Publicamos abaixo artigo do jornalista Laerte Braga, de Juiz de Fora (MG), sobre a morte do presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Frios do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense e militante da corrente petista O Trabalho.Há dez anos policiais/pistoleiros, pistoleiros/policiais massacraram trabalhadores rurais sem terra em Eldorado do Carajás, no Estado do Pará. Minutos após a chacina, o então presidente Fernando Henrique Cardoso disse a jornalistas que “quem procura acha”, revelando toda a dimensão de seu caráter podre e perverso.

Minutos depois, ao tomar conhecimento da repercussão internacional do crime, correu a dizer que seu governo seria intransigente com os culpados, que apuraria tudo, que não admitia esse tipo de violência.

Os criminosos continuam soltos, impunes.

Na manhã de segunda-feira, à porta de sua casa em São João do Meriti, o sindicalista Anderson Luís, 29 anos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Frios do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense, foi assassinado.

É a forma corriqueira do capital lidar com incômodos num Estado falido e do qual são os assassinos os principais acionistas. Banqueiros, latifundiários, grandes empresários. Mânica, chamado o rei do feijão, mandou matar fiscais do Ministério do Trabalho em sua região, Unaí e foi eleito prefeito num processo de corrupção eleitoral e intimidação. Desnecessário dizer que é tucano. Aliado de Aécio Neves. Gente de FHC.

Anderson Luís foi assassinado no governo Lula. Esse tipo de prática continua impune. No Estado do Rio onde o poder estadual inexiste. A “moça” que faz de conta que governa, enquanto o marido ameaça o País com sua candidatura, acha que é igual Jesus Cristo. “Vim ao mundo para ajudar os necessitados”.

Anderson Luís militava na corrente petista O Trabalho, foi responsável por conquistas significativas da categoria. Trabalhava na Nestlé. Exercia o seu segundo mandato de presidente do sindicato.

Sob sua presidência o sindicato aumentou sua base territorial. Passou do município do Rio para toda a Baixada Fluminense. O Sindicato vinha realizando assembléias fabrica por fabrica, organizando os operários e fechando acordos coletivos em empresas que nunca se preocuparam com esse tipo de proteção ao trabalhador. Nenhuma se preocupa, só se constrangida (sic).

Vários tiros, nenhum roubo? A quem interessa o crime? Há quatro anos os operários da Nestlé, onde Anderson Luís trabalhava, recusam a escravidão disfarçada de banco de horas. Uma modalidade de exploração capitalista onde o trabalhador abre mão das horas extras remuneradas por um maior número de folgas após tantas horas de trabalho além do normal. A maior parte das empresas que adotam ou impõem o tal banco não cumprem os acordos e o saldo de folgas dos trabalhadores é sempre gigantesco.

Não existe empresário com responsabilidade social. Só para efeito de marketing. Não existe empresa boazinha. Acima de um milhão não existe nenhuma e nisso não há exceções.

Afirmar que a Nestlé mandou matar? Uma temeridade evidente. Mas não é impossível. A empresa comprou os sucessivos governos mineiros para depredar estâncias hidrominerais como São Lourenço e nem está aí para lei, para deveres, responsabilidades, etc. Compra e paga a vista prefeitos e governadores. Deputados e vereadores.

O movimento sindical brasileiro tem um viés complicado que Anderson Luís enfrentou. Falo do peleguismo. Do “trabalhador” tipo Paulinho. Existem aos montes, os delegados dos patrões nos sindicatos. No caso do sindicato presidido por Anderson Luís foram desalojados, perderam a grana nossa de cada dia.

Exigir a apuração do crime? É claro. Tem que ser apurado e punidos os responsáveis. Mas isso passa pela pressão popular. Pelo movimento social. Pelas responsabilidades políticas na luta de classe que vai ficando cada dia mais aguda e presente na mesa de cada brasileiro.

Uma realidade indesmentível.

Se for deixada aos governos essa tarefa os culpados ficam impunes. Os primeiros culpados são os governos. A polícia é braço dos donos. Reprime manifestações contra governadores de governos, no caso do encontro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), quando da ocupação de BH, mata impunemente em Eldorado do Carajás.

O Rio tem sido palco de chacinas, assassinatos essa barbárie. Isso porque a governadora é como Jesus Cristo. Uma espécie de tambor que ecoa em todo o País a mostrar a violência como regra geral contra o trabalhador.

Como aos olhos do Estado Anderson Luís não é nenhum Abílio Diniz e nem diretor da Nestlé, o corpo permaneceu no local do crime até as 15 horas e o assassinato ocorreu entre sete e oito horas da manhã. Quem morreu foi um trabalhador e isso conta pouco aos olhos dos donos. Morrem todos os dias nas fábricas, nos bancos e nas fazendas do latifúndio.

Não há sentido em esperar que as ditas autoridades resolvam ou elucidem o crime. Esse tipo de prática está banalizado na ordem política, econômica e social vigente.

A solução vem das ruas e a luta de Anderson Luís é a de todos os trabalhadores brasileiros.