Reportagem do Opinião foi ao principal centro industrial do país conferir como os patrões estão fazendo de tudo para demitir os operáriosDesde a redução do IPI, o Programa de Demissão Voluntária (PDV) tem sido um dos expedientes preferidos dos patrões. Para convencer os trabalhadores a aderir, vale tudo.

Rodrigo conta que aceitou o programa por medo de ser demitido. “Quem me comunicou foi meu chefe, quase no final do turno, no dia 25 de junho”, diz. Como ele não aceitou, o chefe, então, obrigou-o a ficar em casa no dia seguinte para pensar: “Isto é assédio, ele estava me obrigando aceitar a decisão deles. Vieram os gerentes e diretores pressionar, a pressão foi enorme, falaram ‘ou você aceita o PDV ou às 13h você está demitido’. Aí, aceitei. Fazer o quê?”.

Ele relata a situação na fábrica: cerca de 500 estagiários e contratados foram demitidos. Agora, outros estão de molho em casa, em licença-remunerada. Apenas três setores não foram afetados segundo ele: a engenharia, a gerência e as chefias. Rodrigo conta que a Scania ameaçava demitir os funcionários afastados em licença. “Todos que estavam de férias remuneradas foram chamadas para ser pressionados ao PDV, tanto pelo sindicato quanto pela empresa”, afirma.

Sérgio, 26 anos e cinco de empresa, confirma a pressão. A primeira licença que recebeu foi de dois meses. Depois, parte de suas férias foi antecipada. Agora, teve a renovação da licença por mais um mês. A pressão, então, aumentou. A esposa Letícia é testemunha dos incansáveis telefonemas da chefia para o marido. “Eles ligam para ele a qualquer momento, em qualquer lugar”, relata.

“Eles falaram pra mim: ‘pega o PDV que aqui você não entra mais, você não é mais funcionário da Scania, você só está em casa porque a Scania tem um contrato com o governo, por causa disso’”, conta Sérgio. O contrato ao qual seu chefe se refere é o acordo do IPI.

Embora as fabricantes de veículos pesados tenham redução do imposto prorrogada para dezembro, a Scania entregou aos funcionários um ofício informando sobre um Protocolo de Entendimentos do Setor Automotivo. O documento, datado de 26 de junho e assinado pela Anfavea e pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, estabelece garantia no emprego por 90 dias, ou seja, até setembro apenas. Sérgio acredita que este tenha sido mais um motivo para muitos aderirem ao programa.

Mas foi Letícia quem tomou a iniciativa de buscar ajuda. Mandou e-mails para todos os partidos políticos, organizações e até para o prefeito de São Bernardo do Campo, o ex-sindicalista e ex-ministro do Trabalho de Lula Luiz Marinho. Procurou pessoalmente o sindicato. O Ferramenta de Luta, boletim da oposição à atual diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, foi o único que respondeu até o momento.

Direção do sindicato se omite
Os trabalhadores se sentem abandonados pelo sindicato filiado à CUT. “Não concordo com o que o sindicato vem fazendo, são parceiros das empresas”, diz um operário que preferiu não se identificar. Para ele, “o sindicato mudou para defender o governo”.

Rodrigo mostra-se indignado: “o sindicato não faz nada, ele auxilia a empresa a mandar a gente embora dizendo ‘vocês que ficaram têm sorte’, palavras do vice-diretor do sindicato”.

Já Sérgio vê uma ligação entre a entidade e a empresa: “o sindicato não toma um copo de água sem falar para a Scania que está tomando um copo de água”. Ele conta que o Ferramenta de Luta está proibido dentro da empresa.

Para onde ir?
Para estes trabalhadores, a crise não foi uma marolinha. Apesar de não haver necessidade de demitir, pois as empresas estão lucrando, muitos operários estão indo para o olho da rua. Os que ficam trabalham mais, pois têm de dar conta do trabalho dos que saíram e estão desempregados.

“Na hora que ela [empresa] precisava da gente, a gente fazia até hora-extra em sábado e domingo, ficava até 6h da manhã na fábrica, mas isso não valeu de nada”, lamenta Rodrigo.

A única saída é a união e a mobilização dos operários. Sérgio diz que os funcionários têm medo do desemprego, mas que o sindicato, se quisesse, poderia organizá-los, pois tem força. Ele arrisca uma saída: “Como o pessoal do sindicato falou pra mim, se fizer greve e a Scania ficar parada uma semana, é capaz de falir, palavras deles. Eu não sei o que impede de isso acontecer, de eles juntarem essas pessoas que estão lá dentro pra poder ajudar a gente”.

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