada “economia real” já é uma realidade.

Segundo dados do próprio Banco Central, no primeiro bimestre de 2008, o Brasil teve um prejuízo de US$ 6,3 bilhões nas transações correntes, o pior resultado desde 1947, ano em que se começou a registrar esse dado. As transações correntes do país englobam os resultados da balança comercial, da chamada conta de serviços e as transferências unilaterais (veja box).

Grosso modo, a conta corrente do país registra o que entra e o que sai. A diminuição do volume das exportações, o aumento dos importados e a explosão das remessas de lucros das multinacionais para suas matrizes, a fim de minimizar os prejuízos causados pela crise, vêm causando um prejuízo (déficit) recorde. Os bancos e as montadoras lideram as remessas de lucros. As montadoras são responsáveis por 28% de todas as remessas, e os bancos 15,6%. A fuga dos lucros neste ano deve atingir os US$ 24 bilhões. Só nos dois primeiros meses do ano a cifra chegou a US$ 4,3 bilhões, o dobro do mesmo período do ano passado.
Nunca saíram tantos dólares do país. O Banco Central prevê que só em 2008 o déficit das transações correntes atinja os US$ 12 bilhões. Essa previsão é quase quatro vezes maior do que a projeção realizada pelo banco há três meses.

Modelo dependente
Mais recentemente, o preço dos produtos primários exportados pelo Brasil despencou. O preço elevado e o alto volume das exportações era o que mantinha um superávit na balança comercial, ou seja, o valor de tudo o que o país vendia era maior do que comprava. Tal movimento impulsionava a entrada de dólares e o real forte.

A baixa na cotação desses produtos ocorre, pois os EUA são um dos principais compradores do país. Com a recessão já tomando conta do país, as vendas inevitavelmente diminuirão. A China salvará o Brasil da crise, dizem os mais otimistas analistas, já que o país é também rota preferencial das exportações brasileiras. No entanto, a economia chinesa se sustenta através de suas exportações ao mercado norte-americano.

A China já sente os efeitos da recessão norte-americana. Em fevereiro, o saldo comercial caiu mais de 60% em relação a 2007, devido à redução das exportações.
A política econômica do governo Lula privilegiou os grandes exportadores. Agora, essa opção cobrará seu preço.

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