A participação da Frente de Esquerda nas eleições, com a candidatura de Heloísa Helena foi de grande importância.

É necessário realizar este balanço perante a militância que participou da campanha, porque neste momento isso pode estar ofuscado pelo pequeno número de deputados eleitos pela frente. Muitos tomam apenas o número de parlamentares eleitos como o elemento fundamental para o balanço das eleições. Assim, a frente teria sido completamente derrotada, porque o PSOL,

Para nós, este é um critério equivocado. É fundamental priorizar a importância política da Frente de Esquerda como uma alternativa aos dois blocos burgueses majoritários reunidos ao redor das candidaturas de Lula e Alckmin. Foi fundamental unificar a vanguarda que fez sua experiência com o governo Lula, para apresentar uma alternativa para os trabalhadores e a juventude. Este foi o resultado mais importante, que não existiria caso houvesse uma dispersão da esquerda em diversas candidaturas, sem possibilidade de apresentar uma alternativa forte.

Por isso, nos orgulhamos dos 6,5 milhões de votos dados a Heloísa. O voto tem motivações amplas e por vezes complexas. Mas podemos em geral atribuir estes votos aos trabalhadores e jovens que rompem com o governo Lula pela esquerda, e não aceitam apoiar a direita de Alckmin. Pelos contatos que temos com a base, podemos dizer que dentre os setores organizados sindicalmente (como metalúrgicos, bancários, professores, trabalhadores dos Correios, etc.), a porcentagem de Heloísa era mais elevada que no conjunto da população.

Qual o critério do balanço?
O PSTU é um partido que tem como estratégia a revolução socialista, que só poderá chegar através de grandes mobilizações diretas das massas. As grandes mudanças neste país (como a reforma agrária e a ruptura com o imperialismo) não virão das eleições.

A grande burguesia controla e manipula as eleições, financiando a campanha de seus partidos e cobrando os “favores” depois. Isto pode ser feito com o domínio econômico da burguesia, pelo controle de TVs e jornais, com a compra direta dos votos etc.

A democracia burguesa serve para isso. Por exemplo, agora toda a bronca das massas contra os políticos e partidos foi transformada em uma pressão pelo voto útil em Lula ou Alckmin, dois representantes do mesmo projeto. Essa é uma expressão da farsa que é essa democracia. Depois será mais uma enorme frustração. Não dá para mudar este país através das eleições controladas pelo grande capital. Para mudar de verdade, só com grandes mobilizações das massas que terminem em uma revolução.

Com esta perspectiva, as eleições podem ser importantes como ponto de apoio para as lutas diretas. A eleição de parlamentares comprometidos com a luta contra as reformas trabalhista e da Previdência que o futuro governo (seja Lula ou Alckmin) vai aplicar seria muito importante. Mas o decisivo é a existência das lutas diretas, porque não será “convencendo” a maioria dos deputados que bloquearemos as reformas, e sim pressionando fortemente o Congresso com as lutas.

Por isso, para nós a não eleição de deputados é ruim, mas não é decisiva para o balanço da Frente de Esquerda. O fundamental é sua importância política para os trabalhadores.

A perspectiva reformista é oposta. O PT, assim como todos os partidos reformistas eleitorais, vive de eleição em eleição. Não tem compromisso com uma estratégia revolucionária e com as lutas diretas, e assim só resta o balanço dos deputados eleitos.

Mais ainda, os quadros destes partidos vivem dos salários dos gabinetes (deputados e assessores), dos postos do governo ou diretamente da corrupção. Dependem para sua sobrevivência do dinheiro do aparato de Estado. Por isso, colocam a eleição de seus parlamentares como uma questão de vida ou morte. Nasce daí o vale tudo nas eleições, com rebaixamento de programa e alianças com partidos burgueses. Esses partidos, por mais que se afirmem como oposição ao governo, terminam sendo parte do regime democrático-burguês.

Como temos outro critério, afirmamos que o balanço da Frente de Esquerda é positivo, por ter permitido que uma alternativa de esquerda se apresentasse, de forma unitária, entre PSOL, PSTU e PCB, contra Lula e Alckmin.

Os erros cometidos
Reivindicar a Frente de Esquerda não significa desconhecer os erros cometidos. O primeiro deles tem a ver com o programa da própria frente. A base programática acertada entre PSOL, PSTU e PCB foi definida pelo Manifesto da Frente de Esquerda, que colocava como eixos da candidatura de Heloísa Helena a ruptura com o imperialismo (expressa especialmente na suspensão do pagamento das dívidas externa e interna) e a luta contra as reformas neoliberais (em particular a trabalhista e a da Previdência).

Ainda sem assumir com clareza as posições do manifesto, a candidatura de Heloísa cresceu dos 5% iniciais para 11% e 12%. A radicalidade da imagem de Heloísa, com sua postura combativa, ainda que sem um programa claro, assegurou este crescimento no primeiro momento da campanha.

Chegou a hora então do horário eleitoral, um segundo e mais difícil período da campanha, em que teríamos de enfrentar a desigualdade nos tempos de TV. Tivemos um minuto contra sete de Lula e dez de Alckmin. Seria necessário enfrentar essa luta desigual com uma perspectiva programática clara, ao redor de alguns eixos de campanha, que pudessem ser trabalhados a nível nacional, também com o tempo de TV nos estados. Seria a hora de apresentar as definições contidas no Manifesto, da luta contra o poder dos banqueiros, da diferenciação com Lula e Alckmin, da denúncia das reformas e a defesa da ruptura com o imperialismo.

Não foi isso o que se fez. O programa de TV de Heloísa foi discutido em apenas uma reunião da coordenação da Frente, e outra coisa foi feita, bem diferente das conclusões discutidas. Os programas de TV tentaram amenizar a imagem “radical” de Heloísa com pouco ou nenhum conteúdo programático. O objetivo foi claro: tentar, com uma imagem menos “radical”, crescer nas pesquisas. Nem sequer a diferenciação clara com Lula e Alckmin existiu de fato nos programas. Só quando Alckmin mudou de tática e começou a atacar seriamente Lula os programas de Heloísa começaram também a fazê-lo.

Mais ainda, César Benjamin, candidato a vice-presidente, apresentou uma proposta de programa oposta à contida no Manifesto. O eixo de César, assumido por Heloísa, era apenas a redução da taxa de juros, deixando de lado a ruptura com o imperialismo e a luta contra as reformas. Heloísa também defendeu abertamente posições contrárias aos movimentos sociais, como, por exemplo, sua posição contra o aborto, se chocando contra os movimentos das mulheres.

No entanto, a manobra não conseguiu ampliar o peso eleitoral de Heloísa. Perante a polarização Lula x Alckmin, os índices baixaram até voltar aos 6,5%.

Uma oportunidade política muito importante foi perdida. Com uma definição programática clara, poderíamos ter feito avançar a consciência de uma parte dos trabalhadores e da juventude, ao mesmo tempo em que prepararíamos as futuras lutas contra as reformas.

Atropelos durante a campanha
Na preparação da campanha, tivemos que enfrentar uma face negativa do PSOL, como a imposição da candidatura de César Benjamin a vice-presidênte. Cabia ao PSTU essa candidatura, na figura de José Maria, liderança sindical metalúrgica e da Conlutas. A imposição de uma chapa nacional pura do PSOL (Presidência e vice) revelou uma postura hegemonista deste partido, e ameaçou a concretização da Frente. O PSTU, para garantir a existência da frente, aceitou o acordo de não ter a vice, lançando as candidaturas ao senado em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Essa postura equivocada voltou a se expressar durante a campanha. Heloísa priorizou a campanha de alguns candidatos, gravando declarações de apoio, por exemplo, a Ivan Valente (SP), Fantazzini (SP) e Babá (RJ), em detrimento dos outros candidatos da frente.

Em particular o PSTU foi afetado diretamente por esta prática equivocada, que sequer Lula teve no passado. Nós apoiamos uma candidata a presidente que não apoiava nossos candidatos a deputados e só alguns do PSOL.

Da mesma maneira, foi um equívoco a falta de apoio de Heloísa nos estados em que o PSTU tinha a candidatura da frente ao governo, como em Minas Gerais e Sergipe. Minas, por ser o segundo colégio eleitoral do país, recebia quase todas as semanas a presença de Lula e Alckmin. Heloísa por passou duas vezes no estado, e por algumas horas (sequer um dia inteiro).

No caso de Sergipe foi pior, porque Heloísa queria apoiar “também” João Fontes, candidato ao governo pelo PDT. Os militantes do PSTU e do PSOL do estado reagiram claramente a esta postura. O acordo nacional entre os partidos que deu base para a Frente de Esquerda impedia a aliança com partidos burgueses nos estados. Na única viagem de Heloísa a Sergipe, ela foi recepcionada pelos militantes do PSTU e do PSOL no aeroporto, como no resto do país. No entanto, saiu de lá com João Fontes, e suspendeu a atividade de rua acertada com antecedência, gerando uma revolta entre os militantes do PSOL e do PSTU da região.

Mais uma vez, a importância da Frente
Os problemas ocorridos durante a campanha não nos fazem duvidar do acerto na constituição da Frente de Esquerda. Ao contrário, mais do que nunca dizemos que foi um acerto poder apresentar uma alternativa eleitoral unitária. Imaginemos o que ocorreria, perante a enorme polarização ocorrida entre Lula e a Alckmin (e com apenas um minuto de TV), se a esquerda se apresentasse dividida nas eleições. Não teríamos a unidade nos setores de vanguarda que fizeram a campanha. Não teríamos uma proposta mais forte para apresentar contra Lula e Alckmin.

Estes 6,5 milhões de votos dados a Heloísa são um patrimônio político importante para o futuro do país. É inevitável que os trabalhadores façam sua experiência negativa com o futuro governo eleito. Estes setores dos trabalhadores e da juventude que votaram em Heloísa poderão estar na vanguarda das lutas contra o futuro governo.

E agora? Seguir lutando unidos
Além de ter sido um acerto político, a experiência da Frente de Esquerda foi muito importante para as direções e demais militantes dos três partidos, assim como para os ativistas independentes que se somaram à campanha. Foi possível conhecer melhor as posições, os métodos das experiências de cada um.

Agora é importante encarar uma reflexão coletiva de balanço destas eleições, assim como acertar a possibilidade de manter a unidade ao redor de lutas comuns.
A primeira delas é a posição ao redor da indicação do voto nulo no segundo turno. O PSTU propõe que exista uma reunião da coordenação da frente para discutir esta posição. Nós nos manifestamos pelo voto nulo, a única postura coerente com tudo o que dissemos durante o primeiro turno sobre Lula e Alckmin. E achamos que seria muito importante haver uma postura unitária a este respeito.

Da mesma maneira, achamos fundamental que já comecemos a preparar em comum as lutas contras as reformas trabalhista e da Previdência, já anunciadas para o futuro governo, seja Lula ou Alckmin. A Conlutas está encaminhando uma campanha nacional contra essas reformas e está sendo discutido um encontro nacional unitário no início do próximo ano com todas as forças contrárias a elas.

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