Reportagem do Opinião Socialista percorreu hospitais após discurso de ministroApesar da explosão da gripe suína, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que “o país está preparado” para enfrentar a pandemia. Mas não é isso o que se vê nos hospitais. O governo recomenda que, para prevenir a doença, é preciso lavar as mãos frequentemente e orienta todos que apresentem os sintomas a procurar um hospital. Além disso, os profissionais da saúde devem utilizar máscaras e luvas.

Mas o corte de verbas, a falta de medicamentos, de funcionários e até de máscaras e sabonetes para lavar as mãos nos hospitais impedem na prática essas recomendações. Além disso, há um despreparo muito grande dos funcionários de hospitais para enfrentar uma pandemia, o que tem a ver com a inexistência de treinamento e orientações na rede básica de saúde. Muitos pacientes que apresentam os sintomas da gripe suína são obrigados a esperar horas em filas em contato direto com funcionários do hospital e outros pacientes.

Logo após o pronunciamento do ministro Temporão, a reportagem do Opinião visitou alguns hospitais públicos de São Paulo para ver de perto essa situação.

Com a filha de um ano e três meses no colo, Estefani Rodrigues reclamava da superlotação do pronto-socorro infantil do hospital São Luis Gonzaga, no Jaçanã, zona norte de São Paulo. “Tem umas cinquenta pessoas por lá. Não consigo ser atendida. Vou tentar voltar mais tarde, porque tenho uma tia que trabalha aí”, disse.

No pronto-socorro de Santana, a situação estava mais tranquila. Mas uma enfermeira disse à reportagem que há poucos dias os corredores estavam cheios de pacientes com suspeita de gripe e tuberculose. “Não dava nem para circular direito”, afirmou.

A explosão de casos da gripe suína aumentou a procura por atendimento em toda a rede pública de saúde. No hospital Emílio Ribas, para onde são encaminhados os casos suspeitos de gripe suína de São Paulo, a procura aumentou cinco vezes. A demora no atendimento faz com que alguns pacientes desistam do atendimento.

A precariedade do sistema de saúde pública e a pobreza poderão agravar ainda mais a disseminação da gripe. Especialistas relembram a epidemia de dengue registrada em anos anteriores para demonstrar que a saúde pública não está preparada para o agravamento da gripe suína.

“O que aconteceu no ano passado com a dengue mostra um despreparo do sistema público. Com a gripe você precisa de um treinamento dos profissionais de saúde para fazer o diagnóstico precoce e o tratamento. Não tem medicamento para todo mundo. Isso é um mistério que a gente precisa solucionar”, disse o infectologista Artur Timerman.

O medicamento antiviral indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é o Oseltamivir (Tamiflu), que custa nas farmácias R$160. O alto preço do medicamento impede seu uso pelos mais pobres. Mas a indústria farmacêutica lucra nas situações de sofrimento da população. Graças à pandemia, o laboratório Roche vendeu todo o seu estoque de Oseltamivir. Suas ações subiram 6% no último mês.

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