Depois de 110 dias, a Câmara cassou José Dirceu e Roberto Jefferson, dois símbolos da crise. Era necessário cassar os dois para salvar a instituição, para manter o Congresso corrupto.

Dirceu teve o seu mandato cassado com o voto de 293 deputados, 36 a mais do que o mínimo necessário. Prevaleceu o sentimento de sobrevivência política dos deputados e partidos e o medo das conseqüências da absolvição de Dirceu nas próximas eleições. Um deputado chegou a declarar que a absolvição significaria, em 2006, “513 bengaladas”, em referência ao ataque de um aposentado à Dirceu nos corredores do Congresso. Alberto Goldman, líder do PSDB na Câmara, afirmou que “para a Casa, seria um desastre absoluto”.

O resultado visa fortalecer o acordão e reforçar as iniciativas para pôr fim à crise. O primeiro sinal veio no dia seguinte à votação. Principal nome do PSDB envolvido no escândalo do Valerioduto, o senador Eduardo Azeredo (MG) não deverá mais ser apontado pela CPI dos Correios pelo uso de caixa dois na campanha para governador em 1998. Faz parte de um toma-lá-dá-cá entre tucanos e petistas. Na comissão, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) pretendia citar o senador Aloísio Mercadante em seu relatório parcial, por causa de dinheiro ilegal em sua campanha de 2002. Os petistas conseguiram incluir também o nome de Azeredo e, agora, um acordão garante a tranqüilidade de ambos, retirando-os dos relatórios parciais.

Azeredo é hoje a principal moeda de troca que o PT tem nas mãos. Seu nome ainda pode constar no relatório final da CPI, do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Até lá, seguem as negociações e pressões de cada lado. A Executiva do PT solicitou a abertura de processo contra Azeredo, mas não é nada para ser levado muito a sério.

Tanto é assim que, no dia seguinte, o senador petista Tião Viana discordou, publicamente, alegando que Azeredo não poderia ser cassado por um crime cometido antes de seu mandato. O PT poderia ter pedido a cassação de Azeredo há meses e não o fez.

Dos 19 nomes no Conselho de Ética, quatro renunciaram, dois foram cassados e um foi absolvido. Restam 11. PT e PSDB trabalham para que a crise seja encerrada, com o mínimo de baixas, sendo substituída pela campanha de 2006.

Mas nada garante que isso seja fácil. Além das inúmeras idas e vindas das negociações, há ainda a indignação da população. A crise fez com que a confiança do povo no Congresso e em outras instituições alcançasse um nível nunca antes tão baixo. Recente pesquisa feita pelo instituto chileno Latinobarômetro, em oito países latino-americanos, mostra o Brasil em último lugar na percepção de casos de corrupção.

Contra o acordão é necessário seguir denunciando o governo e o Congresso, fortalecendo o Fora Todos! Fora Lula, o Congresso, PT, PSDB, PFL… Contra uma saída por dentro das instituições é hora de se apoiar nas lutas e na reorganização do movimento sindical e estudantil, preparando uma grande ‘bengalada’ no governo e no Congresso corruptos.

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