Em primeiro lugar, pelas consequências brutais do capitalismo. Tragédias como as enchentes na região serrana do Rio não só se repetem, mas se agravam.

As alterações climáticas, resultado das agressões continuadas das grandes empresas ao meio ambiente, chegam ao cotidiano dos trabalhadores de forma violenta. A omissão dos governos completa o quadro, penalizando as populações mais pobres, que moram em áreas de maior risco e habitações mais desprotegidas.

Nesse sentido, a música de Caetano Veloso permite um triste fundo para este início de ano: o Haiti é aqui, mais uma vez. Lá, depois de um ano do terremoto, nada foi feito. Aqui, os atingidos pelas tragédias dos anos passados permanecem sem resposta, assim que a mídia deixa de colocá-los em evidência. Hoje, no Morro do Bumba (cenário do desastre de 2010), em Niterói, os moradores estão voltando às mesmas condições de antes. Essa é a perspectiva para os atingidos no interior do Rio.

Não por acaso, se acumulam recordes macabros. O número oficial de mortos na região serrana já ultrapassou 800 e se aproxima do dobro do recorde anterior – 436 em Caraguatatuba (SP), em 1967. E pode piorar: pelos informes dos moradores das áreas atingidas, os mortos devem chegar a 1.500.

A brutalidade da exploração do capital se estende aos salários. A inevitável comparação entre o reajuste dos parlamentares e o do salário mínimo é indignante. A proposta de reajuste do mínimo nem sequer repõe as perdas da inflação. Já o aumento dos parlamentares e da presidenta é injustificável. Só se explica por um governo que está começando e acredita que pode gastar à vontade seu grande capital político.

O governo Dilma anuncia ainda a perspectiva de ataques muito mais graves. A proposta de desoneração da folha de pagamento das empresas significa redução da arrecadação da Previdência Social e ataques à aposentadoria no futuro. O projeto de flexibilização dos direitos trabalhistas está sendo feito por ninguém menos que a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – é a preparação de um ataque inédito aos trabalhadores.

O ano começa também com lutas…
Felizmente, o ano começou não só com desastres e ataques. Existem exemplos de mobilizações que podem tornar o ano mais interessante que 2010. Os maiores vêm de fora do país.

Na Tunísia, uma revolução democrática derrubou o ditador Ben Ali, que vinha se mantendo há 23 anos no poder. Os representantes do governo deposto buscam se manter no poder em meio a uma enorme crise.

As mobilizações se estendem ao Egito, de muito maior peso econômico e político na região. Ali, o ditador Mubarak tem mais de 30 anos no poder. As máscaras “democráticas” do imperialismo caem por apoiar fortemente as ditaduras da região, entre as mais antigas do mundo.

Na Europa, o ano começou com mobilizações importantes no dia 27 de janeiro na Espanha, contra os planos de austeridade do governo Zapatero, do Partido Socialista. É um indício da retomada das lutas que estiveram no centro da situação política mundial em 2010.

Um destaque especial deve ser dado ao movimento estudantil, com lutas na Inglaterra, França, Itália, Grécia e Turquia. Nas lutas dos trabalhadores contra os planos de austeridade, na defesa da educação ou por questões democráticas, existe um momento de ampliação das mobilizações estudantis em várias partes do mundo.

O Brasil vem de um importante retrocesso nas lutas, em boa parte consequência da cooptação das entidades de mais peso, como a CUT e a UNE. Isso pesou fortemente em 2010 e continua. Porém, nesse marco, temos três boas notícias. A primeira é a reunião ampla e unitária convocada por CSP-Conlutas, Cobap, CNESF, Fenasps, Intersindical e outras entidades para preparar uma luta em defesa dos direitos trabalhistas e por um reajuste digno do salário mínimo. É um bom sinal conseguir uma unidade tão ampla de setores dispostos a lutar, logo no início do governo Dilma.
A outra boa notícia vem das mobilizações contra o aumento dos transportes, com um peso estudantil importante e participação da Anel, CSP-Conlutas e outras entidades.
É positiva a existência de atos com alguns milhares de pessoas em várias capitais do país.

Mas nem tudo são flores nas lutas. Em todo o mundo, assim como no Brasil, os trabalhadores e jovens precisam se enfrentar também com as direções burocráticas, muitas vezes aliadas aos governos, como a CUT e a UNE.

O Opinião Socialista, em seu primeiro número do ano, está dedicado a mostrar as duas faces deste início de 2011. Os desastres e escândalos por um lado. As lutas pelo outro. Convidamos todos a lerem nossas páginas e se integrarem às batalhas que se iniciam.

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