O PT está comemorando 26 anos. As principais correntes do partido, incluindo a “esquerda petista”, já não falam mais em “refundar o partido”. Este foi o principal tema, o mote das eleições internas do ano passado, para buscar evitar a ruptura de muitos e muitos petistas decepcionados com os escândalos do mensalão. Agora a situação é outra, e, no melhor estilo do próprio Lula (que ao chegar ao governo, se “esqueceu” de suas promessas), todas as correntes só se preocupam com a reeleição.

A conjuntura política mudou. O acordão com a oposição burguesa (PSDB-PFL) permitiu ao governo escapar da grande crise do ano passado. O crescimento econômico possibilita uma série de investimentos eleitorais (reajuste do mínimo, extensão do Bolsa-Família). Além disso, o medo do PSDB-PFL dá ao PT um novo mote para a reeleição: “evitar a volta da direita”.

As correntes da esquerda petista, que tinham ensaiado críticas à política econômica e às alianças com PMDB, PTB e PP, baixaram o tom. Existe todo um acordo em preparação, que envolve desde o Campo Majoritário até as correntes de esquerda, para evitar um debate público que poderia “prejudicar a reeleição de Lula”.

Fica claro que não existia nenhuma intenção real de “refundar” nada. Isso era só uma manobra para ganhar tempo e escapar da crise. Está se impondo na preparação da campanha lulista o mesmo programa neoliberal, os mesmos métodos de “convencimento” dos aliados, a corrupção escancarada, a negociação pública de cargos.

Tudo isso se faz com a aceitação das correntes da esquerda petista, que tem um acordo no que é essencial com o Campo Majoritário: o fundamental é conseguir votos, seja lá como for, e ganhar as eleições. Uns e outros querem preservar seus cargos e mandatos de parlamentares.

O mais incrível é que essas correntes da esquerda petista atacam os que não se rendem aos mesmos “argumentos”, dizendo que quem não apoiar Lula “estará fazendo o jogo da direita”.

Vejamos quem faz o jogo da direita no país. Em primeiro lugar, é importante ver quem garante ao núcleo central da direita – os banqueiros e as grandes empresas multinacionais – os lucros históricos que conseguiram nos últimos três anos. A grande burguesia internacional não conseguiria tudo o que está alcançando no Brasil, sem um apoio explícito, consciente e planejado do governo petista. Não é por acaso que Bush, o mesmo que critica severamente Chávez, sustenta o governo Lula.
Em segundo lugar, a direita no país tem grandes representantes no governo Lula. Não é só de Meirelles (presidente do Banco Central), Furlan (ministro da Indústria), ou Roberto Rodrigues (Agricultura), que estamos falando, mas de Maluf, Delfim Netto e Sarney, que também fazem parte da base de apoio governista.

Em terceiro lugar, é do governo Lula a responsabilidade histórica de colocar a esquerda (reformista) aplicando a política e os métodos da direita, tanto na economia como na corrupção. A decepção e a frustração de setores amplos de trabalhadores e jovens com o governo Lula transformou-se em uma enorme confusão, igualando a esquerda e a direita na consciência de amplos setores.

Por último, mas não menos importante, a gritaria dos petistas pelo “mal menor”, por “não fazer o jogo da direita”, tem um objetivo claro: impedir o surgimento de uma alternativa de esquerda. Manter o governo de direita do PT para evitar a volta da direita do PSDB-PFL. Para o PSDB-PFL, assim como para toda a burguesia, é muito bom que a única alternativa de “esquerda” seja o PT, que defende o mesmo programa da direita. Assim, se eternizará o domínio político dos que defendem o plano econômico neoliberal e os mesmos métodos de sempre da democracia dos ricos.

O PSTU quer o novo. Propomos uma Frente Única de Esquerda, Classista e Socialista. Uma frente que se exerça nas lutas diretas dos trabalhadores e estudantes, a arena aonde vai se decidir a sorte do país. Uma frente que ajude a construir uma alternativa para a CUT e a UNE, entidades chapas-brancas a serviço do governo, construindo a Conlutas e a Conlute.

Essa frente também deverá se expressar nas eleições, apontando uma nova alternativa de esquerda. Chamamos o P-SOL de Heloísa Helena, o MST, a Consulta Popular, o PCB, a construir esta Frente de Esquerda, Classista e Socialista.

O PDT posa de oposição ao governo e também quer discutir uma “frente de esquerda”. No entanto, é um partido burguês, ligado, por exemplo no Rio Grande do Sul, a setores dos latifundiários. Dirige também a Força Sindical, entidade tão ou mais pelega que a CUT. O exemplo do desastre petista deve servir para que não se repitam os seus erros. O PT rompeu a barreira de classe, fazendo alianças no início com PDT e PSB, e deu no que deu. É fundamental que essa frente de esquerda tenha um caráter amplo, mas com um corte classista, com organizações de setores da classe trabalhadora, sem nenhum representante da burguesia.

Na semana do aniversário do PT, chamamos também os setores da esquerda petista a romperem com esse partido e virem conosco ajudar a construir essa frente.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 248
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