Os primeiros dias de 2004 sinalizaram que esse ano ficaria marcado como o ano da traição e do ceticismo. O governo dava provas mais do que claras que aprofundaria o aperto fiscal exigido pelo FMI. No movimento sindical, a CUT demonstrava todo o seu aExpressão máxima dessa nova condição da central ocorreu nos dias 5 e 6 de fevereiro. A Executiva Nacional da CUT realizou uma reunião na qual definiu seu apoio às propostas de reformas Sindical e Trabalhista que resultassem do Fórum Nacional do Trabalho (FNT). O Fórum, órgão formado por empresários, centrais e o governo, foi o responsável pela elaboração das reformas.

Essa decisão da CUT foi aprovada pela maioria de sua Executiva, que se sobrepôs à oposição encabeçada por José Maria e Vera Guasso. Diante da histórica traição da central, ganhou força o chamado ao Encontro Sindical Nacional, evento com o intuito de reunir o sindicalismo combativo do país e impulsionar a luta contra as reformas Sindical, Trabalhista e Universitária. Diversas entidades convocaram o encontro em março, em Luziânia (GO).

Começa a resistência

Ultrapassando as mais otimistas expectativas, o Encontro Nacional reuniu cerca de 1.800 ativistas, representando cerca de 269 sindicatos e federações, de 24 estados. A partir daí, os sindicalistas elaboraram um calendário de lutas e decidiram pela formação de uma Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), aberta a todos que quisessem se somar à luta contra as reformas.

O próximo desafio foi reproduzir o encontro de Luziânia nos estados, organizando a mobilização contra as reformas de acordo com a realidade de cada região. Em abril, ocorreram diversos encontros estaduais que culminaram nas mobilizações do 10 de Maio alternativo. Como a CUT realizou as comemorações do Dia do Trabalhador com shows e sorteios patrocinados por empresários, com direito até a buffet na glamourosa Casa Fasano, restava aos ativistas honestos organizarem verdadeiros atos classistas.

Estudantes também saem à luta

No movimento estudantil a traição das direções também não deixou de ser vergonhosa. Enquanto o governo Lula e o Ministério da Educação (MEC) elaboravam uma proposta de reforma Universitária que seguia as teses do Banco Mundial, a União Nacional dos Estudantes não só não a denunciou como, ao contrário, se lançou numa “caravana” nacional para defender a reforma nas universidades. Porém, comprovando a existência de um enorme espaço à esquerda da UNE, cerca de 1.500 estudantes se reuniram nos dias 29 e 30 de maio no Rio para barrar essa reforma.

O Encontro Nacional, a exemplo do que ocorreu em Luziânia, organizou a Coordenação Nacional dos Estudantes, a Conlute, que somente durante o encontro recebeu a adesão de 60 entidades de todo o país. Uma das principais deliberações do Encontro foi a de participar do grande protesto em Brasília contra as reformas, no dia 16 de junho, junto com a Conlutas.

Um marco na mobilização contra o governo

Se os protestos do 10 de maio foram a primeira atividade da Conlutas, a manifestação do dia 16 de junho ficou marcada como o dia em que a Conlutas realizou seu primeiro grande ato nacional. Superando o boicote da esquerda cutista e do P-SOL, cerca de 20 mil pessoas marcharam na capital federal para dizer “não” às reformas neoliberais de Lula.

A grande imprensa não pôde ignorar o maior ato contra o governo desde as mobilizações contra a reforma da Previdência, em 2003, e as bandeiras da Conlutas estamparam as primeiras páginas dos principais jornais do país. O ato mostrou que, por fora da CUT, existiam milhares de ativistas dispostos a lutar contra a política neoliberal de Lula.

Lutas fortalecem a Coordenação

Além de constituírem uma demonstração da necessidade de uma nova alternativa de luta, as greves que balançaram o Brasil neste ano puseram a Conlutas no cotidiano dos trabalhadores. Prova disso, foi a histórica greve nacional bancária, que teve a decisiva intervenção da Conlutas, através do apoio à Oposição Bancária.

Plebiscito: vitória apesar do boicote

Diante da disposição do governo e do MEC em acelerar a reforma Universitária, por meio da sua aprovação em “fatias”, a Conlute organizou em novembro um Plebiscito Nacional sobre o tema. Mais uma vez, o P-SOL e a esquerda petista boicotaram uma iniciativa de mobilização contra o governo, mas, apesar disso, o plebiscito foi uma tremenda vitória.

Além de coletar 56.127 mil votos em 19 estados e em mais de 100 instituições, o plebiscito fez um trabalho de conscientização sobre o perigo da reforma. O plebiscito ainda auxiliou na divulgação do ato do dia 25 de novembro em Brasília contra as reformas, oportunidade na qual as cédulas de votação foram entregues ao MEC.

Ano da traição se transformou no ano da luta

O ato em Brasília no dia 25 de novembro reuniu 15 mil pessoas e teve a decisiva participação da Conlutas e da Conlute, fechando um ano, que tinha tudo para ser marcado como o ano da traição, tanto do governo Lula como da CUT e da UNE, com a disposição de luta de milhares de ativistas.
Post author Diego Cruz, da redação (SP)
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